sábado, 29 de julho de 2017

à deriva

Nossa pátria amada Brasil está parecendo barco à deriva. Tem gente que torce para que o casco fure, e o barco afunde logo. Outros jogam água dentro do barco, para que afunde, bem antes de corroer o casco. Os enjoados só reclamam do marulho, das tempestades, da falta de caviar, dos ventos, do sol escaldante, da chuva fria, dos dias, das noites, da vida. Alguns se precipitam para fora do barco, até de olhos fechados. Alguém sonha acordado com anzol, enquanto aves não fazem outra coisa, senão arriscarem voos rasantes, atrás de alimento vivo, que salta nas águas. Há aqueles que só discursam aos ventos, lembrando fatos históricos acontecidos no mesmo barco. Na proa, alguém grita, ninguém entende: “Veja a época. Isto é globo”. Outros nem sabem que velejam sem destino, ou meta traçada, e fazem poesia da paisagem. Alguns ocupantes se identificam como náufragos, e só o que fazem é chorar e sentir pena de si mesmos. Na despensa quase vazia, alguém rouba a cabeça de um bagre desnutrido, e a engole inteira. Os pessimistas fazem qualquer um desistir de uma tentativa sensata para salvar o barco. Há aqueles que agarram lata vazia, colocam-na na cabeça, e se denominam reis, e chegam brigar entre eles. Aos poucos, um pequeno grupo se reúne, próximo da popa, debate sobre a realidade em que vive, e fica deprimido. Perto dali, meia dúzia batuca e canta marchinhas de carnaval, para alegrar a população, por pouco tempo. Logo, um líder evangélico corta as asas da alegria, e o barco escurece em depressão. Hipocondríacos encontram e distribuem antidepressivos – conformismo geral. Outros procuram óleo de peroba, para fazerem brilhar a embarcação. Poucos ainda perscrutam bússola, sinalizadores, salva-vidas, até leme de vento, e tentam se equilibrar, entre proa e popa, bombordo e estibordo. Alguns permanecem escorados, nas anteparas, sem se importarem com solavancos. O que todo mundo quer mesmo é ser o timoneiro do barco, que segue sem rumo – às vezes, sacode tanto, que parece virar, antes mesmo da próxima onda. Tem quem passe mal. Tem quem passe bem. Tem quem queira passe livre. De repente, um dos incautos, com uma caixa de fósforos na mão e um punhado de fé, pergunta: alguém viu a vela desse barco?...

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