sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Feliz Dia da Criança Feliz!

Sinceramente? Penso que a gente adulta vem, ou vai, perdendo a memória. Esquecemos que ninguém nasce racista, homofóbico, criminoso, assassino. Por esquecimento, continuamos permitindo (sempre escolha) que mais crianças cresçam nas ruas, em completo desamparo. Isso não é culpa de governo, ou qualquer outro poder instituído, seja no Brasil, ou até mesmo na ilha de Tristan da Cunha, o lugar mais longe do mundo. Na realidade, a culpa nem existe - o que deveria haver seria uma outra coisa: responsabilidade humana. Para acabar com qualquer esperança de conscientização, ainda confundimos conceitos e práticas: família educa; escola ensina.
Conseguimos ser piores, quando separamos nossos filhos dos filhos de ninguém, dizendo que não existe a menor comparação. Acredite, nenhuma criança nasce de um pé de repolho, ou pimenta. Esquecemos (o que deveríamos saber, antes mesmo das vogais do alfabeto) que crianças são crianças, em qualquer condição, em qualquer lugar do mundo - têm sonhos, desejos e medos -, e crescem, tornam-se adultas. Continuamos todos assim - sonhadores e medrosos.
Por isso, pra mim, Dia da Criança só é feliz, quando a criança se sente feliz, tem alegria de viver. O resto é marketing, engodo, para não nos sentirmos culpados, responsáveis pelas crianças que vemos nas praças, debaixo de pontes e viadutos, nas ruas, nos semáforos. Eu venho lembrar isso: São crianças, sim. Nem sempre as carinhas estão lavadas, os cabelos penteados e cortados, as roupas limpas e com etiquetas. Mas continuam sendo crianças. A maioria desses menores, filhos de ninguém, nem sabe que é infeliz, por que desconhece esse tipo de parâmetro, ou exemplo. A maioria até tenta parecer feliz, criando brincadeiras, no meio da rua. Mas nem um olhar adulto se interessa por isso. A maioria dos maiores, quando se depara com essas crianças “mulambentas”, o mínimo que faz é proteger a carteira, o bolso, a bolsa, o celular última geração, proteger o que tem e o que aquele ser quase invisível provavelmente nunca terá.
Tem gente (boazinha) que ainda mantém o hábito (caridoso) de preparar pacotes com doces e brinquedos, e distribuí-los em instituições que abrigam e atendem crianças. Já tentei fazer isso, também. Não deu certo, quando ouvi uma senhora, que atendia num orfanato, dizer que, tanto quanto podia, guardava alguns pacotes de balas e pirulitos, para entregar às crianças, pelo menos uma vez por mês, mesmo quando a validade já havia sido vencida pelo tempo. Compreendi que aquela senhora queria manter viva a chama de esperança, naquelas dezenas de crianças. Foi quando desisti da caridade com hora marcada.
Somos tão inteligentes e hábeis, que sabemos lidar com toda essa altíssima tecnologia que nos assalta, diariamente. Também, sabemos que, lá fora, até as ruas, ou o mais simples banco de praça, quando não recebem atenção e cuidado, acabam deteriorando. Um parque que não é limpo é invadido, em pouco tempo, por ervas daninhas. Por isso, cuidamos dos parques, das ruas, dos bancos de praça. Se você leu até aqui, pode estar perguntando: E as crianças em condição de rua?... Eu respondo: continuam invisíveis, ao nosso olhar cego de quem não tem a ver com isso, nem quer pensar a respeito.
Ah, claro (quase esqueci): Daqui a pouco, será 12 de outubro: Feliz Dia da Criança Feliz! Por que as crianças infelizes continuarão sendo infelizes, até que a gente escolha fazer alguma coisa, para mostrar que a felicidade pode realmente existir (pra nós, e para os outros), quando a gente exercita sobrepor o próprio umbigo.