sábado, 22 de maio de 2010

Papo com o Papa

Antes de tudo e de mais nada, Papa Bento XVI (em latim, “Benedictus PP. XVI”), Sumo Pontífice, quero dizer que protelei o máximo que ‘guentei’, até começar a escrever isso aqui. Não foi fácil segurar, por que, quando menos espero, o Papa apronta mais uma, que supera todas as outras já prontas. Que fique bem dito (e bendito também) que não sou contra, nem a favor – muito antes, pelo contrário – de qualquer religião. O meu papo é diretamente com o Papa (cidadão).
Comecei desconfiar do senhor, Papa, quando visitou a África, e “jogou contra” o pessoal da Organização Mundial da Saúde, que trabalha na conscientização e na prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e AIDS. Ainda não entendi aquele papo de o Papa dizer que “os africanos não podem usar preservativos, por que a semente que é semeada não pode ser jogada fora”, e blá blá blá.
De lá pra cá, Papa, a ‘coisa’ só piorou. O senhor não me dá oportunidade para admirá-lo. O seu conservadorismo me irrita, mas, antes disso, me preocupa, por que Papa é Papa, né?... (Só de pensar que pode haver um monte de gente contaminada – por AIDS, ou DST, e outras tantas doenças -, orgulhosamente dizendo que “o Papa mandou não usar preservativo”, me causa indignação e revolta.)
A última (penúltima, provavelmente – já ‘tô’ desatualizada) do senhor, Papa Bento XVI, diz que “o aborto e o casamento gay são as maiores ameaças do mundo atual”. À revelia de todo conservadorismo que o senhor possa idealizar, Sumo Pontífice, a humanidade ainda (parece) se sente livre para decidir sobre o próprio corpo. Nunca abortei, nem me passou pela cabeça casar com alguém do mesmo sexo - ultimamente, nem do sexo oposto (casamento – ‘tô’ fora). Apesar disso, como cidadã deste planetinha chamado Terra, me vejo com toda liberdade para manifestar minha indignação, diante do seu conservadorismo ‘papal’.
Tento amenizar minha visão em relação às suas manifestações absurdas, no mínimo, retrógradas, Papa Bento, lembrando o pouco que li sobre a história da criação da igreja católica. Os tempos eram outros (barbárie), e, ao que me parece, era necessário frear a violência, a libertinagem, a animalidade dos seres humanos. Até acho que não evoluímos tanto, de lá pra cá, mas hoje pensamos mais, com a nossa própria cabeça. Aprendemos a raciocinar, Sumo Pontífice. Já não aceitamos o dedo em riste, acompanhado da palavra “pecado”, sem direito à defesa. Descobrimos que somos livres, e mais livres ainda, quando assumimos e respondemos por toda a nossa liberdade, Papa. Eureka!...
‘Tá’ certo que há muitos povos ainda – exemplo, alguns africanos – mais ignorantes que toda a humanidade, que ainda preferem obedecer, sem pensar, pra não precisar assumir ‘porra’ alguma na vida (ops! escapou um palavrão – foi mal, seu Papa!)... Mas, apesar disso, e por isso até, as lideranças, acho, não deveriam reforçar a ignorância. Sei lá. Penso que a conscientização é sempre feita de forma gradual, e passa também pelos líderes da humanidade.
Poxa, Papa Bento, como é que o senhor sai dizendo por aí, por todo lugar, que ‘num’ pode usar preservativo, ‘num’ pode abortar, ‘num’ pode casar com alguém do mesmo sexo?... ‘Num’ pode!... ‘Num’ pode!... ‘Num’ pode... E o que pode, Papa? – pergunto eu, que abomino a palavra “pecado”.
Membros do clero católico que praticam pedofilia – pode, Papa?... Participação de grandes líderes da igreja católica, no holocausto – podia, Papa?... Freiras que aterrorizaram milhares de meninos e meninas em escolas – podia, Papa?... ‘Peraí’, Sumo Pontífice, tem mais uma (lembrei agora): Sentir inveja é “pecado”, Papa Bento?... Mas não foi o senhor mesmo que lembrou os episódios vividos por Francisco, Jacinta e Lucia, e admitiu sentir "inveja por eles terem visto Nossa Senhora"?... ‘Num tendi’!... Dois pesos e duas medidas?... O que mais o senhor pode, que a humana humanidade não pode, com todo respeito, Papa Bento?...
Lembro agora do presidente paraguaio, e ex-bispo católico, Fernando Lugo, que coleciona pedidos de reconhecimento de paternidade. Coitado!... Cá entre nós, Papa Bento XVI, é de conhecimento público que o ‘privilégio’ (padres e bispos católicos com filhos) não é só do Paraguai, né?... (Nem vou manifestar minha opinião sobre o celibato forçado, por que o senhor sairia correndo.)
Não quero crer que o senhor ainda creia, Papa Bento, que “sexo só não é pecado, quando praticado após o matrimônio, para procriação”. Se a relação sexual fosse pra “procriação da espécie”, no mundo em que vivemos, o qual, acredito, também, seja o seu mundo, Papa, faltaria espaço, no planeta, pra tantos nascituros.

Vou além das imaginações – permita-me, Sumo Pontífice:
Conversa entre amigas:
- Depois de dois anos de casamento, a relação sexual de vocês continua ‘quente’?...
- Que nada!... Ainda sou virgem!... Filhos, só mais tarde...

A esposa liga para o marido:
- Vem logo pra casa, amor, que ‘tô’ ovulaaaaaaaaaand...

Na comemoração das Bodas de Marfim do casal, a esposa chora, enquanto o marido a abraça, dizendo:
- Nunca te vi tão emocionada, meu bem...
- Entrei na menopausa, bem... A partir de agora, sem sexo – nem de três em três anos, pra ter filhos... (o marido chora junto)

Pra que o senhor não me leve a mal (nem pra sua casa), Papa Bento, retiro o velho latim do baú: “Iustitia et misericordia coambulant” (A justiça e a misericórdia andam juntas). Só mais uma: “Tempora mutantur et nos in illis” (As circunstâncias mudam, e mudamos com elas).

“Dixi”.

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