sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Os outros são os outros

Estou sempre lendo alguma frase semelhante a essas:
"O que você pensa sobre mim não vai mudar quem eu sou, mas pode mudar o meu conceito sobre você".
“Vou cuidar da minha saúde, porque, da minha vida, os outros cuidam.”
“O que os outros pensam de mim, não é da minha conta.”
Ou ainda:
“Eu só sou responsável pelo que falo, não pelo que você entende.”
A princípio, parecem frases de efeito (e são, realmente). Só que, se formos além do dito e feito (que bela cacofonia!), podemos pensar sobre – ou não. A realidade, independente das frasezinhas bem ou mal elaboradas, é que os outros são os outros – mesmo. Por outro lado, tantas e quantas vezes também, somos nós, os outros. O outro é sempre outro mesmo, seja quem for – um outro universo unico, diferente, desigual, independente, individual, e, por isso, também, feito a gente, solitario. Incrível! - até isso esquecemos, no nosso cotidiano social.
Não pense que é só você que sente simpatia, ou antipatia, gratuita e imediata, em relação aos outros, na primeira vez que os enxerga. Não. Também, os outros simpatizam, ou antipatizam, com você, no primeiro instante que lhe enxergam. Sem se conhecerem, você e os outros já delimitam o relacionamento entre vocês, a partir do que sentiram, no primeiro contato, podendo, depois, claro, pensarem a respeito, mudarem de ideia, oscilarem entre a simpatia e a antipatia, etc etc e tal. Tudo é possível, o tempo todo – somos nós, com nossas escolhas particulares, que possibilitamos, ou impossibilitamos, a propria vida.
Tem muita gente dizendo que os seres humanos estão se afastando uns dos outros, em nome do individualismo, decorrente do capitalismo, do egoísmo, e tantos outros 'ismos'. Quanto a isso, não sei. O que acho é que tem muita gente que nem pensa mais em si mesma, muito menos nos outros, que são os outros mesmo. Com que direito alguém pode exigir que os outros pensem nele (alguém), se nem ele (alguém) pensa nele mesmo, nem os outros pensam neles mesmos (os outros)?... Na minha 'visãozinha' estrabica, isso é ironico demais!...
Ainda, sobre essa historinha de individualismo – acho que já postei aqui minha opinião a respeito disso -, vale perceber que quem reclama é justamente quem espera que os outros façam alguma coisa a favor do (da) reclamante. Pode observar. Eu vejo sempre a palavrinha individualismo 'desfilando' em discursos emocionados e emocionantes, sendo usada para 'angariar adeptos solidarios e caridosos'. Eu páro, olho, escuto, e continuo achando que o individualismo é um bom sinal – pelo menos, o (a) individualista está pensando nele(a) mesmo(a). Por isso, nem tudo me parece perdido.
“Pra não dizer que não falei das flores” (prefiro as folhas): Não são só os outros que são os outros – nós (todos) também somos os outros (dos outros)...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Um quase mantra

Há algum tempo, meu fundo musical tem sido “Paciencia”, de Lenine, especialmente, com Olívia e Francis Hime. Pra mim, é um quase mantra, na minha infinita tentativa, na minha finita vida, de, senão manter, pelo menos, buscar (saber que existe) o equilibrio – o meu equilibrio, que não é de mais ninguém, pois cada qual tem (nem sempre) o proprio equilibrio.
Ouvindo meu quase mantra, fico pensando o quanto tornamos a vida ironica. Uma liçãozinha basica, que continuamos também aprendendo na escola, é a conhecida “lei do retorno”. Eu costumo dizer que cada escolha nossa é um bumerangue em voo: vai, e volta. A ironia está justamente aí: plantamos tamarindeiro, esperando colher rosas, ou, então, insistimos pedir bife, em farmacia.
Cada um de nós só pode dar, e dá, o que tem. Ainda assim, a escolha é nossa: se queremos receber, ou não. Mas teimamos, tantas vezes, para que o outro corresponda ao que pensamos necessitar. O outro, que não é a gente, devolve o bumerangue, carregadinho de expectativas dele, junto com tantas frustrações. Diante disso, o atrito se estabelece, e o que poderia ser convivencia harmoniosa torna-se “samba do crioulo doido”.
Na minha opinião insignificante, os dialogos estão cada vez mais raros, pois o que a maioria exercita são monologos infindáveis: eu falo, eu escuto, e só eu compreendo o que digo. Enquanto isso, o outro faz a mesma coisa: ele fala, ele escuta, e só ele compreende o que diz. Isso, quando não falam ao mesmo tempo – aí, ninguém se entende mesmo. Pra mim, que não sou exemplo nem a mim mesma, ouvir o outro significa silenciar o dentro da gente, na tentativa de absorver o que a gente escuta. Se, enquanto o outro fala, eu fico pensando, mais e mais, não há sintonia. Se o outro faz isso comigo, o bumerangue faz o mesmo trajeto: vai ignorando, volta ignorado.
Mas as pessoas (a maioria, me parece) não querem pensar essas coisas “chatinhas”. Até parece que preferem continuar se desgastando, fazendo força, para arremessar o bumerangue, cada vez mais longe, à espera de algum milagre. Quanta ironia!...
E, pior ainda (sempre tem pior), há os que agridem – com palavras e ações -, e, mais que esperar, exigem retorno de manifestações de afeto, respeito e admiração. Fica difícil. Até a Física diz isso: bumerangue vai, bumerangue volta. Detalhe: é o mesmo bumerangue que volta – ele não muda de cor, nem se transforma em outro. E ainda tem mais. Quando alguém sofre uma dor muito grande, podemos fazer dois julgamentos: se gostamos desse alguém, coitado dele; se não gostamos, está pagando pelos males que já cometeu. E isso é tudo – a única verdade é o sofrimento, que só o outro vivencia.
Sempre digo que gosto do “olho no olho” - mais que força de expressão, pra mim, isso (o “olho no olho”) representa a tentativa mutua de entendimento. Eu não consigo enxergar outro caminho – isso não quer dizer que não exista (o que não existe é visão minha). Fica difícil encarar, né?... Primeiro, tentamos racionalizar o que sentimos, buscando palavrinhas milagrosas que nos traduzam. Depois, precisamos verbalizar o resultado do que fizemos internamente, ao outro, que tem outra visão sobre a vida, em razão de ter vivenciado o que vivenciou, de outro jeito. Mas a ironia do tão sonhado dialogo não pára por aí. Enquanto verbalizamos, o outro pode escolher não querer nos ouvir, e nos interpretar, concluindo o que falamos, sem nos questionar. Também nós (cada um) agimos do mesmo jeito, quando o outro verbaliza, e ainda justificamos que precisamos nos proteger, que a vida nos fez assim, etc e tal. Quer ironia maior que essa?...
No final da historinha toda, dois egos, ou mais, afastam-se uns dos outros, fortalecendo o individualismo, e, às vezes, até levantando bandeiras e faixas em defesa da solidão. E todo mundo vai dar uma voltinha (comemorativa) – cada qual de braços dados com a sua propria razão... O amor (pelo proprio umbigo) é lindo!...

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Perguntinhas basicas

Você escolhe um filme, na locadora, por que:
- Tem Brad Pitt e Angelina Jolie no elenco?
- Leu a sinopse do filme, e não entendeu coisa alguma?
- É o filme mais procurado?

Quando você sente insonia:
- Toma medicamentos pra dormir?
- Assiste programa religioso, na televisão, pra perder o sono de vez?
- Espera amanhecer, pra acordar até os vizinhos, e dizer que não dormiu?

Diante do lançamento de um novo produto alimenticio, você:
- Experimenta, sem sequer se importar com a embalagem?
- Se nega provar o produto novo?
- Lê as informações nutricionais do produto?

Você faz check-up, quando:
- Sente dor de cabeça?
- Tem plano de saúde?
- Precisa de atestado medico?

Quando você encontra a calça jeans que tanto sonhou, você escolhe:
- A calça com um numero menor, que te obrigue emagrecer?
- Não compra, e espera liquidação da calça?
- A calça de um numero maior, pra garantir a barriguinha do chopp futuro?

Se o troco que você recebe tem dois reais a mais, você:
- Devolve o valor que recebeu a mais?
- Faz de conta que não percebeu?
- Se, em vez de dois reais, a nota fosse de cem reais?

Você sabe:
- Quantas calorias diárias você ingere?
- Qual a Capital da Eritreia?
- Quantas coisas não sabemos?

Quando você tenta traduzir uma receita medica, você:
- Faz discurso, em família, lembrando suas aulas de caligrafia em latim?
- Se arrepende, por ter escolhido Letras, e receber “merreca” no magisterio?
- Faz piada da receita, em casa, e chora, depois, no caixa da farmacia?

Quando você tem de fazer trabalho de pesquisa, você:
- Vai direto ao google, e clica na primeira opção?
- Copia texto da internet, sem ler?
- Lê o texto que copia da internet, sem pensar?

Você vai ao shopping, e compra:
- O que está em liquidação?
- O que acha que precisa?
- O que aceitam cartão de credito?

Respondeu alguma coisa?... Então, tá. Depois, vou (tentar) responder alguma besteira dessas. Fui.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

‘Filosofança’

Acho que o que me aproxima da filosofia é essa coisinha, aqui dentro, que fica pensando, pensando, pensando, sem conclusão alguma. Saio de lugar algum, e vou pra lugar nenhum. Quase sempre, nas minhas viagens, acabo me deparando, em alguma esquina, com a filosofia. Pra mim, a filosofia faz parte da vida (pratica, vivida), escapulindo dos livros empoeirados e esquecidos, bem e mal interpretados, guardados nos museus. É assim que convivo com a filosofia: caminhamos, juntas, nos questionamentos - a filosofia propriamente reconhecida e eu, com a minha ‘filosofança’. Agora mesmo, estou passeando, de mãos dadas, com Nietzsche, lendo e relendo “Humano, demasiado humano”. Gosto do que ele faz: sopra, ou derruba, as justificativas humanas, e nos desafia – a nós e a ele mesmo, tão “humano, demasiado humano”.
Ler questionamentos me faz questionar, ainda mais. Mas as minhas perguntas não buscam respostas. Na minha desimportante opinião, os questionamentos nos revelam mais, como seres humanos pensantes. As respostas, por serem conclusivas, nos fazem calar, acomodar no que parece seguro. Em mim, há uma satisfação (intima) em perguntar sempre, com o olhar avido por mais questionamentos. Mas é a mim mesma que pergunto, pois sei que, fazendo isso, não terei resposta, conclusão – poderei continuar questionando, descobrindo.
Nietzsche me ‘disse’, há pouco, que o ser humano ocidental foge do sofrimento (as culturas orientais vivenciam o sofrimento). E eu fico pensando que a negativa causa mais sofrimento ainda. Sabemos que o sofrimento existe, e ainda nos esforçamos em construir defesas, que, na realidade, não nos defendem da dor. Na fuga, tropeçamos na propria consciencia (que se sabe), e acabamos, no chão, pensando. Pensar dói.Por outro lado, enquanto tentamos fugir, por exemplo, do sofrimento que representa a morte, continuamos morrendo – a cada dia, a cada instante.
Esse saber (ter consciencia) é que sofre, que sente dor, é que machuca profundamente. Por favor, não pense – pelo menos, agora – que nem todos suportam a consciencia da dor existencial. Neste momento – meu unico pedido – me leia, sem respostas prontas, sem frases de efeito, sem encenações, sem justificativas, sem anestesicos. Aqui, não há holofotes, nem scripts, muito menos aplausos, ou vaias. Sou eu a me manifestar, sem querer concluir coisa alguma, e você, que pode simplesmente manifestar-se pra si mesmo, ou nem querer pensar. Estamos quites – de qualquer jeito.
Também, acho que não precisamos viver nos extremos – ou oito, ou oitenta. É o proprio Nietzsche quem diz que o ser humano vive numa corda esticada no abismo. Se já vivemos desse jeito, não vamos piorar a nossa propria condição, buscando um extremo, ou outro. Entre o nascimento e a morte, há um intervalo, um hiato: a vida. Vida, que não é só sofrimento. Vida que, também, é descoberta – de nós mesmos e dos outros -, mesmo quando nos negamos viver. Só não me pergunte pra que isso, ou por quê. Não tenho respostas – carrego só perguntas.
Uma coisa que temos em comum, independente de se viver no Tajiquistão, ou em Djibouti, é a escolha – somos nós que fazemos escolhas à nossa vida particular, pessoal. Este, aliás, na minha visão estrabica, é o unico compromisso que a gente tem, de fato: com a vida que a gente escolhe viver. O resto?... Ah, o resto é visão alheia, imaginação alheia, interpretação alheia, julgamento alheio, conclusão alheia – tudo isso (do alheio) também resulta das escolhas que o outro faz. Por essa porta, minha “vã filosofia” banal nem ousa entrar. Ainda continuarei minha ‘filosofança’, por aqui, sem filosofar – ou não.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O todo poderoso


Realmente, ele é mesmo o todo poderoso. Com o tempo, a tecnologia avançada, ele foi tomando conta das nossas vidas – tanto que, hoje, não há lugar no mundo onde ele não se faça presente e reconhecido. Sempre imponente, ele – o todo poderoso – é o dono da maioria das atenções. Onde ele toca, quase tudo paralisa, e, depois, quase tudo se transforma.
Antes, ele era todo poderoso, somente nos escritorios, nas empresas. Aos poucos, quase imperceptivelmente até, ele foi dominando outros ares, tornando-se mais e mais necessario, e hoje faz parte do cotidiano da grande maioria das residencias. Mais ainda, atualmente, ele é o todo poderoso das ruas, das calçadas, de todos os locais publicos. Às vezes, causa até acidentes, mas continua imperando, se impondo mesmo, e não há quem fique impassível, diante do chamado dele.
O todo poderoso não é super heroi, nem milagreiro, mas, depois de alguns toques, pode salvar vidas. Não é artista de sucesso, mas sempre é esperado, e recebe toda a atenção. Não é time de futebol, mas tem torcida fiel. Não é novela mexicana, por que emociona muito mais. Não é controle remoto, mas muita gente briga pra segurá-lo. Não é confessionário, mas guarda segredos inimagináveis.
O todo poderoso toma conta das nossas vidas, tornando-nos dependentes dele. A cada toque do todo poderoso, um sobressalto, uma sensação diferente. Por isso, ele domina tudo e todos, invade reuniões, salas de aula, de cinema, estadios de futebol, até refeições, cultos religiosos. O todo poderoso não quer nem saber se estamos assistindo noticiarios, novelas, filmes, ou se estamos tomando banho, dormindo, viajando. Em todas as situações, o todo poderoso pode tocar, e não há quem fique indiferente. O jeito mesmo (é o que a maioria pensa, se pensa) é atender o todo poderoso telefone.
Se o telefone convencional (criação do escocês Graham Bell) alterou completamente os habitos da humanidade, o celular, na companhia da internet, veio superar qualquer expectativa mais ambiciosa, e já não há mais limite, nas comunicações. Hoje, celular é objeto indispensável, sempre com mais funções – além de permitir conversação (nem sempre dialogo), o aparelhinho pode disponibilizar câmera digital, gravador de vídeo, controle por voz, bússola, conectividade bluetooth, reprodutor de mp3, rádio fm, tv, aplicativos Java, porta de comunicação USB. A cada lançamento, mais uma surpresa que fascina – quem pode comprar, compra; quem não pode, acaba comprando também (“made in Paraguai”).
Conforme pesquisa do IBGE, somos 190.732.694 habitantes, no Brasil. Agora, se acomode na cadeira, e segure essa: O mesmo Brasil tem hoje 227,4 milhões de linhas celulares, segundo a Anatel. Nem a geladeira e a televisão, bens de maior consumo brasileiro, chegam proximas a esse indice de compra. Por isso, eu acho que tem brasileiro utilizando celular, pra saber das fofocas dos artistas, das novelas, e encomendar cervejinha gelada.
Lembro agora de um fato ocorrido, bem no inicio da popularidade dos telefones celulares. Um prefeito do interior desse enorme Brasil estava num motel, na companhia de uma trabalhadora do sexo. Em razão do atraso dele em casa, a esposa ligou para o celular do prefeito, que, afoito, gritou ao telefone: “Quem te contou que eu vim para o motel?”... Não fiquei sabendo se houve separação do casal, por que quem repetia o relato do que acabou virando piada nem se preocupava com esses “detalhes tão pequenos”.
Em qualquer lugar – por aí, por aqui, acolá -, basta o telefone tocar, pra afrodescente (“neguinho” virou termo preconceituoso) gritar: Alguém atenda o telefone!... Por causa do todo poderoso, muita gente sai ensaboada do banho – às vezes até pra atender chamada de telemarketing. Tem gente que adota o identificador de chamadas, provavelmente, pra evitar essas situações. Eu ainda prefiro as surpresas – se não estou a fim de atender telefone, simplesmente desligo o aparelhinho da parede (simples). Até por que não costumo correr pra atender chamada telefonica – nem lembro ter saído do banho, por causa disso.
Por outro lado – no outro lado da linha (telefonica) -, muitos que fazem telefonemas sentem-se semelhantes à imagem que fazem de Deus: onipresentes. A exemplo da internet, também uma ligação telefonica propicia estarmos em outros lugares, sem sairmos do lugar. Com isso, dizem, poupamos tempo, dinheiro, cansaço, stress, etc e tal. A realidade, hoje, é que não há distancia – o que continua existindo, por vontade humana, é distanciamento.

Em tantos lugares, neste momento, algum telefone está chamando – por aqui, por aí, acolá...