terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Vidas por um fio

- Alô?...
- Por favor, a Brigitte!...
- Não tem ninguém que se chame Brigitte, aqui, senhora...
- Ela não está?...
- Acho que nunca esteve...
- Como assim?...
- A senhora deve ter ligado o numero do telefone errado...
- Não!... Impossivel!... Esse telefone é da Brigitte, há muito tempo!...
- Quanto tempo, senhora?...
- Não lembro, mas sei que faz tempo...
- A senhora já conversou com Brigitte, por este numero?...
- Sim, varias vezes...
- Lembra quanto tempo faz que a senhora falou com Brigitte, por este telefone?...
- Não faz muito tempo, não...
- Desculpe, senhora, mas faz algum tempo que tenho esse linha telefonica, e, por aqui, Brigitte não passou, asseguro...
- Isso é impossivel!... Você deve estar brincando, como faz Brigitte... Por favor, chame ela, quero contar-lhe um sonho que tive – Brigitte gosta de saber...
- A senhora costuma conversar com Brigitte pessoalmente?...
- Sim, sempre, mas não posso sair agora...
- Desculpe, mais uma vez, realmente, aqui não mora Brigitte...
- Você só pode estar mentindo...
- Não há necessidade de mentir, senhora, por que a vida, por si só, já é uma grande ilusão...
- Isso que está acontecendo é impossivel, por que Elisabeth sempre atende esse telefone aí...
- A senhora citou outro nome agora: Elisabeth... Não é Brigitte o nome da pessoa que a senhora procura?...
- Às vezes, eu confundo as duas...
...
- Alô?...
- Alô!... Eu estava falando com uma senhora que ligou por engano para minha casa...
- Sim, ela é minha mãe... Ela está sempre tentando falar com Brigitte, minha irmã gemea, por telefone, vai ligando qualquer numero... desculpe...
- Tudo bem, mas me preocupou a insistencia dela...
- É que Brigitte, minha irmã gemea, morreu em acidente, há algum tempo, e mamãe ainda me confunde com ela, apesar de ter ido ao funeral...
- Sinto muito...
- Obrigada, e obrigada também por não desligar o telefone, por que a maioria faz isso... fico sabendo, quando volto para casa, e encontro mamãe chorando, por que mais gente desligou o telefone, enquanto ela falava...
- Deve ser uma situação terrivel mesmo...
- Sim. Obrigada, mais uma vez...
(Voz distante do telefone: “Brigitte, venha cá, quero te contar um sonho que tive contigo!”)
- Preciso desligar... Obrigada!... Já vou, mamãe!...
...

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