terça-feira, 27 de setembro de 2011

Frágeis aparencias

Ouvindo Elis Regina cantar “As aparencias enganam” (composição de Sérgio Natureza), penso nas suaves e pesadas - sempre frágeis - aparencias que carregamos – todos nós, seres humanos. Podemos nem saber ao certo quem somos, mas sempre sabemos buscar a aparencia que queremos ter, ser para os outros.
Vivemos de aparencias, mesmo quando afirmamos não dar importancia a elas. Até numa feira, os produtos vendidos são sempre os mais belos (?). Por isso, inclusive, tem muito feirante ‘maquiando’, à base de óleo, com efeito de óleo de peroba, cascas de frutas e legumes. O olhar humano sente-se atraído pelo brilho, pelo colorido que se destaca.
Pra mim, que, admito, não tenho noção de beleza e estetica, todos nós nos revelamos bastante, nas aparencias que resolvemos assumir, nos expor ao mundo com o qual convivemos. Quando falo da minha visão estrabica, não estou dizendo que meus olhos (globo ocular e tudo o que tem dentro) não se movimentam paralelamente. O meu olhar estrabico está justamente no ponto de partida do que consigo enxergar – nem sempre vejo o que realmente é.
Conscientemente, uma aparência é minuciosamente criada, para, de fato, convencer quem com ela se depara. Mas isso não quer dizer que a intenção chega ao objetivo alvo – às vezes, acaba, no meio do caminho, sem porquê. Um exemplo?... O cara, que resolve aparentar que é rico, se ‘borra’ todo, na ostentação, exibindo rolex (made in Paraguay), até em supermercado. A maioria dos milionarios não age assim, até por que sabe que seria chamariz de furtos e assaltos. Quando a aparencia é demais, dá mesmo pra desconfiar...
A realidade é que vivemos e sobrevivemos de aparencias – poucas, ou muitas, mas sempre aparencias. Afinal, ainda é pelo olhar que nos reconhecemos. Enquanto nos preocupamos em aparentar o que consideramos “aceitável” e “admirável”, vamos escamoteando, cada vez mais lá para o fundinho (da alma?), quem pensamos que somos. Por isso mesmo (quem sabe?), as convivencias humanas se tornam “samba do crioulo doido”. Ninguém se entende. Porque não só criamos a aparencia fisica (com dietas inacreditáveis, cirurgias, lipos e botox). Também, idealizamos (e esboçamos) uma aparencia mais sutil: de personalidade, e até de caráter. Aí, a convivencia pode tornar-se perigosa, por que já não somos nós, muito além da figura estetica. Isso deve causar uma trabalheira (mental) inimaginável...
Por isso, protagonizamos, ou testemunhamos, cenas assim:
- Eu não sabia que você gostava, e por isso eu afirmava não gostar...
- Se você dizia não gostar, eu não queria dizer que gostava, pra não desagradar...

Alguém tem duvida de que o mundo é das aparencias?... Diante disso, melhor seria aparentarmos ser quem pensamos ser, né não?... Dá menos trabalho, gente.

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