domingo, 17 de janeiro de 2010

Doce mistério amargo


Sempre ouço, leio, assisto – por aí, por aqui, por todo lugar - gente falando sobre o sentido da existência humana. As dissertações chegam ser estapafúrdias (consegui usar este palavrão! consegui!). Para os astrônomos, a vida terrena surgiu, a partir do “conluio” de elementos químicos, que se reuniram e combinaram: “Vamos fazer todos os experimentos impossíveis, neste planetinha”. Para os religiosos, a humanidade passou a existir, depois que um “todo-poderoso” entediou-se com a solidão em que vivia, e resolveu criar habitantes, no “pontinho azul” do universo. Para os poetas, a existência humana existe, pra não fazer qualquer sentido. Para os estilistas e costureiros, a humanidade foi criada, pra ser (bem) vestida. Cada qual pensa o que bem entende. Os otimistas pensaram tanto, e descobriram que “a vida existe, pra ser vivida” (e a morte - pra ser morrida?). Os pessimistas adiantam o relógio, e passam a vida inteira dizendo que “a única coisa certa na vida é a morte” (qual será a única coisa certa na morte – que não há mais vida?).
Nunca fui Pasteur, nem Papa. Talvez, por isso, ou não, prefiro questionar esse doce mistério amargo: Existir – pra quê?... Se eu fosse colecionadora de respostas, certezas, ou verdades absolutas, provavelmente teria ‘empacado’ lá atrás, há muuuuuuuuuuuuito tempo, quando comecei admirar as nuvens, ignorando o termo “sentido da vida”.
Alguns de nós até ‘maquiamos’ uma resposta – bem elaborada, é verdade, mas tão oca quanto a nossa credulidade sobre o que nós mesmos pensamos. Pior, quando tentamos convencer os outros. Não gosto que julguem que estou tentando convencer, nem que isso seja em relação a um animal qualquer. Não convenço nem a mim mesma.
Esse doce mistério amargo, o qual apelidamos vida, pode fazer algum sentido, acredito, particularmente. Se você observar, quase sempre colocamos o sentido da vida, onde não estamos. Talvez, através disso, buscamos motivação pra continuarmos vivendo (vivendo em busca de vida). Se temos como meta, a realização de sonhos, justamente são sonhos, por que não são realidade (ainda). Se concretizamos algum sonho, logo buscamos outro que ocupe o mesmo vazio, o qual cremos ser ocupável.
No meu caso, acho que o sentido da vida tá em perguntar qual o sentido da vida (?), sem querer resposta, ou respostas. Simplesmente questionar. Às vezes, penso que achei uma doce resposta; outras, o gosto da resposta é amargo. São respostas que passam, como as nuvens – aquelas que guardo na minha coleção de fotos de nuvens, e aquelas que foram e vão, sem que eu tome conhecimento delas.
Profissionalmente, escolhi perguntar, sem a expectativa de respostas. Talvez, eu tenha escolhido isso também à minha vida, mesmo quando as pessoas, ao abrirem a boca, confundem ignorância com resposta. Se me perco, isso acontece justamente nas perguntas, não nas respostas, que, pra mim, nada mais são que “instantâneos de vida”, não chegando revelar o que realmente é. Pra mim, o que realmente é permanece na pergunta. A resposta é a tentativa de fazer calar a pergunta persistente. Nada além disso. É o que penso, sei lá por quê.

Agora, chega... Como eu, vai você também sentir e viver esse doce mistério amargo, que, um dia, acaba, sem qualquer sentido – simplesmente acaba...

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