quinta-feira, 18 de março de 2010

Não falta mais

Primeiro, descobriram a roda, e ninguém lembrou da mãe. Depois, inventaram a bola, e aí não teve jeito: com a bola, apareceu o futebol, e, com o futebol, desde 1894, não param de xingar a mãe, principalmente a do árbitro, em campo. No campeonato paraibano, estão proibidos todos os xingamentos, nos campos de futebol. A medida é educativa, mas, dependendo do xingamento, o responsável pode ir à prisão.
Agora sim, não falta mais coisa alguma pra proibir. Se nem em campo, os xingamentos têm vez, o jeito é enfiar a cara na privada, e desabafar – ou não. Peraí, gente, o que tá fazendo mal, nos campos de futebol e fora deles, é a violência das torcidas, que não perdoam, e, literalmente, “soltam os cachorros” (“pitbull”, provavelmente). Se comparado aos assassinatos de torcedores, um palavrão envolvendo a senhora mãe do juiz vira até elogio... né não?...
Pessoalmente, nem sei torcer por time de futebol, seja qual for, incluindo até a seleção brasileira. Quer saber mais?... Quando assisto alguma partida, por causa da companhia que tenho, o que vejo são meninos crescidos brigando, não por causa de uma bola - pra se sobressair em campo, pra que todo mundo os aplauda.
Por não gostar de futebol, inclusive, pouco me interesso por regras do jogo. Acabo sempre observando manifestações de medo, orgulho, vaidade e raiva – aquela raiva que faz o jogador ficar tão ‘puto da cara’, atravessar o campo, sem o menor charme, driblando até o juiz e os bandeirinhas, pra fazer o gol que nem ele acredita ser capaz. É só o que consigo ver em campo, e dificilmente me mantenho paradinha no sofá, 45 minutos, sem dar um tempinho pra minha cabeça...
Voltando à questão do campeonato paraibano, que proíbe os xingamentos em campo, acho a medida muito rigorosa – ‘pegaram pesado’, desta vez. Sabemos, todos nós, que é tradição no futebol brasileiro, os torcedores xingarem o juiz, os bandeirinhas, e, de “lambuja”, as respectivas mães. Você consegue imaginar um torcedor pensando na mãe do senhor juiz, quando grita revoltado: “filho da puta”?... Estamos falando de Brasil, gente, onde os amigos se tratam mutuamente como “filhos da puta” – às vezes, alguma mãe distraída chama o próprio filho de “filho da puta”, e todos riem juntos...
E tem mais: quem vai aos estádios de futebol, já vai preparado pra xingar, ser xingado, e voltar pra casa aliviado. Tô errada?... Ou será que já existem torcidas organizadas ensaiando Shakespeare, pra apresentarem nas arquibancadas?...
Oras carambolas, precisamos jogar fora, pelo menos um pouco, a hipocrisia que nos foi impingida... Estádio é lugar de xingamento, sim... Só não existe lugar próprio pra violência – violência é representação de medo, covardia, burrice humana... Campo de futebol é local de brincadeira de gente grande – pelo menos, eu acho que é, ou espero que seja. Com todos os palavrões imagináveis e inimagináveis. Que a senhora mãe do juiz não se ofenda. Nada pessoal.

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