quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

No balanço de final de ano

Todo final de ano é a mesma coisa: bate aquela depressão sazonal, que resolve ficar de papo com o ‘grilo falante’(consciência) da gente. Tem coisas que, não adianta, você precisa, tanto quanto possível, esquecer, ou, pelo menos, não lembrar. No desesperado balanço de final de ano, você pode até cortar os pulsos, mas isso só causaria dívidas (médica, ambulatorial, hospitalar), além do sentimento de culpa, pelos transtornos à família, justamente quando todo mundo prepara festas e festas.
De soslaio, você dá uma olhada no extrato (vermelho de vergonha) do seu cartão de crédito, e logo vê que vai demorar muito para zerar de vez aqueles números cada vez mais aterrorizantes. Você até tentou fazer aquela dieta de abobrinhas, mas não foi longe, por que esqueceu tudo, no rodízio de pizza, regado a chopp.
Você prometeu ao seu ‘grilo falante’ que, este ano, sim, pediria demissão do seu trabalho medíocre, e venderia suco na praia, tempo em que pensaria o que fazer da vida, depois do verão acabar. Você queria tanto, no início do ano, fazer “pé de meia”, e hoje culpa a crise econômica mundial, por ter ficado até sem a meia.
Em vez de ficar no pedido de perdão, mostre, pra você mesmo, que sabe crescer, e não repita a causa das dores, nos outros. São tantos os erros humanos – pra que repeti-los?… Mas nada de armas letais, por favor. O mundo, que está cheio de psicopatas, fascistas e terroristas, agradece, por continuar existindo – antes e depois de você.
Às vésperas de ano novo, não dá pra encarar análise da própria vida, muito menos discussão de relação, né?… É demais, pra cabeça de qualquer um – até de quem não está habituado a pensar, por não querer. Mas o mais importante é que você chegou até aqui – e tem um novo ano pela frente. O que passou, passou (mesmo!), já foi – ficou você, e tudo o que você pode fazer e ser (de melhor). Sem segredos. Sem mistérios. Sem revelações. Simples assim.
Outros anos virão e virarão, como este – com, ou sem, o seu balanço, independente das suas escolhas. Enquanto tantos morrem – e nascem -, você continua vivo, colocando, sempre fora do seu alcance, o que chama projeto de vida. A princípio, pode até ser projeto de vida mesmo, por que você projeta em vida – nada além disso, por que continua balançando entre as suas escolhas, como se o projeto de vida fosse independente, agisse por conta própria (quem dera!). Faça novos projetos (entusiastas), aqueles que você sabe, de antemão, que, além da capacidade, você tem o forte desejo de.
Se você resistir ao final de mais esse ano, e não cortar os pulsos, nem se jogar de cima da mesa, você sobrevive. Vai ficar tudo bem. Um novo ano chega, com sabor e cheiro de ano novo – faça sua parte (poxa!), renove os sonhos, limpe as gavetas da alma. Se puder, faça mais: tome um porre, ou dois, dance “na rua, na chuva, na fazenda”, faça declaração de amor ao poste sem luz, durma no gramado – na praça mais próxima. E nunca esqueça que nem tudo é como a gente quer que seja – nem fatos, nem pessoas, nem nós mesmos. A vida flui – colorida (até preto e branco são cores) -, em todos os matizes, idiomas, olhares e gestos, por todos os cantos. Compreenda que essa realidade, com tantas semelhanças e diferenças, é o jeito de a própria vida se sonhar. E sonha, também, você – sonha com sonhos que você jamais sonhou que pudesse sonhar. Pense: serão mais 8.784 horas, até você pensar em voltar a pensar no que fez, deixou de fazer. Ano novo é pra isso: Carpe diem!