domingo, 21 de setembro de 2014

E depois?... Como termina?... No final, todos morrem.

Não sei se é por conta da globalização, do capitalismo, ou por causa disso e outras cositas mais, a realidade é que vivemos a nossa insaciável ansiedade, o tempo inteirinho. Se estamos trabalhando, ansiamos voltar pra casa. Se estamos em casa, queremos que o tempo passe, para sairmos. Quando estamos na rua, desejamos férias - de tudo, de todos -, o quanto antes. Se chove, queremos sol. Se tem sol, o que mais desejamos é chuva. Enquanto isso, o tempo passa (bem ou mal passado), de mãos dadas com a vida (bem ou mal vivida).
Sempre me vejo observadora do mundo, dos mundos - cada criatura, um mundo particular. E também me observo - tanto, tanto, que, às vezes, me questiono: Pra que a pressa?... De que me adianta estar onde não estou?... Posso não estar, mas este é, continua sendo, o meu tempo, a minha vida... Por isso (quem sabe?), a insatisfação humana. De nada me adianta comer angu, com frango desfiado, imaginando estar diante de um prato de quiche lorraine.
A realidade é que nós, humanos, tão desumanos, vivemos e personificamos uma ansiedade inimaginável. Já não queremos tempo para degustar os detalhes, momentos de contemplação, entre uma atividade e outra. Aceleramos, cada vez mais, de maneira impensada, certamente, os acontecimentos da vida, feito quando estamos diante da televisão, apertando os botões do controle remoto, numa atitude desesperada e desesperadora. O que queremos? - talvez, nem sequer imaginamos. Quem sabe, também, nem pensamos no que poderíamos desejar, além ou aquém do que estamos vivendo (?). E, assim, insatisfeitos e ansiosos, continuamos trocando canais, modos de vida. Alguns desistentes radicais escolhem tornar-se parasitas, desumanamente inertes, abandonando até mesmo o controle remoto, numa condição sem qualquer réstia de vida.
Nada sacia nossa ansiedade, e acabamos derrotados e desolados, buscando, como último recurso, livrinhos de autoajuda e medicamentos psicotrópicos. Até tentamos mesmo nos convencer de que sofremos depressão, ou tantos transtornos, síndromes e fobias. Enquanto isso tudo acontece, a ansiedade continua lá, dentro de cada um de nós, crescendo, consumindo, nos consumindo.
E depois?... Como termina?... No final, todos morrem.

domingo, 14 de setembro de 2014

"Eles estão surdos"

Na minha insignificante opinião, eles estão cada vez mais surdos - e vocês continuam atuais, Erasmo Carlos e Roberto Carlos, autores da música com esse título aí de cima. Mas o que a maioria não quer saber mesmo é escutar o outro, os outros. Por isso, tem tanta gente que se sente falando sozinha - não é uma questão de sentir-se, mais que isso, está falando sozinha mesmo, por que ninguém quer escutar. Aliás, o que todo mundo deseja é falar e ser ouvido - sem contar todo o tipo de interpretações que pode sofrer, depois que fala. Mas poucos, cada vez mais raros (valiosos), querem escutar. A realidade é que os surdos (grande maioria) estão cada vez mais falantes, e ainda dizem: “você não me falou”, o que poderia ser traduzido para “eu não escutei você”. Pelo menos, seria real.
Tenho um amigo que, há alguns meses atrás, quis fechar o escritório que tinha, para viajar, estudar. Planejou tudo, durante meses. O que ele não previu foi o incidente com a secretária. Como meu amigo tinha de entregar o imóvel, naquela semana, chamou a secretária, para comunicar-lhe que, como já havia dito a ela, informalmente, estava fechando o escritório.
A secretária entrou na sala do patrão, com papeis, a serem assinados por ele, e a agenda dos telefonemas que atendera. Ela falava tanto, repetindo as tarefas, que meu amigo simplesmente perdeu a batalha: não conseguiu frear aquela cantilena, mesmo depois de ter quase gritado. “Ela não me ouvia”, reclamou meu amigo, enquanto contava que foram três dias assim: a secretária cumprimentava-o, quando ele chegava ao escritório, e depois adentrava à sala dele, falando, falando sem parar.
Derrotado, meu amigo não teve opção: entregou a sala, no início de uma noite, e encaminhou a papelada toda de demissão da secretária, com o devido pagamento, ao advogado contratado por ele. Depois do relato, perguntei, irônica: Você a viu, depois disso?... E ele, gargalhando, contou que, algum tempo depois, escutou um “rosário de reclamações”, no balcão de uma empresa aérea. Era a ex-secretária do meu amigo, que não deixava mais ninguém falar - nem ouvia que o voo dela já havia partido, enquanto ela gritava e gesticulava para um pobre atendente, que assentia com a cabeça, mudo, depois de desistir de ser escutado.