sexta-feira, 1 de junho de 2012

Velho Brasil


Nosso Brasil está envelhecendo, ainda que não aparente (será por causa do botox?). Afinal, pouco mais de cinco séculos não quer dizer grande coisa – para os orientais, principalmente. Mas, para nós, simples mortais complicados - por que complicamos -, 512 anos equivalem algumas encarnações (para quem acredita em encarnação, reencarnação). Até acho que, com a morte de tantos jovens, em acidentes (diários) de trânsito, o Brasil envelhece mais rapidamente, por que os velhinhos parecem cuidar-se mais – no volante, ou ao escolherem carona.
Enquanto os idosos se cuidam, nós – que ainda (espero) seremos velhos – não cuidamos deles. Desde 2003, o nosso velho Brasil tem o Estatuto do Idoso, e, até hoje, muita gente – nova, ou idosa – ignora esse direito. Prova disso tem, por todo lugar, nas filas, principalmente, onde ninguém respeita a “preferência aos idosos”. Velhinho pode chegar, nos últimos suspiros, que não adianta: falta “alma caridosa”, apesar de que respeito aos idosos é lei, não caridade.
No que se refere à família dos idosos, a coisa pode piorar mesmo: é cada um por ninguém, e salve-se quem puder. Na maioria das vezes, o que permite que os velhinhos permaneçam em casa é um direito adquirido, bastante conhecido: aposentadoria. Pode ser 'merreca' de aposentadoria, os familiares pegam a grana, e abandonam o velhinho, ou a velhinha, dentro de casa, sem qualquer segurança. Claro que tem pior (sempre tem): algumas famílias exageram, e, além do desamparo, resolvem massagear as rugas dos idosos, exercitar os esqueletos alquebrados, em sessões de violência, com fortes porradas de desabafo. É importante lembrar que nem todos esses casos são denunciados, e só terminam, com a morte de seres humanos que perderam (ou nunca tiveram), junto com a saúde (física e mental), o respeito da família que eles mesmos ajudaram criar. E ainda tem gente que sonha construir futuro seguro, tranquilo...
Na realidade brasileira, tem lei que assegura ao cidadão, a partir dos 65 anos, como prêmio (por ter sobrevivido), direitos preferenciais, em todos os setores - aqueles mesmos de campanha política: saúde, educação, segurança e transporte. Não recebendo os devidos cuidados, cada velhinho pode denunciar aos órgãos competentes (delegacia, Procon, Ministério Público, ou aos vizinhos). Com a criação do Estatuto do Idoso, os velhinhos podem usufruir dos ônibus – urbanos, interurbanos e suburbanos -, sem pagamento de passagem. E ainda pagam meia entrada, como nos velhos tempos de escola, em eventos sociais – cinema, teatro, futebol, comício na praça (a cobrança é outra).
O Censo 2010, do IBGE (para quem não sabe, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil já tem aproximadamente 20 milhões de idosos (quantos com botox? a pesquisa não registrou), cerca de 10% da população. Enquanto isso, gurus da Organização das Nações Unidas (ONU) preveem, sem bola de cristal, que, em 2050, o Brasil terá 22,5% da população com mais de 65 anos (fatalidade). Depois dessa, lá vai minha sugestão aos 'colegas' de geração: Comecemos organizar, a partir de agora, campeonatos nacionais de dominó e tricô, para entretenimento futuro!...
Neste momento, como diria John – o Lennon -, imagine: daqui a pouco, eu, você, e outros milhões de brasileiros, estaremos velhos – até porque ninguém deseja a outra opção que resta. Antes do “descanse em paz” - é o que penso, distanciada dos sonhos e do romantismo -, a paz pode ser tão-somente palavrinha decorativa, usada e abusada em frases de efeito, livros anestesiados pelo tempo, discursos oportunistas, comerciais de margarina...