segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Substituídos insubstituíveis

Somos todos – todos mesmo – substituídos insubstituíveis, a vida inteira. E também nós queremos substituir, mesmo reconhecendo quem nos é insubstituível. Eu sei que tem gente que discorda. Maravilha! Sinal de que tem gente que pensa...
Durante toda a vida – por que da morte não sei -, somos substituídos – senão na escola, no trabalho, ou nas turmas, em todo e qualquer lugar, ou tempo. Sempre substituídos – todos, todos. Mas, também, permanecemos insubstituíveis – em tudo, em todos. Por quê?... Oras carambolas, simplesmente por que ainda não conseguiram fazer replicas de ser humano – intrinsecamente unico, e, também por isso, solitario. Só mesmo se houvesse clones nossos, expostos em prateleiras de liquidação da vida – aí, sim, seríamos substituíveis.
Arrisque pensar comigo: Se somos substituídos, já não somos, por que o ‘objeto’ (seja lá, ou aqui, o que ou quem for) não é a gente. A gente ficou pra trás, esquecida no banco, perto daquela latinha vazia.
Mas, ainda assim, teimamos em querer substituir. Não substituímos. Todas as criaturas nos são insubstituíveis – seja bem ou mal que nos representem. Isso é fato. Não há mal igual, nem bem identico. Isso pode acontecer em todos os ambientes – na familia, entre amigos, na escola, no ambiente de trabalho. Por que, indiferente à vontade, cada um é mesmo cada um – um diferente, um unico, do jeito que é.
Quando paro pra pensar nessas ‘coisas’ tão humanas, tão nossas, fico vendo o tempo que passa, enquanto a gente se perde, se acha, pra se perder novamente. Como se houvesse a necessidade de nos alimentarmos, regurgitarmos, e comermos o mesmo alimento já mastigado – enquanto os intestinos se retorcem e contorcem com o que ainda lhes resta expelir...
Alguém pode justificar que o tempo continua o mesmo – a vida também. Reflexão objetiva – logicamente. Nada além disso. Quando imaginamos estar substituindo alguém, acho que pretendemos, com isso, “tapar buraco” – já não importa com o quê, ou quem. Aparentemente, podemos até conseguir (vitoria!) – aparentemente mesmo, e só. Mas o ‘objeto humano’ (que era pra ser) substituído continua lá - no fundo do fundo do mais fundo –, insubstituível.
Depois de pensar sobre isso, parei de teimar: Não quero o que poderia ser ‘objeto’ de substituição. Se quero – é pelo proprio valor que o ‘objeto’ representa pra mim, independente do que, ou de quem, sinto falta. Acredito mesmo que também eu não me coloco como ‘objeto’ de substituição. Sou quem sou – alma torta -, e não há outra alma torta como eu. E assim carrego meus ‘objetos’ insubstituíveis, que, por nada, são substituídos, por que não há ‘objeto’ igualzinho, pra encaixar no vazio que permanece, e prevalece, à revelia da minha vontade momentanea.
Diante da fatalidade, acho que o que temos de verossimil, dentro de nós (na alma? talvez!), é justamente quem nos é insubstituível. Se nem lembramos de muitos fatos e/ou pessoas – não foram substituídos, foram esquecidos mesmo. Se esquecidos, deixaram de ser importantes. Se deixaram de ser, foram por algum tempo. Nada além disso. Mas há o insubstituível permanente – jamais esquecido, nem sem importancia. É nisso que estamos. É isso que carregamos na alma: o que é verdadeiramente insubstituível. Não há vida que substitua.

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