domingo, 29 de janeiro de 2012

Vê se te enxerga!

Em vez de ficar cuidando e se metendo na vida dos outros, vê se te enxerga!... Qual a tua condição, diante dos outros, com os outros?... Já pensou nisso?... Ou você pensa que todo mundo existe para te servir, fazer o que você quer, no momento que você quer?... Será que você pensa (isso seria pensar?) que os outros não tem medos e desejos, feito você?... Vê se te enxerga!...
Mesmo que você queira, os outros não fazem escolhas por você, que pode até querer responsabilizá-los, culpá-los – cada escolha, na tua vidinha medíocre, é somente tua (escolha). Nem adianta te maquiar de “pobre vítima da natureza”...
Basta olhar para o lado – nem precisa ser Platão, Nietzsche, Nostradamus, ou mãe Dinah, para enxergar. A maioria que convive contigo não quer saber de você. Se alguém pergunta tudo bem? - pouco importa a resposta. Pergunta isso, por não querer dizer outra coisa. E só.
Se, algum dia, alguém que te estende a mão, aguarde esse mesmo alguém buscar a “contrapartida” - todo mundo espera de você (não o troco) a devolução, com juros e correção monetária, baseados numa hiper inflação. Ninguém te trata do jeito que te trata, pelos teus “belos olhos”. Vê se te enxerga!...
A maioria quer alguma coisa de você, mas não quer saber de você. Se você dá o que a maioria quer e espera, você até chega ser “o bom”. Mas isso não perdura muito tempo: ontem, amado; hoje, odiado; amanhã, esquecido.
Vê se te enxerga!... Desça do pedestal das tuas certezas absolutas, pare de te sentir o mais querido, admirado, respeitado e invejado de todos os mortais. Sim, pois você (também), feito eu, feito todo mundo, vai morrer. E não adianta invocar mamãe, papai...
Vou parar de escrever. Achei o que eu estava procurando: meu espelho.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Direito de sonhar

Se conquistamos, diariamente, o direito de viver, por que não alimentarmos o direito de sonhar?... Afinal, sonhar vai muito além do viver, e não há lei que mensure o sonho, os sonhos. Tem gente que diz que não sonha – dormindo. Sonho, que é sonho mesmo, nos mantém acordados, despertos à vida que passa por nós. Pelo menos, eu, que sei sonhar muito mais acordada que dormindo, penso assim.
Não vou apelar aos livrinhos que ajudam (financeiramente) os autores, por que acho que eles (os autores) nem precisam. Quem procura livrinhos de autoajuda é por que, me parece, não entende a mensagem subliminar – a autoajuda é o ápice de sinceridade do autor, da autora. Acho que, para compreender o conteúdo, é preciso, antes, perceber o esforço pela autoajuda da própria autoria. Se o leitor aprende isso, que é o básico, pode conseguir, também, uma graninha, faturando com o lançamento de outros livrinhos da mesma espécie – aí, sim, a autoajuda do leitor pode ser concretizada. Não acredito em outra.
Também, não penso que necessitamos de permissão para sonhar, seja dormindo, ou acordados. Nascemos com esse direito. Pronto. A escolha é nossa. Claro que não temos controle sobre nossos sonhos sonhados, enquanto dormimos. Por isso, há tantos pesadelos tirando o sono de tanta gente – por aí, por aqui, em todo, ou qualquer, lugar. Mas, acordados, temos o direito de sonhar todos os sonhos que sonhamos sonhar. Por isso, também, há tanta gente dormindo pouco, sem reclamar de insônia.
Penso mais. Penso que sonhar é exercitar o máximo da liberdade humana. Ninguém tem a ver com isso (diretamente), para nos 'guiar', ou nos proibir. Sonhamos o que bem entendemos, bem desejamos. Fim de papo. Há quem busque concretizar os sonhos sonhados. Isso já resulta em trabalho, obviamente, mas não é impossível – seja o sonho que for. Outros preferem continuar refugiando-se nos sonhos sonhados, como se houvesse jeito de mantê-los distanciados da realidade vivida.
O brilho do olhar denuncia os sonhadores – e não há como esconder o fato de exercitar e exercer o direito de sonhar. Quem sonha, sonha adiante do que vive. Isso é realidade. Um dia, há muito tempo atrás (mesmo!), eu estava diante de alguém que verbalizava uma lista infindável do que me era proibido. Escutei tudo, em silêncio, enquanto eu pensava: Você pode me proibir de (quase) tudo, mas eu vou continuar sonhando acordada. Acho, até hoje, que, a partir daquele momento, sonhar, pra mim, passou a ser viver.
E ainda tem gente que não se acha no direito de sonhar – lamentável. Já ouvi muita gente, envergonhada, contar que teve um sonho lindo, dormindo, e fazer o sinal da cruz, dizendo: Não mereço. O sonho dormido é pouco, acho, pra alimentar a vida (acordada). Vou mais longe. Se há interpretações (inimagináveis até) para os sonhos que temos, enquanto dormimos, só nós mesmos sabemos, “na íntegra”, o significado dos sonhos que escolhemos sonhar. Nem sonhando, os outros conseguem imaginar. E isso tudo é vida, que acaba, feito tudo o que é vivo, que também acaba...
Em tempo, Milton Nascimento, Márcio Borges: “os sonhos não envelhecem” mesmo. Os sonhadores é que envelhecem, principalmente, quando abandonam os sonhos... e bons sonhos pra todos nós!...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

13 sexta-feira

Ah, depois de brincar de acreditar em Papai Noel, você não vai acreditar em azar agora, né?... Se acredita em azar, deve acreditar em sorte também... Porque hoje é 13 sexta-feira, eu pergunto: e daí?... Hoje é 13 sexta, amanhã será 14 sábado, etc etc etc e tal. E daí?...
Sei lá, gente, pode parecer descrença (e é, realmente, quanto a isso), mas não sou fã de superstições. Respeito as superstições e os supersticiosos, e, se não passo debaixo de escadas, é simplesmente por que tem alguma lata de tinta pendurada. Ah, também acredito que muitas coisas caem do céu: chuva, coco de passarinho, alguns raios, alguns aviões e asas deltas desgovernados. E só. Se creio em milagres?... Claro – a vida é um milagre único.
Num dia feito hoje (13 sexta-feira), tem muita gente que renova o estoque de amuletos e talismãs – haja tanta arruda, pra isso!... Mas tem muita gente também que fatura, neste Brasil carregado de superstições. A cada ano, camelôs e vendedores ambulantes investem mais no mercado supersticioso. São tantas “figuinhas”, chaveiros com talismãs, correntes e pulseirinhas de “proteção” - Nosso Senhor do Bonfim deve suar as fitas. Mas, a exemplo de qualquer 'filé de mercado', a superstição e os supersticiosos recebem atendimento vip, sempre com inovações – tem produtos para todos os gostos e desgostos, para alcançar graças, e fugir das desgraças da vida.
Ainda, sobre superstição, sinceramente, eu só não acho legal essa ojeriza por gato preto, principalmente em sexta-feira 13. Discriminação com os animais, racismo – a troco de que, gente?... Ninguém precisa exagerar. Deixa os gatinhos continuarem pretinhos, e engraçadinhos – o resto, nada a ver. Já vi gente pincelando de branco, um gato preto, numa sexta-feira 13. O que muda?... O que muda é o estranhamento do pobre felino, que, por algum tempo de desconfiança, se mantém afastado, já que não pensa, e, por isso mesmo, não pode preparar uma armadilha contra o inimigo que surge no dia 13 sexta-feira.
Se você gosta, ou não, de superstições, prepare-se: este ano, teremos mais sextas 13. Nem adianta se benzer, ou soltar palavrão. Calendário não pode ser alterado. Depois dessa de hoje, tem reprise, nos meses de abril e julho – dia 13 sexta-feira (batata!). Não há outro jeito: ou a gente encara a sexta-feira 13, ou é a própria sexta-feira 13 que encara, acompanhada de todas as superstições imagináveis. Tenha um bom dia!...

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

No limite sem limite

Até quem não gosta de (ou não sabe) pensar está enxergando: vivemos – todos – no limite sem limite algum. Não é verdade absoluta – é simplesmente a realidade.
Talvez, por falta de valores, ou de parâmetros, todos nós estamos surtando, desbaratando mesmo, mais ainda, por que nem sempre percebemos isso. Estamos sendo imediatistas, sim. Queremos e exigimos do outro o que nem pensamos doar ao (mesmo) outro. Exigimos compreensão, cuidado, proteção, afeto, respeito, mas não queremos compromisso, nem cumplicidade. E ainda fazemos questão de sempre dizer que não sofremos depressão, melancolia, solidão – despejamos nossos sofrimentos, em shoppings, baladas, viagens de turismo. Impomos limite – nós, que vivemos sem limite. O outro não pode; nós podemos tudo. Com toda certeza, isso tudo, que (ainda) chamam cotidiano humano, torna-se irremediável, insuportável, irrecuperável, insustentável, e todos os 'áveis' que possam existir.
Não faz tanto tempo assim, haviam famílias que se reuniam, conversavam, divertiam-se juntas. Também, amizade era valor sagrado, sem representar exemplo de perfeição, mas sim, construção permanente. Relacionamento íntimo que se mantinha era aquele onde havia tesão, sim, mas tinha também amizade, respeito, companheirismo, cumplicidade. Não faz tanto tempo, assim, gente – ainda há tempo de se resgatar algum valor que ficou na esquina. Mas (quase) ninguém quer pensar sobre isso. Azar de quem ainda insiste em pensar, no meio de toda essa 'boiada' que não pensa, não quer pensar. Pensar: eis um valor que considero – pode não significar coisa alguma, mas considero. Não quero pensar certo, nem errado – só quero continuar pensando.
E ainda reclamamos, nos zangamos, denunciamos que somos maltratados, desrespeitados, mal interpretados, explorados, e todos os 'ados'. Quanta ironia, gente!... Nós, “pobres vítimas da natureza”, insistimos em vestir personagens que não se coadunam, nem entre si, nem conosco mesmos. Nas nossas horas vagas de pobres coitados, gritamos, esbravejamos contra o outro (seja o outro quem for), 'fechamos' o veículo ao lado, no trânsito, brigamos por lugar privilegiado, nas filas da vida, exigimos a cereja de todos os bolos, mantemos dedo em riste, acusando o que a nossa dita moral ordena. Isso, sim, é irônico! E triste também.
Mas eu continuo achando que o pior disso tudo nem chega ser o distanciamento abissal entre todos nós. Não. O pior, gente, é que persistimos em nos distanciar de nós mesmos. Por que não queremos pensar. Por que temos de nos preocupar com as nossas máscaras, que precisam estar sempre reluzentes, bem maquiadas e sorridentes, limpinhas, impecáveis ao olhar alheio (que não é o nosso). Afinal, queremos continuar sendo suportáveis – aos outros, não a nós mesmos. Nem mais sabemos quem somos, ou quem escolhemos ser. E isso tudo nos causa medo, medo tamanho e crescente, que nos encolhe, nos reduz a um farelo de liberdade, que, no máximo, usamos para dormir, e esquecer... Quanta ironia!...

domingo, 8 de janeiro de 2012

Eu vi Nicole Kidman

Eu vi Nicole Kidman. Eu não estava em Hollywood. Ela é que estava varrendo folhas secas, junto ao meio-fio de uma cidadezinha do interior desse nosso Brasilzão. Era Nicole Kidman, na minha visão estrábica. Chapéu largo de palha sobre os olhos assustados e assustadores, cabisbaixa, Nicole era a imagem da personagem Ada, do filme Cold Mountain, onde ela atuou, junto com Jude Law, Renée Zellweger e Kathy Baker. E não há como contestar minha visão: eu vi Nicole Kidman.
Assim é a visão humana: enxergamos o que pensamos (ou queremos, ou podemos) enxergar, e afirmamos, categoricamente, estar enxergando, ou ter enxergado, isso ou aquilo, ou nada disso, nada daquilo. O processo é o mesmo – seja diante de um camaleão, uma mariposa, ou até diante de Nicole Kidman. Apesar de, não podemos esquecer que transitamos entre o real, o simbólico e o imaginário. É por isso que todo mundo enxerga diferente – a culpa não é dos oftalmologistas de plantão. A historinha complica, ainda mais, quando testemunhas de um crime relatam o que (acham que) enxergaram.
Todo mundo, um dia, quem sabe, talvez, tenha protagonizado a cena comum:
- Você fez...
- Não fiz...
- Fez sim, eu vi...
Fato idêntico acontece com quem interpreta o que ouve, ou lê – e todo mundo interpreta mesmo. Nada tira a certeza da criatura. Eu nem discuto – não há o que discutir. Por sofrer as consequências do que os outros enxergam em mim, trato sempre de usar uma palavrinha mágica, em quase tudo o que digo: acho que - nunca tenho certeza de coisa alguma.
Por fim, acabamos por interpretar – sempre -, mesmo quando achamos (sem certezas) enxergar, ouvir, ler. Não há o que passe imune à nossa interpretação – sempre alerta. E o que era para ser compreendido já não é, enquanto o inimaginável toma conta da cena, no palco da vida. Por isso, o melhor mesmo é manifestarmos, sem qualquer expectativa de termos nosso idioma compreendido. “Sacou, cara pálida?”
Ah, você ainda pode estar pensando – ou não - sobre Nicole Kidman. Pois eu garanto: eu vi – juro que vi – Nicole Kidman. Ela parecia mais baixa, ou (quem sabe?) mais magra, mais nova, mais loura, mais branca. Mas era Nicole Kidman. Era ela, mesmo que eu jamais retorne a vê-la, naquele meio-fio, varrendo, calmamente, as folhas secas, timidamente encolhida, com uma vassoura nas mãos, sem olhar para os transeuntes.
Do mais fundo, fica a lembrança do maior e mais famoso pensador de todos os tempos (o autor desconhecido): "Batatinha quando nasce, jacaré não tem pescoço. Se não queria bolo, por que roubou minha bicicleta?"

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

No ringue da vida

Eu sei que tem gente que vive, considerando a vida, um grande passeio. Visita lugares, pessoas, e só permanece, enquanto tudo parece estar bem.
Eu sei que tem gente que vive, considerando a vida, um palco. Vai, da tragédia à comédia, num só ato, e, quando não há holofotes, nem aplausos, chora Shakespeare.
Eu sei que tem gente que vive, considerando a vida, um “Indiana Jones” modernizado. Busca os caminhos mais difíceis, e recusa o que faz bem.
Eu sei que tem gente que vive, considerando a vida, um picadeiro. Torna-se palhaço de pequenos e variados públicos, fazendo piadas de todos, sem nunca ter um só alguém no camarim.
Eu sei que tem gente que vive, considerando a vida, um grande suplício. Acorda, e permanece sem dormir, de mau humor, destilando azedume, por onde passa, com quem convive.
Eu sei que tem gente que vive, considerando a vida, um grande aprendizado. Concentra o olhar em tudo que pode apreender e aprender, chegando irritar as pessoas próximas.
Eu sei que tem gente que vive, considerando a vida, uma novela. Passa a vida inteira, achando que pode começar, terminar, recomeçar, o que quer, quando quer, independente do outro, dos outros.
Eu sei que tem gente que vive, considerando a vida, um cemitério de “pobres vítimas da natureza”. Por isso, nada faz – não acerta, nem erra -, e ainda reclama da vida que tem (“Ó vida! Ó céus!”).
Eu sei que tem gente que vive, considerando a vida, um termo conhecidíssimo: “soy contra”. Não importa contra o quê, ou quem – sente necessidade de discordar, sempre, mesmo sem argumentação.
Eu sei que tem gente que vive, considerando a vida, uma grande fuga de si mesmo. No começo, se embriaga, se droga, e, depois, já não precisa mais de estímulos externos: foge sozinho.
Eu sei que tem gente que vive assim, e de todo jeito. Mas não é sobre essa gente que quero escrever – eu, que me sinto no direito de escrever sobre o que penso, pois também faço parte dessa gente.
O que quero escrever, agora, é que eu sei também que tem gente que vive, considerando a vida, um grande ringue. Feito eu, você também deve conhecer várias pessoas que, “a troco de nada”, saem na porrada – física, ou verbal. Enquanto a criatura 'desabafa', o alvo silencia, tentando descobrir os motivos da violência toda. Motivos - sempre há, para todo tipo de interpretação. E o que, antes, era ambiente de convívio, torna-se um ringue – a casa foi atingida por um raio fulminante, e não há o que salvar, para onde correr.
Como diz um amigo, “nem vou entrar, aqui, no metro da questã”. Já não me importam os motivos que levam alguém a tornar a vida, um constante ringue. O que eu estranho é que nunca vejo quem está habituado a bater lutando com quem está habituado a bater também. O que observo é alguém agredindo – física, ou verbalmente, ou “ambas as duas” coisas – alguém que, quase sempre, não revida (pode ser que, infelizmente, esteja habituado a apanhar). São zonas de conforto diferentes – parece. Se ambos lutassem (espancassem), no ringue da vida, criado de um momento para outro, talvez, “do caos, surgissem as estrelas” (né, Nietzsche?). Realmente, não sei. Tanto quanto posso, fujo desses embates – profissional, e, mais ainda, pessoalmente. Não temo só o outro – temo a mim mesma, que, em momento de desequilíbrio, desconheço o pior de mim.
Mas é preciso que estejamos – todos – preparados para o ringue da vida, “a qualquer momento, em edição extraordinária”. Se não criamos, participamos da luta do ringue (sem recebermos convite prévio), e não há como fugir do olhar fulminado pelo ódio do outro. Fazer o quê? Não sei – realmente, não sei, não sei tanto, que nem sei o que pensar, para saber menos ainda. É bom sabermos, isso sim, que qualquer coisa que dissermos, manifestarmos, será usada, com toda certeza, contra nós – às vezes, o choro causa mais porrada.
Ainda assim, eu não enxergo, no ringue, o cruel torturador e a pobre vítima indefesa. Na minha visão estrábica, são dois seres humanos que fazem, a cada respiração, escolhas de vida. Lembro de frases que li, há muito tempo, sem guardar autoria: “Pessoas feridas ferem pessoas. Cada um dá o que tem. Você faz suas escolhas, e suas escolhas fazem você”. E só.