quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Lembrete


Sempre esqueço de deixar aqui um lembrete, sem importância alguma pra mim. Tem gente que me fala: "Naquele dia que você escreveu ‘tal coisa’, foi por causa do que tinha acontecido naquela tarde?"

Como alguém vai saber em que dia escrevi alguma coisa postada aqui, se nem eu sei?... Aliás, pra começo de conversa, nunca imagino estar escrevendo especialmente pro blog, e também não sei nem se foi pela manhã, ou à tarde, ou até de madrugada, quase dormindo, ou (quem sabe?) um pedacinho em cada período desses... Às vezes, escrevo num pedaço de papel qualquer - “na rua, na chuva, na fazenda” -, e, depois, sei lá quanto tempo passado, digito e guardo num arquivo esquecido. Também, costumo começar algum rabisco, sem finalizar o que escrevo, e guardar na gaveta do pc, pra, um dia, quem sabe, talvez, retomar a escrita, ou aproveitar o "gancho" de uma palavra, uma frase, e seguir outro descaminho. Outras vezes, digito tudo, feito vômito, e deixo 'repousando' na calmaria sem memória, até que volto a ler, reler, e ouso postar.

O que deixo registrado, neste espaço, não é “o que acontece” - pra isso, disponho dos meios convencionais de comunicação. Aqui, só acontece dentro.

Não há segredo. Nem mistério. Há vida além/aquém da vida cotidiana - vida que permanece, vida que pulsa, vida que se escreve por si só. Poderia ser amanhã, ontem, hoje. Por isso, atemporal. Aqui, só existe o espaço – sem tempo cronometrado. E não se fala mais nisso.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Na saia justa


Abomino qualquer réstia de restrição, ou limitação, proibição mesmo, ditadura maquiada, moderninha. Por isso, não gosto de pensar que nem todos têm acesso à tv a cabo, por exemplo – nem ao menos à TV Senado, ou à TV Câmara, ou à TV Assembléia, ou à Rede Brasil, ou à TV Futura, nem à TV Cultura. No Brasil, nem uma delas é canal público, tv aberta. Tá certo que, muitas vezes, assisto sessões na TV Senado, ou na TV Câmara, ou mesmo na TV Assembléia, e sinto alívio, ao pensar que a maioria dos telespectadores não está assistindo aquela ‘merda’ toda no ventilador, simplesmente por que a transmissão desses canais é paga. Eu pago – pago caro, muito mais caro ainda, por que o meu mal-estar é tão grande, diante de algumas cenas das “excelências” públicas (até no canal do STF!), que eu preferia mesmo estar assistindo alguma novela mexicana (pelo menos, seria ‘merda’ imaginada, indolor à nossa realidade). Bastaria desligar, ou trocar de canal, e depois esquecer. E pronto.
Pra salvação (será?) dos telespectadores, a tv a cabo oferece um remédio (dosagem única) que sempre funciona: o controle remoto. Quando posso, assisto “Saia Justa”, na GNT. O nome instiga, não mais que as protagonistas desse programa. Quem conduz todas as “jogadas” é a jornalista Mônica Waldvogel, seguida pela filósofa Márcia Tiburi e as atrizes Betty Lago e Maitê Proença. Imagine tudo isso junto, se você nunca assistiu. Se já viu o que eu vi, pode ficar sabendo a minha opinião agora sobre “Saia Justa”.
Mônica é funcionária global – veste a ‘camisa’, há muito tempo, e, no campo jornalístico, já ganhou coleção de troféus de credibilidade. Márcia é filósofa gaúcha – tava lá nos “pampas”, tomando chimarrão, quando foi convidada a participar de um debate, assistido por Mônica, que a chamou pro programa. Betty vem das passarelas, nacionais e internacionais, seguindo a carreira de atriz. Maitê foi “hippie”, depois atriz, começou a escrever demais, e hoje é colunista, tem obra publicada, e tá escrevendo peças de teatro.
Feitas as devidas apresentações, o que assisto, de quando em vez, é o contraste destacado entre as quatro personalidades, que, a cada semana (o programa reprisa, reprisa, reprisa a semana inteirinha), emitem opiniões sobre um determinado tema. Confesso que não consigo me deter somente no que elas falam, por que soltam muuuuuuuuuuitas “abobrinhas”. Como não como abobrinha, como não como chuchu, acabo sempre “viajando”, durante o programa. Chega ser algo feito você comprar uma passagem pra viajar uma hora (tempo do programa), dormir no trajeto, e acordar somente no fim da linha do trem, mais de cinco horas depois.
Mônica Waldvogel dá sempre o “pontapé inicial”, parecendo nem imaginar aonde vai parar a ‘bola’. Maitê Proença é aquela que sempre sabe tudo, até quando diz: “Não sei, mas, na minha opinião blá blá blá” (que não acaba nunca, por que tem de ser interrompida nas suas “delongas” longas). Betty Lago é aquela que quer saber tudo, e por isso se contrapõe. Ela pergunta, e, logo depois, parecendo compreender (o que ainda não compreendeu), já interrompe a fala da outra, seja a outra quem for. Mas é visível, a cada programa, a disputa entre ambas: Betty X Maitê (uma alfinetada aqui, uma tesourada ali).
No outro lado do sofá, estão Mônica Waldvogel, que, pra mim, representa a fatia emocional do programa, e Márcia Tiburi, a fatia racional. O bacana é que, às vezes, Mônica é emoção racional, e Márcia, razão emocional. A alquimia se torna harmoniosa, até enquanto o programa permite, já que Maitê e Betty se degladiam, quase o tempo todo, sempre por causa de picuinhas.
O que eu enxergo ali é a humanidade inteira (homens, mulheres, em todas as fases da vida): tão diferente, tão igual. Provavelmente, as quatro recebam script, mas, conforme o programa vai “rolando”, é notório que todas perdem o fio condutor inicial. Algumas retomam o fiozinho quase esquecido – na maioria das vezes, Márcia e Mônica, enquanto Betty e Maitê persistem, bravamente, na discussão sobre quem ‘pintou’ primeiro: o ovo, ou a galinha.
É assim que vejo “Saia Justa”: de pijama, cheia de preguiça, com o (abençoado) controle remoto na mão... é preciso estar preparada pra tudo... quem assiste, sabe o que digo... hehehehehehehehe

domingo, 20 de setembro de 2009

Joguinhos imortais


Enquanto as telonas e as telinhas exibem “Jogos Mortais” I, II, III, IV, V, VI (“ad infinitum”), eu fico pensando nos joguinhos imortais que nós, seres humanos, usamos e abusamos cotidianamente. Sei lá quem nos ensinou, mas aprendemos, durante a vida, muito mais a insinuarmos, na tentativa, consciente ou não, de que o outro assuma também por nós, fazendo o que esperamos dele.
Por exemplo (exemplo é uma palavrinha que não rima comigo), quando queremos aumento salarial, ou promoção no ambiente de trabalho, nos esforçamos à perfeição. Há ainda aqueles, mais exagerados, que começam servir cafezinho para o chefe, às oito da matina, e só param, depois de “baterem o ponto”, no início da noite, quando já “se mataram” em horas extras esquecidas pelo Departamento de RH. Poucos mesmo ousam chegar diretamente ao chefe (que não é “guru adivinhatório”), verbalizando o que desejam. Somente uma minoria é que marca reunião, ou aproveita um momento propício, para expor que tem trabalhado, se esforçado bastante, e considera justo e viável o reconhecimento, por parte do patrão, com aumento na folha de pagamento, ou algum cargo de ascensão.
Mas os joguinhos imortais não param por aí... Aliás, não param jamais, por que os autores dos joguinhos morrem, mas os joguinhos permanecem – imortais...
Acredite se quiser, há muitas mulheres, jovens inclusive, que estão, neste momento talvez, “se produzindo”, na esperança de receberem convite de casamento de um namorado, ou “ficante”, incauto, que não adivinha tal sonho, nem pensa em casar. Eu não compreendo essa linguagem, e até imagino que tudo isso dê muito mais trabalho do que se a criatura for direta e franca.
Se você ainda não sabe, eu sempre questiono tudo o que observo. Sei que também devo participar, ou promover, zilhões de joguinhos imortais. O que não compreendo é por que, quando temos a clareza do que queremos, não ousamos expor, manifestar. Será medo?... Mas não há medo em criar esses constantes joguinhos cansativos?... Se o medo é de receber um “não”, os joguinhos também podem nos levar, junto com a vaca, “pro brejo”. Gente, é muita perda de tempo! – estou dizendo isso pra mim também, que sou parte dessa humanidade que cultua joguinhos mais intrínsecos que os enredos cinematográficos contemporâneos.
Por questionar demais tudo isso, sempre busco ouvir pessoas a respeito. Já ouvi gente que cria esses joguinhos imortais, como também outra gente que, consciente de que está fazendo parte do joguinho, continua alimentando. O que percebi, na minha visão estrábica, é que quem cria, conscientemente, esses joguinhos sente insegurança em assumir, e conduz o outro à ação tão desejada. Quem alimenta, com consciência, os joguinhos é por que, acho, prefere ser seduzido (a), e pra isso dá toda corda (mas só corda mesmo).
Teve gente que me confessou esperar que chamassem pra se candidatar, e “deu com os burros n’água”, pois outras pessoas colocaram seus nomes à disposição, abertamente, e concorreram, na eleição. Os joguinhos imortais – é o que penso – podem atrasar a vida, pois, enquanto alguns somente se insinuam, outros dão a cartada definitiva, através da franqueza: Quero! Não quero!
Eu mesma não sou “chegada” em jogos, até por que sou péssima jogadora. Confesso que, no futebol, não torço nem pra Seleção Brasileira. Sempre digo que não presto nem pra isso: torcer por aqueles que vivem de desafios competitivos. Até assisto alguns jogos de televisão, ou playstation, mas não por causa do jogo - mais e tão-somente pela companhia. Também, não gosto de me enxergar alvo de joguinhos, e, quando percebo que estou criando ou alimentando algum (joguinho), mudo o rumo pra lugar nenhum. Às vezes, demora “pra cair a ficha”, mas cai. Quando ‘saco’ que sou eu a criar o dito joguinho imortal, fico p. da vida comigo mesma. Mais do que simplesmente baixar a cortina, pra não dar continuidade à cena, eu busco reavaliar, em mim, como posso ser franca. Tenho dificuldades, reconheço, em ser direta, objetiva, mas o caminho da franqueza me é sabido. Quando consigo suspender o joguinho, com o exercício da franqueza, me admiro pra caramba. É o que estou tentando fazer agora. (Por favor, não pense você, que eu nem imagino quem seja, que estou fazendo, aqui, algum desses joguinhos. Se você me conhece, deve saber que eu não usaria este meu “chão” pra enviar “torpedo” a uma pessoa – seria exclusividade demais, e eu não faria isso por aqui. Neste espaço, eu paro pra pensar, repensar, ‘despensar’. Só “viagem” – mesmo.)
Admito que faço parte deste filme: joguinhos imortais. Às vezes, protagonista; outras, coadjuvante. Sei também que os joguinhos não vão acabar, até por que servem de instrumento a todos nós, que, numa circunstância inesperada, nos sentimos inseguros, com medo. Queremos ascender, do jeito que for, mas não queremos assumir o risco – o outro representa a aprovação (externa) que desejamos. Que o outro arrisque, ouse, tome a iniciativa, trazendo nossa medalhinha de “honra ao mérito”.
Não foi à toa que o ser humano criou aquela figura instigante: o labirinto... né?...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Conversa fora




Tô sempre jogando conversa fora, senão com alguém, ou ‘alguéns’, sozinha – converso bastante comigo mesma (mais até do que com os outros), e chego a grandes debates. Desta vez, resolvi mudar, e não ‘surdar’. Ao invés de jogar conversa fora, decidi catar conversa fora. Fiquei mais atenta, obviamente, em relação ao que acontece fora, sem a minha participação. Gostei do que vi, ouvi, testemunhei, e, se não tivesse visto, ouvido, testemunhado, não veria mais, nem ouviria mais, ou testemunharia mais, nem menos. Foram cenas inusitadas, cenas que seriam improvisadas num palco, e não poderiam mais ser repetidas. Valeu a pena.

Em vez de você jogar conversa fora, prestenção nas conversas aqui de dentro:

“- Esse meu amigo passou uns dez dias fazendo curso pra canário...
- Curso de canto?
- Não. Ficou preso mesmo, uns dez dias, né amigo?...”
putzzzzzzzzz

“- Seu computador não tem mais conserto. Eu avisei à senhora para não abrir emails de desconhecidos...
- Ah, mas o cartão era tão bonitinho, e me chamava de amor!...”
putzzzzzzzzz

“(pelo celular:)
- A febre do moleque baixou?... Semana que vem ele ainda vai tá no hospital?... É quando vou poder dar uma passadinha lá, pra ver o filhão...”
putzzzzzzzzz

“- Entra aí, nessa loja mesmo, pra ele não te ver...
- Tá, mas não empurra... não empurra... pera...
(kataploftttttttttttttttttttttttt duplo)”
putzzzzzzzzz

“(caixa de supermercado) - Se eu fosse a senhora, não comprava esses tomates!
- Por que não?
- Eu não gosto de tomates!
- Mas eu gosto!
- É a sua última chance: posso retirar os tomates do caixa e das suas compras?...
- !!!!!!”
putzzzzzzzzz

“- Esse é o encontro das mulheres, né?
- Sim.
- Quem é o único homem, aquele moreno bonitão, encostado na porta?
- É o marido da palestrante convidada.”
putzzzzzzzzz

“- Que pássaro lindo e imponente!... De qual espécie é?...
- Aquele lá no alto?... É urubu mesmo!...”
putzzzzzzzzz

“- Não adianta, gente, o secretário não está na Secretaria.
- Ah, pega o megafone aí, vai pro meio da rua, pra ver se ele não aparece rapidinho...
(no megafone:)
- Secretário, há quanto tempo!!!...”
putzzzzzzzzz

“- Acabei de experimentar um novo medicamento, que não me fez bem.
- Precisa de alguma coisa?...
- De um outro medicamento que me faça bem...”
putzzzzzzzzz

“- O que me enlouquece não é ela ser louca, mas sim, ela enlouquecer todo mundo. É isso que me deixa louco. É uma loucura, você nem imagina!...
- Não mesmo...”
putzzzzzzzzz

“- É muita mulher pro meu caminhãozinho! Nossa!...
- Que cara de ‘merda’!... Você acha que me produzo inteirinha, pra ficar ouvindo essa coisa mais pobre?... vai estudar, ou fica sem mulher nenhuma...”
putzzzzzzzzz

“- Chá, ou café?...
- Café, por favor.
...
- Aqui, é casa de chá mesmo, hein?... Até o café vira chafé...”
putzzzzzzzzz


Agora chega. É a tua vez de observar conversa fora. Abra a janela... Boa paisagem!...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O machismo das mulheres


Nada mais repugnante que uma mulher machista. Pior que isso, só mesmo muuuuuuuuuuuuuuuuuitas mulheres machistas, juntas. Aliás, acho mesmo que qualquer exagero, excesso, sempre cai mal, seja no machismo, quanto no feminismo, ou em qualquer outro ‘ismo’. Humilhar gênero, categoria profissional, ou seja lá o que ou quem for, sempre é coisa de gente besta, que parou num tempo, que, talvez, nem tenha existido.
Duvido que você, aonde estiver, também não conviva com alguma machista de saia. Cá entre nós, a situação é meio estranha, né não?... Eu sempre estou a observar, de soslaio, alguma machista, que jura, de pés e mãos juntos, que não é contra as mulheres. E ainda justifica: “as mulheres é que são incompetentes, burras, fofoqueiras”. Inimagináveis adjetivos fluem, deslizam tão naturalmente, em tom de segredo, que eu chego a questionar: Como será que ela convive com o próprio sexo, já que também é uma mulher – ou não?... E, quanto a mim, será que ela pensa que sou homem (ou gay)?...
Confesso que não sou muito “chegada” nessas coisas de “grupinhos” – até gosto de alguns, mas são tão raros, que os prazerosos encontros fazem com que eu esqueça que faço parte de um “grupinho” desses. Nunca me filiei a partido político algum – nem pretendo, nas próximas encarnações também. Grupo, pra mim, pressupõe exclusão de outros, e, na maioria das vezes, eu prefiro os outros, que são mais, são muitos, e não cabem num “grupinho”. Tô escrevendo isso, pra dizer que sei de grupos feministas e machistas, que têm até regimento, etc e tal. A coisa é, senão legal, legalizada.
Tive a oportunidade de conhecer algumas mulheres que “mergulharam” de tal forma no feminismo de Betty Freeman, que deixaram de ser femininas. Talvez, foi aí que o movimento dividiu-se: Movimento Feminista e Movimento Feminino. Pelo que sei, o Movimento Feminista é aquele que (ainda) manda a mulher pro tatame, pra lutar, de igual pra igual, contra o homem. O Movimento Feminino continua, acho (e espero!), defendendo direitos iguais às mulheres, em todos os setores da sociedade.
Não compreendo bem esse ‘jogo’, por não me ver participante dele. Como ser humano, ser social (nem tão sociável), acho que o que conta mesmo é o que a criatura, independente de ser homem, mulher, ou gay, faz. Não tenho pré-conceitos, nem ‘pós-conceitos’ em relação a gays, homens, ou mulheres. O que sempre ouço é uma série de frases machistas, mais de mulheres, inclusive, que de homens. São elas que dizem: “aquela ali não vale nada”, “só podia mesmo ser mulher no volante”, “não precisa ser mulher na presidência”, “essa mulher é uma vergonha”, etc e tal (espaço à tua imaginação). Enquanto os homens fazem piadas, e se divertem com elas, as mulheres – é o que presencio – se degladiam, a todo instante. Lamentavelmente.
Quer mais?... Hoje, já estamos ultrapassando a metade dos votos eleitorais, no Brasil. E a maioria dos votos continua sendo para os homens – seja no município, ou no estado, até na esfera federal. E não é por que não existam candidatAs (é lei até que elas se candidatem). Dizem que Marina Silva e Dilma Roussef estão chegando à candidatura à presidência da República, e que Heloísa Helena também está ‘doidinha’ pra entrar nessa ‘briga’. Só quero ver no que vai dar. Na minha opinião, deveriam convidar algum juiz de luta livre, pra controlar os ‘ânimos’, nos prováveis debates.
Gente, aonde foi parar o discurso feminino, por igualdade, por direitos às mulheres, sem precisarmos assassinar os pobres homens, já amedrontados com tudo o que vivem hoje?... Não faz tanto tempo assim, eram só eles, os machões, os machistas, os “donos da bola”. Hoje, em muitas famílias, as mulheres são aprovadas em concursos (salário altíssimo), enquanto os homens ficam em casa, cuidando dos filhos, preparando as refeições, lavando e passando roupas, correndo atrás de faxineira (pra faxina mesmo). Acho bacana tudo isso, desde que – é o que penso – haja harmonia familiar. Muitas dessas mulheres de ‘sucesso’ já me confessaram que suas maiores adversárias, no mercado cada vez mais competitivo, são as mulheres, não os homens. Algumas até me fazem lembrar Margaret Thatcher (alguém consegue esquecer a “dama de ferro” que dominou tanto tempo?), como se precisassem ser “muito machos”, pra ocuparem altos cargos. Que baboseira!... Pra essas, definitivamente, nem uma mulher presta. E eu trato de me afastar, antes que recuperem o juízo (se algum dia tiveram), e lembrem que também sou mulher...
Há mulheres que não valem nada?... Claro, como também existem homens que não valem nada, e gays que não valem nada. Mas aposto que o não valer nada não decorre do fato de serem mulheres, homens, ou gays. O valer, ou não valer, pra mim, está além, ou aquém, do gênero (personalidade e caráter não têm sexo).
Resumindo essa ‘merda’ toda, machismo é ruim, tanto na manifestação dos homens, ou das mulheres. Feminismo é ruim, se exclui a participação masculina. Acho que dá pra equilibrar os gêneros e os gênios. Não sou Pitágoras (nem íntima dele), mas penso que uma boa matemática resolve tudo.
Sou mulher. Não sou machista, nem feminista – talvez, sonhadora que acredita na soma, na convivência de amor e respeito, na harmonia. Independente de “gênero, número, ou grau”... hehehehehehehehehe

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Os segredos de Beethoven


Antes de tudo e antes de mais nada, quero dizer que, em mim, em minh’alma, a música de Beethoven causa emoção indizível – mais ainda, quando dissonante, por que imprevisível, imprevista. “Com certeza”, como diria a jornalista Leda Nagle, que hoje fatura com a venda de um livro com este título (“Com certeza”), Ludwig van Beethoven é o grande mestre da música clássica – senão o maior, um dos.
O que vou relatar aqui não é fofoca, não. Aliás, não sou de fofocas, mas respeito sempre a função dos fofoqueiros de plantão, que a mim, particularmente, são úteis e prestimosos, sem nunca me decepcionarem, quando preciso que uma notícia seja espalhada fora dos meios “oficiais” de comunicação, em tempo recorde. O efeito da fofoca é sempre maior, como também a abrangência. Inimaginável.
Há pouco, acabei de ler o livro “Beethoven”, de Edmund Morris. O cara pesquisou, durante cinquenta anos (meio século!) sobre a vida do músico, e dá “de bandeja” pra gente, tudo o que nem Beethoven teve tempo pra pensar dele mesmo. São todos os segredos de Beethoven descobertos, revelados, impressos, publicados e divulgados por quase todo o planeta (me disseram que o livro ainda não chegou aos esquimós, que aguardam desesperados).
Pra preparar o teu espírito, às revelações que seguem, vou te contar que sempre senti Beethoven soturno, melancólico – através de suas músicas, obviamente, por que, como você, também eu não vivi o tempo dele, nem o conheci. O que Edmund Morris revela - desmitica – é que Beethoven não era um cara soturno, melancólico. Era alguém de mal com a vida, isso sim, e, quando chorava (se chorava), era de raiva mesmo. Tudo isso, depois que ficou surdinho, surdinho.
Antes de não ouvir mais nada, Beethoven, segundo Morris (é apenas relato do livro, não é fofoca), era mulherengo, garanhão, vaidoso, orgulhoso, egoísta, interesseiro, caprichoso, genioso, e ainda “passava a perna” em muitas “majestades” da época, pedindo dinheiro, e prometendo, em troca, escrever músicas, as quais nunca eram escritas. Ficavam só na promessa. Além do mais, Beethoven alimentava uma rivalidade imensa em relação aos irmãos dele. Em tudo o que foi pesquisado pelo autor do livro, Beethoven exibia-se como um verdadeiro “deus” – paixão e ira. Talvez, o que nunca tenha mudado, na vida de Beethoven (antes e depois da surdez), foi o tratamento que ele dispensava aos criados: pedantismo e humilhação.
Quem sabe, como eu, você também tenha assistido “Minha Amada Imortal” e/ou “O Segredo de Beethoven”. Os filmes são bons, ainda que não revelem qualquer fato verídico sobre a vida do grande mestre. Em “Minha Amada Imortal”, o cineasta “viajou na maionese”, por que foi atrás de documentos fraudados por um velho assistente de Beethoven, que inventou uma estorinha sobre provável envolvimento amoroso do músico com a esposa de um dos irmãos dele (Beethoven). O único envolvimento que houve entre ambos, conforme o livro que acabei de ler, foi a briga pela tutela do sobrinho de Beethoven (Karl), filho da cunhada viúva, depois da morte do irmão dele (Beethoven). A verdadeira “amada imortal”, revela Edmund Morris, foi a única mulher que Beethoven tentou seduzir, mas não conseguiu. Inclusive, o autor do livro reproduz trechos de cartas de Beethoven, aonde o próprio mestre confessa que chegou pedir a “amada imortal” em casamento, mas ela desanimou-lhe, dizendo que queria continuar “livre, leve e solta”. Talvez, por isso mesmo, tenha recebido o título de “minha amada imortal”, por Beethoven: ele não viveu com ela o grande amor que sonhava, por isso imortal... Vai saber, né?...
O filme “O Segredo de Beethoven” não traz coisa alguma, nem tem enredo, detendo-se apenas na figura enlouquecida do músico surdo, acompanhado pela (imaginada) copista, que seria sua assistente, contratada para passar a limpo as partituras das músicas de Beethoven. No livro, Morris não faz qualquer referência à copista, tanto é que cita sempre a companhia de algum assistente (sexo masculino) com Beethoven.
A intenção não foi fofocar, mas acho valoroso a gente conhecer (não é bem o termo) os nossos mitos. Uma coisa é sentir as músicas que Ludwig van Beethoven compôs (a preço de inimagináveis “florins” da época). Outra coisa é querer saber a vida da alma conturbada do grande mestre da música clássica. O que Edmund Morris prova, com o livro, resultado de tanta pesquisa, é que Beethoven podia se achar, mas não era “deus”. Pelo contrário. Nasceu e morreu perdido - tão humano, quanto eu, quanto você. Mas nos restaram as composições dele - apaixonadas e apaixonantes, enlouquecidas e enlouquecedoras...

Pra ‘fechar’, cito o próprio livro:
“A frase em latim ‘Plaudite, amici, comoedia finita est’, dita por Beethoven, citava o antigo slogan de muitas peças latinas: ‘Aplaudam, amigos, a comédia acabou’.”

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A “pisada na bola” do momento


Acompanhei, pela mídia, a ‘gafe’ da cantora Vanusa, quando, parecendo disco vinil em rotação alterada, ‘arrastava’ um ‘quase-hino’ nacional, enquanto os promotores do evento tentavam fazê-la calar, “agradecendo à cantora”. Isso tudo, ao vivo, na Assembléia Legislativa de São Paulo. Como tantos outros, também eu pensei, no ato: ela só pode tá ‘chapada’, por que não há estado de embriaguez que chegue a esse ponto. Confesso que senti pena – pena foi o único sentimento que tive em relação ao ‘desastre’ de Vanusa. Eu não queria comentar o fato, mas acabei me envolvendo, por que, em quase todas as ‘rodas’, ainda se fala sobre isso, infelizmente, enquanto tantos outros assuntos (mais importantes que esse, que só interessa à Vanusa) são esquecidos, desapercebidamente.
Depois, vieram as consequências do fato, que, obviamente, tornaram-se piadas nacionais. Vanusa “pisou na bola”, “derrapou na contramão”, “enfiou o pé na jaca”, “deslizou na maionese”, “escorregou no catchup”, “sefu” (como diz um amigo meu), fez ‘merda’ mesmo. Não tem jeito. E justamente com o hino nacional. O povo “caiu em cima”, e com tudo, claro, não podia perder essa. Caetano escorregar do palco, e cair, não dá tanta manchete (no máximo, um comentariozinho discreto, aqui e acolá), por que Caetano não permite. “Caê” é “Caê” – ele pode tudo.
Mas Vanusa vacilou demais. Ela discutiu com o filho, o que causou-lhe, provavelmente, mais uma crise de labirintite. Como tinha o compromisso, no evento da Assembléia Legislativa/SP, decidiu, por conta própria, tomar dois comprimidos de Vertix (quem tem labirintite pode traduzir isso), e outro de Neosaldina. Querem mais?... Só podia mesmo dar no que deu. Vanusa ‘enroscou’ no hino nacional, ‘trocou as bolas’ da letra e da melodia, quando poderia simplesmente ter justificado a ausência, por questão de saúde. Mas não. Vanusa parece ser mulher de assumir sempre seus compromissos. Parece mesmo ser perfeccionista, em tudo. Danou-se, mais ainda, por isso. “Meus pêsames”!
Inclusive, no dia 22 de setembro, Vanusa completa 62 anos de idade. Será que ninguém pode dar um desconto, por isso?... São mais de 40 anos de carreira. Lembram de “Manhãs de Setembro”?... Pois é, Vanusa canta essa música, desde 1973. Ela tinha 26 anos, quando lançou o que seria um dos maiores sucessos da carreira dela. Em recente programa de televisão, durante entrevista, para defender-se (será que precisava?) das piadas, Vanusa cantou “Manhãs de Setembro”, ao vivo, e também errou a letra. De entrada, ela já emendou tudo. Começou com: “Fui eu que se fechou no muro, e se guardou lá fora”. Logo depois, já seguiu para: “Fui eu que conseguiu ficar e ir embora”. Alguém viu?... Alguém fez piadinha sem graça, por causa disso?... Ah, mas não foi com o hino nacional! Grande coisa! Errou igual! Muitos cantores, até Milton Nascimento, admitem “tropeçar” nas tantas letras de músicas, que todo mundo canta com a maior facilidade, em qualquer lugar.
Aliás, quem sabe o hino nacional de cor, e canta num só fôlego?... Eu não arriscaria, pois sei que, mesmo sem o efeito de dois Vertix e um de Neosaldina, eu faria ‘merda’ no hino nacional. Isso não é música somente de artista – qualquer cidadão brasileiro deveria saber. Mas não sabemos. O que sabemos mesmo é fazer piadas (dos outros, claro, nunca de nós mesmos) – e como somos criativos, mais ainda, quando não enxergamos a “linha tênue” do respeito, e atropelamos tudo e todos.
Quanto à Vanusa, continuará cantando, certamente. Em muitos shows – se prepare! -, haverá ainda algum “palhaço” bom de memória, que pedirá pra ela cantar o hino nacional. Eis o grande desafio da cantora: “levar na esportiva”, e deixar um pouco de lado, a vaidade, o orgulho e o perfeccionismo. A lição pode ser pra todos nós, que também distorcemos a letra e a melodia da vida que segue, quase sempre, com falta de harmonia...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A ‘droga’ da interpretação


Tudo o que supomos enxergar é interpretação nossa. Aliás, ato solitário esse, pois não há interpretação igualzinha entre duas, ou mais, pessoas. Grande novidade, né?... Estou até me sentindo Pedro Álvares Cabral, depois dessa – as terras e os povos, por aqui, sempre existiram, e ele achando, na maior empáfia, que havia descoberto alguma coisa. Os índios devem ter rido muito da cara de espanto do “portuga”. hehehehehehehehe

Agora, falando sério, toda interpretação (boa ou ruim) é uma ‘droga’. E tudo o que fazemos, ou deixamos de fazer, tá justamente embasado no que interpretamos, por que nada é – tudo está, de acordo com a visão de cada um. Gente, é uma experiência e tanto, quando podemos ouvir comentários de visitantes, numa galeria, durante exposição de quadros (vernissage é coisa chique). É um tal de cada um enxergar um ‘bicho diferente’ nas pinturas, que, na maioria das vezes, o autor (réu), ou autora (ré), se ainda vive, e está “na área”, sai correndo. Lembro de uma ocasião dessas, quando assisti um garoto (não mais que dez anos) fazer um breve comentário de uma reprodução de Picasso: “Eu já fiz desenho melhor que este, tá lá em casa”.

Eu interpreto
Tu interpretas
Ele interpreta
Nós interpretamos
Vós interpretais
Eles interpretam

E não adianta. Não fugimos disso. Por que faz parte da humanidade, tanto quanto nós, os atores desta grande ‘peça’.

A verdade é que o mesmo fato, ou pessoa, está ali, diante de nós, e cada um interpreta de um jeito diferente. Mas, talvez, a interpretação mais difícil, por que intrínseca, seja justamente aquela em relação a nós mesmos. Se a auto-crítica for ‘pesada’, pior ainda. Interpretamos nossos gestos, nossas atitudes, nossas palavras e nossos silêncios, com a lâmina da guilhotina mais afiada, e nem uma outra interpretação será pior que essa que carregamos n’alma.

Às vezes, somos generosos conosco mesmos, e nos interpretamos com condescendência (palavrão horrível!). Somos, neste caso, réus, juízes, e, ao mesmo tempo, nossos advogados de defesa ganhando uma causa – talvez, a maior das nossas vidas. O que precisamos buscar sempre, acho, é fazermos cada vez mais gols a nosso favor do que contra. Afinal, é a partir das nossas interpretações que conduzimos a vida. Não me refiro a defendermos, “com unhas e dentes”, o nosso pior – aquelas atitudes que machucam nós mesmos e os outros. Se erramos, não podemos nos condenar por isso, nos enxergando, a partir daí, como “da pior espécie” – deixemos que os outros nos interpretem assim. Até por que, se erramos, também podemos acertar. Se não dá pra consertarmos, fiquemos mais atentos, pra não cometermos os mesmos erros. Eu sempre repito que há uma diversidade inimaginável de erros a serem cometidos. Por isso, não precisamos repeti-los.

Brincadeiras à parte, o que vale mesmo é buscarmos sempre o “terceiro olho” da interpretação. Não tem nada filosófico nisso. A coisa funciona na prática. Pra mim, o primeiro olho é o que você enxerga sem pensar a respeito (a cena - “nua e crua”). O segundo olho é o que você ouve dos outros a respeito, e o que pensa, a partir disso. O “terceiro olho” é a tua consciência (vivência), depois de todo processo consumado – contabilizados os prós e os contras (ou “os pós e as contas”, como diz um amigo meu).
Sei que, se você me leu até aqui, está, senão interpretando a “minha pessoa” (persona = máscara), interpretando o que escrevi. Não importa. Eu me interpretei antes, e também interpretei o que escrevi. E se mais de uma criatura ler essa ‘merda’ toda aqui registrada, serão ‘N’ interpretações, cada uma com enfoque diferente. Eu ainda prefiro ficar com a minha interpretação, que não é sequer indício de verdade absoluta alguma, por que preciso seguir adiante, tanto quanto você...