sexta-feira, 11 de novembro de 2011

‘Filosofança’

Acho que o que me aproxima da filosofia é essa coisinha, aqui dentro, que fica pensando, pensando, pensando, sem conclusão alguma. Saio de lugar algum, e vou pra lugar nenhum. Quase sempre, nas minhas viagens, acabo me deparando, em alguma esquina, com a filosofia. Pra mim, a filosofia faz parte da vida (pratica, vivida), escapulindo dos livros empoeirados e esquecidos, bem e mal interpretados, guardados nos museus. É assim que convivo com a filosofia: caminhamos, juntas, nos questionamentos - a filosofia propriamente reconhecida e eu, com a minha ‘filosofança’. Agora mesmo, estou passeando, de mãos dadas, com Nietzsche, lendo e relendo “Humano, demasiado humano”. Gosto do que ele faz: sopra, ou derruba, as justificativas humanas, e nos desafia – a nós e a ele mesmo, tão “humano, demasiado humano”.
Ler questionamentos me faz questionar, ainda mais. Mas as minhas perguntas não buscam respostas. Na minha desimportante opinião, os questionamentos nos revelam mais, como seres humanos pensantes. As respostas, por serem conclusivas, nos fazem calar, acomodar no que parece seguro. Em mim, há uma satisfação (intima) em perguntar sempre, com o olhar avido por mais questionamentos. Mas é a mim mesma que pergunto, pois sei que, fazendo isso, não terei resposta, conclusão – poderei continuar questionando, descobrindo.
Nietzsche me ‘disse’, há pouco, que o ser humano ocidental foge do sofrimento (as culturas orientais vivenciam o sofrimento). E eu fico pensando que a negativa causa mais sofrimento ainda. Sabemos que o sofrimento existe, e ainda nos esforçamos em construir defesas, que, na realidade, não nos defendem da dor. Na fuga, tropeçamos na propria consciencia (que se sabe), e acabamos, no chão, pensando. Pensar dói.Por outro lado, enquanto tentamos fugir, por exemplo, do sofrimento que representa a morte, continuamos morrendo – a cada dia, a cada instante.
Esse saber (ter consciencia) é que sofre, que sente dor, é que machuca profundamente. Por favor, não pense – pelo menos, agora – que nem todos suportam a consciencia da dor existencial. Neste momento – meu unico pedido – me leia, sem respostas prontas, sem frases de efeito, sem encenações, sem justificativas, sem anestesicos. Aqui, não há holofotes, nem scripts, muito menos aplausos, ou vaias. Sou eu a me manifestar, sem querer concluir coisa alguma, e você, que pode simplesmente manifestar-se pra si mesmo, ou nem querer pensar. Estamos quites – de qualquer jeito.
Também, acho que não precisamos viver nos extremos – ou oito, ou oitenta. É o proprio Nietzsche quem diz que o ser humano vive numa corda esticada no abismo. Se já vivemos desse jeito, não vamos piorar a nossa propria condição, buscando um extremo, ou outro. Entre o nascimento e a morte, há um intervalo, um hiato: a vida. Vida, que não é só sofrimento. Vida que, também, é descoberta – de nós mesmos e dos outros -, mesmo quando nos negamos viver. Só não me pergunte pra que isso, ou por quê. Não tenho respostas – carrego só perguntas.
Uma coisa que temos em comum, independente de se viver no Tajiquistão, ou em Djibouti, é a escolha – somos nós que fazemos escolhas à nossa vida particular, pessoal. Este, aliás, na minha visão estrabica, é o unico compromisso que a gente tem, de fato: com a vida que a gente escolhe viver. O resto?... Ah, o resto é visão alheia, imaginação alheia, interpretação alheia, julgamento alheio, conclusão alheia – tudo isso (do alheio) também resulta das escolhas que o outro faz. Por essa porta, minha “vã filosofia” banal nem ousa entrar. Ainda continuarei minha ‘filosofança’, por aqui, sem filosofar – ou não.

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