sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Escolha canina

Em casa, recebia ordens – e, sem pensar, obedecia cegamente – do pai, da mãe, dos avós, dos irmãos, até do cachorro...
Casou, e foi receber ordens – e obedecer – do marido, da família do marido, até do cachorro (que era outro)...
Casal separado, recebia ordens – e obedecia – dos filhos, dos amigos, e também do cachorro (que era outro)...
Decidiu trabalhar, e foi receber ordens – sem questionar – do patrão, dos colegas de trabalho, além do cão de guarda (que era outro)...
Velha, cansada, quis conhecer o mundo, e passou obedecer ordens de funcionários de agências de turismo, aeroportos e estações, hotéis e shoppings, e dos cachorros (que eram outros)...
Quando parou para pensar na própria vida, não havia mais ninguém para lhe dar ordens, nem sequer um cachorro (que poderia ser outro)...
Não sabia o que fazer, senão, seguir vivendo a escolha canina – e não havia um mísero cachorro para lhe ordenar... Numa esquina qualquer, um (outro) cão desconhecido a atacou. Morreu – ninguém ordenou-lhe. Mas, um dia, morreria - todo mundo morre. E só.

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