segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

“Little Fish”

Quem já assistiu o filme “Big Fish” vai compreender melhor o que vou tentar escrever aqui – ou não. Só não me auto-denomino “Big Fish”, por que sou pequena (de corpo, e alma também) – melhor mesmo “Little Fish”.
Constantemente, me apercebo falando de pessoas e fatos, os quais, se eu não tivesse presenciado e vivido, até eu duvidaria que existiram – alguns ainda existem, resistindo os solavancos do tempo. Há tantos personagens que, na minha visão estrabica, escapuliram de livros inacabados, e resolveram (quem sabe?) divertir-se num universo mais amplo.
Talvez, como falou aquele homem, na praça, empostando a voz: “Somos todos personagens de um livro, cujo autor desconhecemos”. Se assim for, acho que o autor da historia humana, há muitos seculos, milenios até, perdeu a meada do fio – não sabe mais aonde foram parar todos os personagens do grande livro da vida. Melhor eu parar por aqui, nas conjecturas, por que minha imaginação pode ir além da imaginação – e surpreender (será?), mais ainda, quem pode intitular-se “autor” dessa historinha toda.
Semelhante a você, também eu conheci e conheço “tanta diferente gente”. Alguns, em especial, ficam guardados, em minha alma torta, como personagens de livros que ainda não li – talvez, livros inacabados, esquecidos no fundo de gavetas esquecidas. A verdade é que todos nós temos peculiaridades que chamam alguma atenção. “De perto, ninguém é normal” – já cantou o poeta Caetano Veloso. Nem questiono “normalidade”, por não dispor (muito menos ser) parametro disso.
Por diversas vezes, já me vi sendo observada como “bicho do mato” – bicho estranho mesmo. Talvez, eu seja isso mesmo – ou nem isso -, mas não estou sozinha, nesta floresta de sombras. Há muitos personagens – mais interessantes, inclusive – cada qual, com jeito unico de conduzir a propria vida, mesmo quando afirma que se deixa conduzir pela vida.
É justamente aí que lembro de “Big Fish” – o “the end” do filme, quando os personagens todos se reúnem, no grande ritual de despedida da vida do protagonista. A “Little Fish” aqui também sonha reencontrar os tantos personagens que a vida fez emergirem de livros inacabados, no “the end” da minha vida também inacabada. E aprender ainda mais com todos eles.
São tantos personagens que surgem, sem qualquer resquicio de memoria do livro que lhes deu vida, diante da minha visão estrabica!... Cenas inusitadas permeiam a memoria da minha alma, e, volta e meia, saltam do passado, fazendo-se, mais uma vez, presentes. Alguém, ao ouvir sobre dor de cabeça, interrompe, dizendo: “Eu sabia que você estava com dor de cabeça, por que acordei com dor de cabeça, hoje, e lembrei de você” (e, assim também, com dor de barriga, vomito, diarreia, etc). Outro personagem, bastante conhecido por todos, analfabeto, sempre dá um jeitinho de acrescentar a tudo o que diz: “Li, no meu livro de ciencias, que um dia descobririam solução para esse mal” (seja o mal que for falado).
Fofoqueiros são os personagens mais comuns – previsiveis até. Em qualquer lugar, a qualquer hora, tem um lá, de plantão: “Você conhece fulano?” (interrompo no ato, e saio da página do livro que não gosto de ler). Mas ainda há aqueles fofoqueiros “experts”, que chegam com outra conversa: “Você foi na casa dos fulanos?... Como é a casa deles?... (antes do “conte-me tudo”, eu já estou olhando outros livros...)
São tantas historias, tantos personagens!... Cada um de nós tem o diferencial e o amalgama humanos. Até que o conteudo das historias pode assemelhar-se, mas sempre há alguma coisa dissonante: o cenario, os personagens em cena, a fala de cada um, o começo, o meio, e até o final da historia. Na visão de cada um, representamos um outro personagem, às vezes, distante até do que nós mesmos nos sabemos.
Ainda que pareça estorias de “Big Fish”, a “Little Fish” aqui acredita: Podemos ser “personagens de um livro, cujo autor desconhecemos” – ainda assim, continuamos existindo, e, à revelia do “andar da carruagem”, escrevemos e reescrevemos nossa propria historia.
“The end”.

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