quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Desmitificando Clarice Lispector – O “meio do caminho”


Dos estudiosos todos da escrita clariceana, ninguém escreveu, e ainda escreve, até hoje, tão apaixonadamente como a professora de literatura brasileira Nádia Battella Gotlib, da Universidade de São Paulo (USP). Nádia, inclusive, foi a primeira a ousar ir atrás das correspondências de Clarice Lispector, guardadas pela família e por amigos da escritora. Tenho de registrar aqui minha observação, quanto ao método de pesquisa da professora Nádia. Também ela alimentou o “monstro sagrado”, usando de parcialidade, inclusive, na divulgação do teor das referidas cartas. Se o fez, para preservar a imagem da “hermética” Clarice, ou para manter viva a própria imagem que construiu da escritora, não importa. Nádia Gotlib foi e continua sendo parcial – em nome da sensatez, ou da emoção, ou por ambos os motivos, ou por outro motivo qualquer de foro íntimo.
Convivo com algumas (raras) pessoas que já leram Clarice, e outras que começaram a ler, depois de me ouvirem falar a respeito dela. O que percebo, em todos os comentários, é que, até hoje, a imagem da escritora, a partir da obra dela, paira entre a melancolia e a desesperança, beirando à loucura.
Acredite se quiser, Clarice era impaciente, e, também por isso, costumava “furar filas”, na maior “cara-de-pau” mesmo, em cinemas, agências bancárias, ou aonde quer que fosse. Quando retornou definitivamente ao Brasil, ela mesma tomava a iniciativa de recorrer a hospitais, pedindo para ser internada. Vivia à base de tranquilizantes, os quais, certamente, não lhe tranquilizavam a alma. Relendo, tantas vezes, a obra dela, percebo que não é simplesmente a escrita de Clarice Lispector, confusa. A própria visão dela (cada ser humano tem a sua, particular) aparentava uma certa confusão (mental?), no momento em que ela narrava, longe das anotações 'descosturadas', para, talvez, um outro livro. Tanto, que era hábito dela manifestar frases, repetidamente, como: “não entendo”, “não sei”, “não tenho certeza, mas acho”, “não observei”. O mundo, a vida aconteciam dentro e fora de Clarice, mas ela parecia não tomar conhecimento, ou, então, chocava-se com o que não lhe fazia bem, e refugiava-se no universo que só ela conheceu: a própria alma, 'embriagada' de sonhos. Por outro lado, não demonstrava irresponsabilidade com os compromissos de casa: primeiro, a organização de almoços e jantares diplomáticos, ao lado do marido. Com o nascimento dos filhos, sentiu-se insegura para cuidar deles sozinha, já que o marido (diplomata) viajava bastante. Apesar do “aperto” financeiro, o casal pagava “nurse” (enfermeira) para cuidar de Pedro e Paulo, inclusive educando-os.
Clarice nunca aprendeu a cozinhar, e, por isso, passou a vida inteira procurando uma “cozinheira de mão cheia”, como contava às irmãs, nas correspondências. Também, pouco envolveu-se na “criação” (educação) dos dois filhos. De alguma forma, tudo lhe parecia (ela quem demonstrava) estranho. O mundo diplomático pesava-lhe nos ombros da alma, e ela queixava-se, nas cartas: “tenho falado demais, dito mentiras, tenho sido muito gentil”. E ainda justificava às irmãs que precisava sorrir, mentir, “para não estragar o programa de Maury”.
Mais tarde, em meio a tantas dificuldades, principalmente financeiras, as quais teve de enfrentar sozinha (separada de Maury), com os filhos, no Rio de Janeiro, Clarice Lispector vivia em contradições, e cobrava dela mesma, atitudes mais energéticas e decisivas, como relatam suas cartas às irmãs confidentes. Sozinha com os filhos, provavelmente, sentiu-se mais ela mesma, anotando, inclusive, diálogos entre eles, e escrevendo estórias infantis, o que, depois, acabou virando livro, e livros.
Pedro, o filho mais velho da escritora, morreu com esquizofrenia, tendo sido internado, diversas vezes, em sanatórios. Paulo, o outro filho, mais novo, está vivo, com 56 anos, e, pelo visto, como economista que é, tem faturado bastante em cima do nome da mãe dele.
Em 2004, Paulo Gurgel Valente recebeu 40 mil dólares de uma empresa que veiculou, num comercial muito bem produzido, o poema “Mude”, que, para os empresários, era de autoria de Clarice Lispector. Paulo, o filho, não negou a autoria, e embolsou os dólares. A verdade é que “Mude” foi escrito por Edson Marques, e não por Clarice. Diante do contrato comercial, para o qual não foi convidado, o autor recorreu à justiça, com provas incontestáveis quanto à verdadeira autoria de “Mude” (registro na Biblioteca Nacional, depoimentos fidedignos, etc e tal – confirme no blog: http://desafiat.blogspot.com/). Só que o processo continua “rolando” na justiça, enquanto Paulo Gurgel Valente parece nem pensar em devolver os 40 mil dólares. Por aí, se pode ter uma idéia do que Clarice Lispector continua rendendo ao único filho vivo. Filho, aliás, que, de tempos em tempos, quando menos se espera, parece remexer nas gavetas da mãe dele, e lançar mais uma obra de Clarice Lispector. Ele sabe que, um dia, não haverá mais sequer um pedaço de papel que já não tenha sido publicado. Talvez, depois desse dia, haverá pedaços de tecido à venda, pelas livrarias, numa embalagem com a devida “bula”: “aqui jaz um pedaço de tecido que pertenceu às roupas de Clarice Lispector” (como se Paulo ainda precisasse de idéias de marketing!).
Sobre isso ainda, acredite se quiser, na década de 70, numa das cartas à “amiguinha” Andréa Azulay, de nove anos, Clarice escreveu:
“Querida Andréa,
você quer me explicar o que quer dizer um sonho que tive hoje de noite? Ontem fui dormir tão cansada, mas tão cansada, que fiquei com medo de cair na rua. Dormi de oito e meia da noite até quatro e meia da manhã. Acordei com um pesadelo terrível: sonhei que ia para fora do Brasil (vou mesmo em agosto) e quando voltava ficava sabendo que muita gente tinha escrito coisas e assinava embaixo o meu nome. Eu reclamava, dizia que não era eu, e ninguém acreditava, e riam de mim. Aí não aguentei e acordei. Eu estava tão nervosa e elétrica e cansada que quebrei um copo.” - do livro “Correspondências” - Organização de Teresa Montero.

… Premonição, Clarice?...

26 comentários:

  1. Clarice foi genial, se equipara a Kafka. Quem leu pelo menos 3 obras dela, três vezes cada tende a pensar assim.. e sabia que não era dela o poema "Mude", que apesar de belo, não tem seu estilo.

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  2. Quanto mais leio e ouço sobre Clarice, mais claro fica para mim que ela tinha sindrome de asperger, uma forma leve de autismo.

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    1. totalmente de acordo

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    2. Vocês são médicos psiquiatras? Por que só se dá um diagnóstico sendo médico e depois de estudar o paciente. Incrível como o senso comum cria concepções idiotas como a de vocês.

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    3. Concordo com voce Anônimo16/04/2014 20:42:00. O mundo é povoado de idiotas e e mediocres!

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    4. Ela parecia ter muitas características autísticas sim e isso não é demérito.

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    5. Uauuu! Acabei de ver um relato sobre a Clarice Lispector e uma entrevista com ela no YouTube e sim, realmente ela parecia estar dentro do espectro autista, concordo com Cláudia Colares. Em mulheres o diagnóstico acontece tardiamente ou nem se é descoberto.

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  3. Cara jornalista,
    A pobreza do seu texto mostram traços de um caráter julgador e maledicente. Certamente se você tivesse a preocupação com o seu próprio aprofundamento interior (tão sugestiva na obra de Clarice)produziria algo menos raso.

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  4. Nunca vi uma visão tão pobre e medíocre sobre Clarice, uma das maiores escritoras brasileiras. Você não entendeu nada de sua obra, se é que a leu. E quanto à pessoa dela, quem é você para julgá-la? Ninguém.

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  5. Querido inepto, apedeuta, nao e qualquer pessoa que pode julgar ou se quer entender os textos de Clarice Lispector. Tente ler com sua alma. Com certeza vais chegar bem proximo da perfeição humana. Muito facil escrever sobre uma pessoa que mal pode defender- se. Que triste ler o teu texto e constatar o quanto nos seres humanos somos covardes . Mesmo nao havendo intenção . Clarisse Lispector certamente o desculparia pelo seu texto sem luz, vida ou forma.

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  6. Fazia muito tempo que não lia um texto tão medíocre... Para se fazer uma crítica a um autor é necessário conhecer bem sobre litaratura, sobre os autores. Clarice é um espetáculo!!! Uma referência do existencialismo no Brasil. Leia e releia mais os livros da escritora para organizar melhor seu texto. Traga informações relevantes, mais detalhes...etc. Seu texto está horrível!!!!!

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  7. O senhor imaginou que poderia desmistificar um ser humano? Que pretensão ridícula a sua! Por trás da escritora, ou na frente dela havia uma pessoa! Imaginou isso ou sua sanha imbecil de pseudo iconoclasta esqueceu o principal!

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  8. Penso que só grandes infelizes quem racionalmente sabem de sua condição humana conseguem aproximar-se 1% da literatura de Clarice. Vejo nela uma mulher fútil e descabida de emoção real, mas sim, uma grande introspecção e egocentrismo. Tudo era o resumo dela mesma, escrevia para sobreviver a depressão. E ponto. O RESTOTUDO CONJECTURAS.

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  9. Creio eu que todo escritor carrega com sigo, uma sensibilidade muito grande, e muitas vezes não se pode ser compreendida por pessoas comum.
    Intensidade é amar, sentir tudo a flor da pele, e o preço de tanto sentimento, e muitas vezes vivendo situações que nos abala, e muitas vezes não podemos fazer nada, então o preço é a tristeza e muitas vezes a solidão, estamos só quando em milhares de pessoas não achamos o conforto que precisamos. Eu amo poesia, poemas, literatura,e admiro muito os escritores, que são escritores por sentimento, e não por opção.

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  10. Parem de falar mal de quem não pode se defender. Quanto ao texto, todos tem liberdade de achar o que quiser, assim como de escrever o que quiser. Niguém é obrigado a amar e cultuar Clarice, apenas aqueles que se sentem bem e querem fazer isso, que façam. Eu amo Clarice, a considero uma grande escritora. Não a acho egocentrica ou algo assim, pelo contrário, ninguém conheceu tão profundamente e visitou tantas vezes o profundo humano coletivo, como a Dona Lispector. E pasemem senhores, enquanto vocês estão aqui a discutir o quão raso é esse texto, Clarice está descansando no "ETERNO".

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  11. Sono italiana ed ho scoperto da poco l'opera Clarice Lispector, che io trovo veramente eccezionale per come sa scrutare e descrivere le emozioni dell'animo umano e soprattutto femminile(i racconti sono dei veri piccoli gioielli letterari). Per fortuna l'editore italiano Feltrinelli ha pubblicato da poco un volume che raccoglie romanzi e racconti di questa grande scrittice brasiliana. Spero vivamente che ora sarà conosciuta e apprezzata anche in questa nazione europea. Non sono quindi assolutamente d'accordo con le critiche che le sono state rivolte e che trovo gratuite e meschine e probabilmente formulate da una persona incompetente (o ignorante). Ritengo invece che il popolo brasiliano debba essere orgoglioso di dare un posto d'onore a Clarice nel panorama letterario del vostro grande paese.

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  12. Para um texto medíocre, podre e pobre de conhecimento; palavras tão baixas quanto: que merda de texto!

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  13. A Clarice é única! Julgamentos a parte... acho que, para quem entender, já disse tudo!! Mediocridade de texto..

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  14. Voce tem bastante inveja de Clarice heim!
    Somos todos humanos... e ela foi, é e será sempre Amazing!

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  15. acho clarice uma escritora boa/mediana,não entendo toda essa idolatria para com ela.gracy

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  16. Quero lhe agradecer (não estou sendo irônico) seu texto sobre Clarice Lispector, só fez confirmar em mim ainda mais o encanto que tenho por ela... Já li obras dela, contos, crônicas, artigos de jornais dela sob pseudônimos, breves biografias dela, relatos e depoimentos diversos, fotos comentadas, entrevistas, etc. Só não conheço ainda suas obras infantis.
    Li obras dela já aos quinze anos, agora tenho quase 40 anos. Ela já foi uma paixão para mim, sua imagem, seu sotaque, sua historia, seu rosto felino. Os “defeitos” que você teceu sobre ela, só enriqueceram mais ainda a figura deste ser; cheio de charme, açodada, misteriosa, incoerente, sensível, simples, intenso, de caos envolvente. Antes de conhecê-la aos 14 anos e depois de mais velhos tive outras belas experiências, referencias, e paixões, obviamente, não sou um fanático por ela, aliás, detesto esse status de divindade que dão a ela, pois ela era muito simples e direta.
    Tudo isso que você pontuou de “demérito” a Clarice é “papo velho”, já foi diversas vezes confrontado a ela em jornais, revistas, etc. E ela sempre respondeu com categoria e humildade desconcertante, tinha uma grande autocrítica, se considerava uma amadora, dispensava categoricamente bajulações e o rotulo de hermética. PESQUISE, PESQUISE, PESQUISE EM FONTES PRIMARIAS ORIGINAIS.
    Conheço Clarice, e pessoas de todos os tipos que a curtem, sua obra é muito simples, despojada, nada de confuso, fácil de ler como as obras de Kafka, Dostoevsky, Bukowski, etc. Sou Mecânico formado no SENAI, fiz apenas 2° grau supletivo.
    Respeitosamente;
    Leo, Joinville/SC

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  17. Entendo perfeitamente o seu texto e o parabenizo pela imparcialidade e lucidez. Se Clarice fosse como todo mundo, não seria Clarice. Ela era diferente e nenhum de nós sabe sequer catalogar essas diferenças. Mas sabemos reconhece-las e respeita-las. Sabe, ler o seu texto me fez ver Clarice com muito mais humanidade. Obrigada!

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  18. Nao tenho intenção de explanar sobre a obra ou biografia de Clarice, pois pouco sei. Estava pesquisando sobre ela, pois me veio à mão "Laços de Família" e achei prudente conhecer melhor a autora para iniciar a leitura. Mas alguns conceitos dessa crítica me incomodaram bastante. Muita incoerência da jornalista em criticar quem considera Clarice um "monstro sagrado", já que a própria jornalista a deprecia por ser impaciente, egoísta ou por seus vícios, que são características inerentes à categoria de humano. Me pareceu que há uma certa desaprovação aos fatos de Clarice recorrer a uma enfermeira para auxiliar na criação dos filhos e de não saber cozinhar. Mas podemos julgar se isso é certo ou não? Era uma mulher produtiva, estudiosa, que trabalhava, um ser pensante. Isso demanda tempo! Deveria ter se abdicado das suas atividades para se dedicar integralmente à criação dos filhos e ao jantar do marido? Vejam como Clarice se esquivou do preconceito em meados do século XX e ele persiste e surge em plena modernidade do século XXI... se ela recorria realmente à essas frases, só me resta fazer como ela "não sei", "não entendo"...

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