quinta-feira, 25 de junho de 2009

Cheira mofo


Dia desses, me veio ‘a louca’, e saí perguntando por aí o que significa ABL. As respostas foram inimagináveis, cômicas, e às vezes me causaram desânimo. Não faltou quem afirmasse que se trata da “Associação Brasileira de Luta Livre”. Até me perguntaram se era marca nova de carro, ou nome de grupo de pagode recém lançado. O mais incrível é que a maioria nem quis saber o que significa ABL – talvez, por medo que seja mais um imposto ‘maquiado’.
“A iniciativa foi tomada por Lúcio de Mendonça, concretizada em reuniões preparatórias, que se iniciaram em 15 de dezembro de 1896, sob a presidência de Machado de Assis (eleito por aclamação), na redação da Revista Brasileira. Nessas reuniões, foram aprovados os Estatutos da Academia Brasileira de Letras, a 28 de janeiro de 1897, compondo-se o seu quadro de 40 membros fundadores. A 20 de julho daquele ano, era realizada a Sessão Inaugural, nas instalações do Pedagogium, prédio fronteiro ao Passeio Público, no centro do Rio. (...) A Academia tem por fim, segundo os seus estatutos, a ‘cultura da língua nacional’, sendo composta por quarenta membros efetivos e perpétuos, conhecidos como ‘imortais’, escolhidos entre os cidadãos brasileiros que tenham publicado obras de reconhecido mérito ou livros de valor literário, e vinte sócios correspondentes estrangeiros.” (foi o que catei na Wikipédia, nosso ‘Aurelião’ virtual)
E ainda tem mais. Consta, nos anais da ‘senhora’ Academia, que, até 1977, a instituição era um verdadeiro “Clube do Bolinha” (quarenta homens reunidos, sem futebol? - alguém consegue imaginar?). Quem ‘quebrou’ a hegemonia masculina foi Rachel de Queiroz, que – não sei como – conquistou os votos dos “imortais” (vivos) na ABL da época, e entrou com tudo, sendo pioneira até na ‘moda feminina’ da ‘senhora’ Academia. Rachel de Queiroz – a nossa heroína (ela sacudiria a cadeira número 5, às gargalhadas, se pensasse nisso).
Talvez, quem melhor traduziu, recentemente, o “benefício” da ABL foi uma de suas ‘imortais acadêmicas’: a escritora Ana Maria Machado. Em entrevista à televisão, ela disse que “a maior vantagem de ser ‘imortal’ é que a Academia oferece o melhor plano de saúde que eu já conheci, cobrindo, inclusive, todo o custo funeral dos seus acadêmicos. Não darei despesas aos meus filhos e netos, o que já é uma grande coisa, se pensarmos nos valores financeiros”, concluiu ironicamente. Ana Maria Machado é “imortal”, mas continua viva, ocupando a cadeira número 1 na ABL, e chamando a atenção dos brasileiros. Eu já era fã dela – agora, mais ainda.
Pode ser que algum leitor incauto ainda não saiba - são “imortais” (vivos, claro!) da ‘senhora’ Academia: Nélson Pereira dos Santos (o único “imortal” no nosso cinema), Paulo Coelho (o ‘guru dos gurus’, que tem faturado mais que Bill Gates), e Ivo Pitanguy (o homem das ‘mil faces’, que “puxa, encolhe e estica” mais que a Xuxa). Agora, procure a poltrona mais confortável, sente, e segure essa: José Sarney também é “imortal” (será que o pessoal de Brasília está levando isso em consideração?). Depois dessa, vamos parando por aqui.
Ah, não dá pra esquecer as nossas companhias de cabeceira: Clarice Lispector, Mário Quintana, Mário de Andrade, Cecília Meireles, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina, e tantos outros. Todos eles morreram ‘mortais’. Para quem ainda não sabe, Lya Luft, Rubem Alves, Ferreira Gullar, e tantos outros, permanecem vivos e ‘mortais’. Alguns concorreram à cadeira da ‘senhora’ Academia, mas perderam, sabe-se lá por quê (o “voto acadêmico” é secreto, pelo visto semelhante aos “atos secretos” do Senado – ninguém sabe, ninguém viu). Quintaninha, inclusive, sentiu-se inspirado, quando recusado na ABL, e escreveu: “Todos esses que aí estão, atravancando o meu caminho – eles passarão... eu, passarinho”. Poeta é outra coisa: reconhece na ‘merda’, adubo para fazer poesia.
Cá entre nós, tudo isso, pra mim, cheira mofo. E os ‘acadêmicos’ ainda se tornam “imortais” (uma espécie de ‘deuses’, entre eles?). Sobre isso, lembro do comentário que ouvi, depois de explicar o significado da sigla ABL a um jovem lavador de carro: “Mas se eles se tornam imortais, tia, eu também quero entrar neste negócio”. E eu fiquei lá, na calçada, tentando esclarecer que os ‘acadêmicos da ABL’ morrem do mesmo jeito que nós – miseráveis ‘mortais’ -, mas tornam-se “imortais” na instituição. “Mas quem é que quer ser chamado de imortal, se morre do mesmo jeito, tia?” – deixou-me sem fala o lavador, que foi se afastando e repetindo: “essa gente letrada tem cada uma...”

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Aprendizado sem fim


Há poucos dias, participei de um grande evento – um aprendizado sem fim, como toda junção de seres humanos diferentes, e tão iguais. Mais uma vez, pude constatar, como sempre, que fazemos parte de uma peça teatral, como atores (não autores) – voluntária, ou involuntariamente. Às vezes, nos dão o script; outras, tentamos adivinhar a nossa próxima fala. E assim vamos encenando a peça que causaria espanto (será?) a Pirandello, ou Plínio Marcos.
Durante o evento, pude conversar com (mais ouvir) toda diferente gente. Eram pessoas com sotaques diferentes, mas, mais que isso, formação diferente, cultura diferente, e, mais ainda, visão diferente. Lembrei o que um amigo falou, há algum tempo, quando questionei por que tantas discussões, e depois acertos inimagináveis, numa dessas reuniões que não acabam nunca. E ele me disse que “nos separamos por ideologias, mas nos unimos por interesses”. Pensei a respeito, e, como sempre, nada concluí.
Mas o que eu quero deixar registrado aqui é que somos atores desta vidinha que dizem nos pertencer, nos grandes e nos mais ínfimos eventos cotidianos. Na maioria das vezes, transitamos como coadjuvantes, enquanto desconhecemos os protagonistas, e jamais saberemos o autor da dita peça. O palco é imenso, por que o público (que somos todos nós) interage, trabalha, dedicada e exaustivamente, na construção de convivências (positivas ou negativas). E ainda tem gente que pensa que tudo isso é ensaio (pode?).
Sabemos, intuitivamente (seria esta a palavra?), o que devemos fazer, dizer ou calar, a cada cena. Mas nem sempre acertamos, ou por que estávamos distraídos olhando outra cena, ou simplesmente agimos intencionalmente, para desafiar, senão o autor desconhecido, os colegas de cena. O resultado é sempre o mesmo: somos convidados a nos retirar (intuitivamente), ou nos retiram de uma cena da vida, sem a mísera comunicação do fato, muito menos justificativa. Mas os atores (coadjuvantes, ou protagonistas) continuam lá, na cena, cumprindo o que consideram o papel de cada um, sem haver papel que os defina. Ainda há outras cenas convocando-lhes presença imediata. E lá vão eles – de cena em cena -, interagindo, tontos, com outros atores cambaleantes.
Dentro ou fora da cena, percebemos que, aos poucos, o entusiasmo vai desaparecendo, mesmo naqueles que tudo observam, e chamam a atenção. Mas o cansaço, se a cena persiste, leva adiante, quando ninguém mais pensa, e começamos a ouvir e falar besteiras. Mas a ausência do script não faz silenciar, nem baixar as cortinas. A peça continua. O público não aplaude, por que (também) encena. O autor da peça (não escrita) não aparece, e tudo termina, como se fosse o começo do nada.
Fim.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Acomodação me incomoda

... Vou logo te avisando – se você costuma repetir:

“Fazer o que, né, se Deus quer assim?”
“Vocês conseguem, sem a minha colaboração.”
“Tentar pra quê, se eu não vou conseguir?”
“Não vou atrás, por que sei que o que mereço vem a mim.”

Se você fala essas coisas, não perca tempo comigo, não permaneça nessa ‘linha de fogo’. Estou te avisando, por que sei que ninguém, ninguém mesmo, sai impune de uma leitura. Abandone o ‘barquinho de papel’, enquanto há tempo.

Daqui pra frente, é por tua conta e risco.

Como toda gente, também eu me incomodo com váááárias coisas humanas e cotidianas – às vezes, mais cotidianas até do que humanas. A verdade mesmo é que uma das coisas que mais me incomoda é a droga da acomodação, por que, pra mim, acomodação é vício que vicia tanto, que o viciado se acomoda até ‘nunca mais’.
Como eu, você deve se deparar sempre com gente que mantém o corpo e a mente ‘a la vonté’. É a pessoa que não exercita o corpo, sequer faz um passeio à beira-mar, ou à praça, para dar milho aos pombos. Às vezes, não caminha dentro da própria casa, “para não gastar as chinelas”. Também, não cria pensamento algum, que seja até ato egoísta, alegando que “pensar cansa” (cansa mesmo). Nem isso. Não conversa, por que (justifica) não tem o que dizer. Quando lhe ‘apertam’, o máximo que consegue expressar é “não há o que fazer, se Deus quer assim”.
Que fique bem claro: não menciono aqui os casos de ‘catatonia’, doença tratada por profissionais psiquiatras. Não é a minha ‘praia’ (prefiro olhar o mar).
Acomodação, pra mim, é o ‘cara’ (não aquele apontado por Mr. Obama) que leva a vida numa morbidez inimaginável à maioria de nós. Não age, não pensa, não fala, e vive com as mãos abertas aos céus (à espera de). Quando lhe pedem ajuda, sempre arruma uma desculpa: “não vou conseguir, procure outra pessoa”. Tem gente (boa) que arruma até trabalho (com salário mensal) para o dito acomodado, que recusa, dizendo “o meu trabalho está guardado, e vem a mim, no tempo certo”. Recusa qualquer coisa que lhe tire do estado letárgico (modo de expressão, não doença). Prefere continuar levando chuva e cocô de passarinho na cabeça (que caem do céu com mais freqüência, causando menos danos do que um avião). O acomodado não ouve músicas, nem sabe por que (“nunca pensei nisso”), não assiste filmes, não lê nem bula de medicamento, por que, provavelmente, nunca se interessou por essas “coisas humanas” também. Não se envolve, não se emociona, nem pensa sobre a possibilidade de. Reconheça que não estou citando, aqui, os casos de depressão, que, tratados terapeuticamente, podem ser, senão revertidos em sua totalidade, amenizados, com retorno à “vida normal”.
Sempre digo que a minha alma é vadia, por que penso que não deveria existir a palavra (sentido) “utilidade” – em nada, para nada. O cachorro deveria ser só cachorro, não domesticado, ou treinado para tornar-se cão de guarda (quanto orgulho para o animal!)... E, assim, todos os seres vivos (irracionais, racionais). Já pensou se tudo fosse o que é?... (Alerta: hora de sairmos do desvio, e retomarmos o caminho nem aberto.)
Não quero que o referido acomodado seja confundido com o comodista, que sabe estar usufruindo uma situação que lhe é benéfica, favorável. Se a vida na ‘mamata’ acaba, o comodista vai procurar outros que lhe sustentem, e assumam as responsabilidades que seriam dele. Ainda tenho outro exemplo de comodista: é aquele que sabe que o grupo vai ‘ralar pra caramba’, pra fazer um determinado trabalho, mas permanece calado, só se manifestando quando o trabalho já está pronto. É quando pede para assinar a autoria do trabalho, junto com o grupo. Já o acomodado não age, nem reage – só se acomoda às coisas, boas ou ruins. O comodista é um tremendo egoísta, na minha opinião, mas pelo menos corre atrás do que lhe faz bem. O acomodado se mostra indiferente a tudo e a todos, se adapta ao tiroteio, com o mesmo olhar que teria diante da orquestra sinfônica. Qualquer plantinha vive mais do que o acomodado, que se cansa, só em imaginar fazer alguma coisa em prol da própria vida. O acomodado existe, mesmo sem saber disso. Acredite.
É essa acomodação que me incomoda - profundamente. Registrado.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Liberdade na prensa

Você já sentiu sua liberdade na prensa? Liberdade prensada não é uma coisa legal de sentir. Por isso, por insistência de alguns “colegas”, que leram o que escrevi logo ali embaixo (O preço da liberdade de imprensa), prometi que iria rever o conceito de liberdade de imprensa. Você já notou que a palavra rever é sempre a mesma (de frente pra trás, de trás pra frente)?
(Não adianta enrolar, Narinha, prometido tem de ser cumprido. Lá vou eu tirar minha liberdade da prensa.)
Que os “colegas” me permitam, mas não vou desdizer o que escrevi ontem. Nem pretendo me reler, sob pena de ficar por ali mesmo, quando o que prometi foi seguir adiante.
O conceito de liberdade de imprensa, acredito, é bastante amplo, e ainda pode ser interpretado de N formas. Tudo depende da visão de cada um, como diz um amigo meu, ceguinho de nascença (gente boa pra caramba!).
Arrisco dizer que, senão todo mundo, a maioria dos profissionais dos meios de comunicação crê estar exercitando a mais ampla liberdade de imprensa. E continua acreditando nisso, mesmo quando aceita “molhar a mão” (putz, voltei ao que já escrevi, e não reli!). Afinal, uma graninha a mais no bolso, que seja valor irrisório, sempre vale a pena, e redigir faz parte do trabalho. Que mal tem escamotear alguma informação, destacar alguém que não vale tanto assim, mas é generoso no “molhar a mão”, né?...
Pensando bem, essa coisa de trabalhar, sempre, priorizando os princípios de ética, imparcialidade e honestidade é um ‘saco’!... Nós, os profissionais da imprensa, que adotamos essa prática, acabamos trabalhando mais, nos estressando mais, sem contar que ainda somos colocados à prova. Se decidimos trabalhar com a nossa honestidade máxima, aí sim que “o bicho pega” – o ‘chefe’ desconfia, começa ficar de olho na gente (traduzindo: 'pega no pé' pra valer, mesmo), quando não somos demitidos imediatamente.
Liberdade de imprensa é um termo ‘bonitinho’, ideal para ser usado nos eventos ‘sociais’, que reúnem um monte de gente que gosta de aparecer, e até paga por isso, para homenagear os “grandes profissionais da imprensa televisiva, falada, escrita”. Liberdade de imprensa é aquele sapato social que você guarda, há anos, como jóia rara, no armário, e só desfila com ele, quando sabe que os invejosos estão todos ao redor, e você emposta a voz, discursa, discursa, e agradece, agradece.
É isso, “colegas”, estou quase convencida de que liberdade de imprensa é coisa pra se falar, não precisa de ação alguma. No cotidiano, “a gente vai levando”, como canta o poeta... Por que a realidade grita, geme por sobrevivência, e ideais, princípios, ética, honestidade, e essa coisa toda tão séria, que decorre dessas vertentes, tudo isso junto não proporciona grana para o “leitinho das crianças”, muito menos emprego, em ‘cabide político’, ao cunhado, ou à prima. Por isso, liberdade de imprensa encaixa em discursos ‘emocionados e emocionantes’, oratórias inócuas, tudo o que causa ‘dormideira’ aos campeões de insônia.
Não pretendo mais falar (por ora, claro) sobre liberdade de imprensa, desde que minha liberdade não volte à prensa.

P.S.: Em meio a tantas conjecturas, esqueci de dizer que Papai Noel manda lembranças (está em visita à minha casa, desde o Natal), e promete não esquecer de ninguém. Já sugeri a ele, um presentinho bastante útil a alguns “colegas”: borrifador, para mãos costumeiramente “molhadas”. Quem sabe?...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O preço da liberdade de imprensa


Aproveito o ensejo, após assistir uma sessão jurisdicional, ao vivo, do Tribunal Superior Eleitoral, quando sete ministros do TSE julgavam mais um caso. Mas o tema central da sessão, que parecia jogo de futebol (com dois tempos, e tudo mais), foi mesmo a liberdade de imprensa. Vossas Excelências (acho que viciei no termo, depois de ouvi-los tanto) demonstraram acreditar na liberdade de imprensa. Da forma como falaram a respeito, lembrei os tempos de ditadura, época em que, na minha opinião, houve, de fato, liberdade de imprensa.
Hoje, o que existe é troca de favores. Vossas Excelências do TSE estais enganados quanto ao fato de “não haver cooptação (que palavrão horroroso!) dos meios de comunicação”. Nem sempre a ‘moeda’ utilizada é a reconhecida oficialmente. Na verdade, o escambo é a ‘moeda’ dos corredores da comunicação. Quem dá mais, leva – e, às vezes, não é dinheiro, mas sim, o ‘poder’ ilusório, efêmero.
Ah, lembrei agora, durante a sessão do TSE, até um advogado citou a palavrinha ‘peremptoriamente’, numa entonação de fazer inveja (acredite!).
Sobre a liberdade de imprensa, acho que posso falar livremente, já que sou profissional no setor, e nunca fiz outra coisa na vida, a não ser mesmo ‘jornalisticar’. Liberdade de imprensa é utopia, recurso de oratória, e, hoje, infelizmente, não vai além disso, nem tentativa. Em todos os meios de comunicação (rádio, TV, jornal, informe web), liberdade de imprensa é sinônimo de interesse do ‘chefe da empresa’. Aliás, todas as matérias jornalísticas, desde a manchete, até o pequeno parágrafo, no canto da última página, tudo mesmo é determinado pelo ‘cabeça’, que conduz o que chama “linha da empresa”. Se falam o contrário disso por aí é mentira, ilusão mesmo.
Nem vou relatar aqui o que já presenciei de extorsão, troca de favores, alterações de textos, etc e tal, nas 'senhoras empresas de comunicação'. Aqui no sul, inclusive, existe um termo bastante conhecido, principalmente entre repórteres, que é o “molhar a mão”, que quer dizer receber algum dinheiro (às vezes, uns trocados mesmo, o que envergonha ainda mais a classe), para fazer uma determinada entrevista, ou matéria “especial”. A expressão é bastante 'utilizada' entre políticos, que, em tempos de campanha eleitoral, ou em momentos ‘complicados’ de carreira, são diretos, e oferecem “molhar a mão” dos profissionais de comunicação. Também eu já recebi este tipo de proposta, fiquei tão indignada, e manifestei toda minha raiva na ‘cara’ do dito político. Acabei saindo do jornal, ou “sendo saída” – nem lembro mais.
Como qualquer ser humano, também o proprietário de um jornal, ou canal de televisão, ou rádio, tem seus princípios, sua pirâmide de valoração. E é por esses caminhos (conhecidos dele) que conduz o meio de comunicação que tem nas mãos. Por outro lado, cada funcionário dele enxerga e pensa de forma diferente. A realidade é que todo meio de comunicação é corruptível - senão hoje, ontem já se deixou corromper, desviando o foco de uma informação pública importante, e/ou deturpando os fatos, tendo barganhado, com isso, alguma(s) vantagem(s) - bem maior(es), provavelmente, da imaginada por Gérson.
Por isso, é muito complicado falar de liberdade de imprensa, quando sabemos, todos nós, profissionais da área, que ela não existe. Tive um colega de redação que sempre dizia que, naquele jornal, a liberdade de imprensa tinha nome, e citava (claro!) o nome completo do proprietário, sem esquecer o Dr., na frente. É até engraçado lembrar disso, mas é com tristeza que percebo a liberdade de imprensa afastar-se cada vez mais dos nossos meios de comunicação, deixando-nos sem voz, nem vez.
Tenha certeza: neste espaço, tudo o que comunico é meu exercício de liberdade, construída e estruturada, a partir do que tive acesso tomar conhecimento, para, depois, então, elaborar conscientemente. Por isso, nenhuma verdade conceitual, ou absoluta.
Quando você ler, assistir, ou escutar uma reportagem, questione – ou não...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Pensando...


Caiu o Airbus da Air France, com 228 seres humanos, que deixaram aos prantos, familiares e amigos em 24 países, incluindo o Brasil. Mas, numa hora dessas, não importam a nacionalidade, o idioma, a cultura – a dor da perda é a mesma. E o tempo – implacável – não volta.
Na minha vidinha medíocre, fico pensando tanta coisa - nada. Quantos sonhos, quantos ideais, quantos planos foram mortos. Quantas pessoas entraram naquele avião (seguro, potente) pensando em tantas outras coisas, talvez até mais altas que o próprio vôo. Quantos pensavam em viver na França, e lá construir uma vida nova. Quantos revisavam a agenda cheia que teriam, a partir do desembarque. Quantos já pensavam na volta ao Brasil. Quantos imaginavam o reencontro com a família, os amigos. Quantos não pensavam coisa alguma, pois sabiam que voltariam à rotina francesa. Quantos oravam aos seus ‘deuses’, para que protegessem os doze tripulantes da aeronave. Quantos já pensavam no próximo avião que teriam de embarcar, seguindo viagem. Quantos?...
E as crianças que estavam no Airbus-A330? Eram oito. Um bebê, que, provavelmente, dormia no colo dos pais. E as outras crianças – será que olhavam pela janela, dormiam, se distraíam observando os outros passageiros? (Quem sabe, uma delas catucasse o pai, ou a mãe, para perguntar: “Vai demorar muito pra chegarmos?”) Não importa. Continuarão sempre crianças – mortas.
Morreram todos...
Mas nós continuamos vivos...
E eu (ainda) pensando, tentando concatenar alguma coisa – nada. O que nós fazemos com a vida que mantemos? O que nós temos deixado de fazer? Por que esse hábito miserável de deixarmos para fazer o importante, só amanhã? Por que continuamos ousando vestir a fantasia de seres eternos, nesta vidinha efêmera? Por que complicamos tanto? Por que nos vestimos com a armadura do orgulho, e ainda nos sentimos imbatíveis por isso? Por que erramos, quando sabemos disso, e não tentamos acertar? Por que sempre acreditamos que ‘coisa ruim’ só acontece com os outros, a família dos outros? Por que reclamamos tanto da vida que nós mesmos conduzimos? Por que ficamos esperando um amanhã que pode nem existir? Por que sofremos tanto, choramos até, quando quebramos uma unha? Por que conjugamos tanto na primeira pessoa do singular? Por que continuamos reproduzindo as atrocidades que tanto combatemos? Por que discriminamos tanto? Por que o nosso ‘nariz empinado’, diante de seres humanos como nós? Por que adiamos sempre as mudanças que, sabemos, temos de assumir na vida? Por que nos enchemos de certezas, verdades absolutas, nos cobrimos de ódios, e avançamos com armas? Por que não decidimos logo doar o melhor de nós à vida humana, aos seres humanos, a nós mesmos, também humanos, e, por isso, falhos, falíveis, vulneráveis, efêmeros, frágeis e mortais seres humanos?...
...Enquanto isso, a morte – sempre a morte – continua à espreita... E o tempo?... ah, o tempo...