sexta-feira, 16 de outubro de 2009

No meu lugar



Definitivamente, a vida não nos dá condições de troca de lugar com ninguém, a não ser em algum cargo, ou encargo, em atividade de trabalho, ou estudo, e nas filas, nas poltronas, ou em qualquer outro espaço físico. Claro, tem muita gente que ocupa mais que um lugar, seja na escola, no trabalho, na praça, ou em qualquer espaço notório, por que notório também é o seu tamanho, sua circunferência (brincadeirinha... hehehehehehehe). De resto, cada criatura humana é única, como também é único o seu lugar, tanto nas escolhas que faz, ou até mesmo quando escolhe não escolher. E, claro, assume, sozinha, isso tudo, mesmo quando escuta frases semelhantes a “vai firme”. Vai, nem sempre firme, e, na maioria das vezes, sem saber pra onde. Mas vai.
Até parece que já nascemos com uma identidade personalizada (talvez, na alma) – imperdível, intransferível. Se ousamos dizer “me coloco no teu lugar”, estamos ousando mesmo, pois jamais estaremos em outro lugar, senão no nosso, mesmo que neguemos, por toda vida, esse lugar.
É característica humana, e desumana também, suponho, querer sempre estar no “lugar do outro”. Assim acontece com o fã que quer estar no lugar do ídolo, o empregado no lugar do patrão, o aluno no lugar do professor, quando não a esposa dona-de-casa no lugar do marido, que trabalha fora - e por aí segue a cantilena. Talvez, por que estamos sempre insatisfeitos conosco mesmos. Na nossa visão estrábica, imaginamos que o “lugar do outro” é mais confortável, seguro. Doce ilusão.
Mas nem adianta tentarmos nos colocar em outro lugar, senão no nosso, pois não encaixaríamos lá (no outro lugar). Sempre iria sobrar/faltar alguma coisa, ou seja, justamente a vida da gente, a personalidade da gente (força e fraqueza), com tudo o que a gente tem direito, com o que a gente fez e deixou de fazer da própria vida.
Vida aparente não denuncia a vida de alma. Como agimos, reagimos, até mesmo as opiniões que emitimos, seja a respeito do que for, tudo o que manifestamos, enfim, não significa mais que um instante de vida breve, que pode ser completamente desfeito no outro instante, a partir de uma manifestação contrária, e muito nossa. É assim que ‘funciona’ a imagem de cada um de nós: somos adorados por quem concorda conosco, e quer que permaneçamos como aparentamos ser. Tanto é verdade, que, quando mudamos nossas atitudes, nossas idéias manifestas, somos ignorados, repudiados, odiados até.
Sempre repito que pouco ou nada sei de humanidade. Mas penso. E o que penso agora é que, se cada qual se colocasse no próprio lugar, haveria mais espaço pra todo mundo caminhar, aprender, evoluir, viver enfim. O lugar da gente pode ser, sim, confortável, seguro, se a gente trabalhar pra isso. Pra mim, “murro em ponta de faca” até parece ser legal, em filmes. Na real, não há ensaios, nem regravações, muito menos efeitos especiais.
Eu faria melhor que você, no teu lugar?... Você faria melhor que eu, no meu lugar?... Não sei. Se eu fosse você, e se você, consequentemente, fosse eu, você faria a tua caminhada (que seria a minha, por que você seria eu, em tudo), e eu faria a minha caminhada (que seria a tua, por que eu seria você, em tudo), e acabaríamos cada qual no mesmo lugar: no meu lugar, no teu lugar. Melhor ou pior, este é o meu lugar, este é o teu lugar – e nada muda. Tudo é feito como parece que pode ser feito – do meu, ou do teu jeito, é feito. E parece que assim é pra ser. Talvez, se você estivesse no meu lugar, e eu no teu lugar, apesar dessa mudança toda (mais aparente), cada lugar continuaria o mesmo: intransferível. E acabaria sendo do jeito que já é, ou está. Você, no meu lugar, seria tão idiota como já é; eu, no teu lugar, seria tão babaca quanto já sou...
Em tempo: Não pense que “o lugar no mundo” do teu vizinho tem uma paisagem maravilhosa, mesmo que ele aparente isso (é momentâneo). O trem segue os trilhos, e as paisagens mudam, pois a viagem é longa, e não se sabe qual será a última estação de cada um. Teu lugar, ou meu lugar – é apenas um lugar (a mais, a menos). O que você faz, o que eu faço, neste lugar, é que faz a diferença. O resto é joguinho de palavras.
Exatamente no meu lugar (ocupo espaço mínimo, sou pequenininha), eu fico por aqui.

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