terça-feira, 23 de agosto de 2011

O preço de um conselho

Semelhante a todo mundo, também eu já ouvi (quem sabe, até repeti) a frase cerebral: “Se conselho fosse bom, ninguém dava: vendia”. Aconselhar – para o bem, para o mal – parece ser coisa simples. Qualquer um pode fazer isso – e faz.
Mas todo conselho tem um preço. O preço quem paga, obviamente, é o aconselhado que segue o conselho. Na hora de assumir, não adianta gritar por socorro – não é o conselheiro que assume. O conselheiro, feito caixeiro viajante, segue, lá na frente, a vender mais conselhos, por que a maioria continua sem saber que todo conselho tem um preço, e compra, sem saber, para pagar depois. A conta sempre chega.
Essa historinha de sair por aí, por aqui, distribuindo conselhos, me parece uma coisinha muito complicada. Até por que nem sempre se pode tomar medicamento com penicilina, para se combater uma infecção causada por bacterias. O exemplo é só para ilustrar o que, na minha visão estrabica, ‘funciona’ na vida: cada um é (mesmo!) cada um.
Mas tem gente que parece não ter ‘desconfiometro’ mesmo, e acaba acionando meu ‘complicadometro’. Tem gente que insiste, quando me encontra, em me interpretar, catalogar e - não pode faltar, claro – me aconselhar. Quase sempre, o conselho chega precedido de “eu, no teu lugar”. É justamente aí (no começo do ‘joguinho’) que eu interrompo: ‘Peraí, rebobina, e ouça a tua frase’! É comum a outra pessoa (conselheira de plantão) não entender o que digo, e aí eu ‘desenho’ mesmo: Pra você estar no meu lugar, um instante só, eu, que ocupo este (unico) lugar, não poderia existir, e você teria de nascer de novo, nascer no meu lugar. Até por que o que você pensa que sabe de mim é resultado do que você, no teu lugar, enxerga, pensa, e, logo, interpreta. Não sou eu quem você vê, por que também eu me surpreendo comigo, todos os dias, e noites. Por isso, eu mesma nem sequer arrisco me emprestar conselhos.
Ah, e ainda existe gente que costuma pedir conselhos. Eu nego dizer qualquer coisa (“nem contra, nem a favor, muito antes, pelo contrario”). A criatura nem insiste, e vai buscar, em outra pessoa, o conselho que tanto deseja. Nem imagino o que possa interpretar, em razão disso. E sei, por outro lado, que tem muita gente que acha que eu interpreto, concluo, e ainda me meto na vida dos outros. Não posso fazer (ou desfazer) a visão dos outros, que enxergam como podem, a partir da vivencia particular. A minha preocupação é sempre outra, tanto é que, até num bate-papo informal, eu costumo repetir: Por favor, não pense que estou tentando te convencer sobre alguma coisa, por que eu não convenço nem a mim mesma. Já virou “bordão”, sem patente registrada.
E ainda tem gente que busca conselhos até nos livros, e os lê, com ‘olhar biblico’. Coitados dos livros, sempre à mercê – silenciosa – dos nossos olhares interpretativos!...
Quer um só conselho - ‘digrátis’?... Não compra, nem venda, conselhos... Já tem muita coisa (humana) sendo comercializada, ultimamente...

2 comentários:

  1. "Se conselho fosse bom, ninguém dava: vendia". Hoje em dia há coisas muito boas que têm valor imensuravel! O amor e a fidelidade são exemplos disso. Se estou sendo muito poético e muito romântico, aindap osso dizer que todos os dias milhares de músicas, fotografias, desenhos, filmes, entre outros tipos de informação são bons, desejáveis e conseguidos praticamente de graça. Por isso a frase citada não faz muito sentido para mim. Pra mim, conselho sempre foi bom, porque ajuda a repensar algo. Se me aconselham a não usar drogas, posso decidir não usar. Se me aconselham estudar isso, posso optar por aquilo.

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  2. Observador Fênix :)27 de nov. de 2014, 23:51:00

    "[...] o que você pensa que sabe de mim é resultado do que você, no teu lugar, enxerga, pensa, e, logo, interpreta." É... pode ser, concordo. Mas... é, tem um mas rsss Mas muitas pessoas (se não a maioria) não são indecifráveis nem são tão autosuficientes que não precisem de observação alheia. Há sim pessoas que se enganam e mal conseguem se conhecer direito, mas não quer dizer que outras pessoas não possam ajudá-las. Eu mesmo me considero indecifrável e, consequentemente indeciso e sem muita satisfação pessoal. Mas um segredo que pode ajudar a resolver isso pode estar bem perto: as outras pessoas. Mas também podemos complicar ainda mais se as rejeitamos.
    Entendo que aceitar ou pedir conselho é - assim como a crítica dirigida a um artista - um privilégio de quem reconhece uma grande vantagem de se viver em sociedade - a possibilidade do pensamento em grupo. Como diz o velho ditado: "Duas cabeças podem pensar mais do que uma."

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