Nosso Brasil está envelhecendo, ainda que não aparente
(será por causa do botox?). Afinal, pouco mais de cinco séculos não
quer dizer grande coisa – para os orientais, principalmente. Mas,
para nós, simples mortais complicados - por que complicamos -, 512
anos equivalem algumas encarnações (para quem acredita em
encarnação, reencarnação). Até acho que, com a morte de tantos
jovens, em acidentes (diários) de trânsito, o Brasil envelhece mais
rapidamente, por que os velhinhos parecem cuidar-se mais – no
volante, ou ao escolherem carona.
Enquanto os idosos se cuidam, nós – que ainda
(espero) seremos velhos – não cuidamos deles. Desde 2003, o nosso
velho Brasil tem o Estatuto do Idoso, e, até hoje, muita gente –
nova, ou idosa – ignora esse direito. Prova disso tem, por todo
lugar, nas filas, principalmente, onde ninguém respeita a
“preferência aos idosos”. Velhinho pode chegar, nos últimos
suspiros, que não adianta: falta “alma caridosa”, apesar de que
respeito aos idosos é lei, não caridade.
No que se refere à família dos idosos, a coisa pode
piorar mesmo: é cada um por ninguém, e salve-se quem puder. Na
maioria das vezes, o que permite que os velhinhos permaneçam em casa
é um direito adquirido, bastante conhecido: aposentadoria. Pode ser
'merreca' de aposentadoria, os familiares pegam a grana, e abandonam
o velhinho, ou a velhinha, dentro de casa, sem qualquer segurança.
Claro que tem pior (sempre tem): algumas famílias exageram, e, além
do desamparo, resolvem massagear as rugas dos idosos, exercitar os
esqueletos alquebrados, em sessões de violência, com fortes
porradas de desabafo. É importante lembrar que nem todos esses casos
são denunciados, e só terminam, com a morte de seres humanos que
perderam (ou nunca tiveram), junto com a saúde (física e mental), o
respeito da família que eles mesmos ajudaram criar. E ainda tem
gente que sonha construir futuro seguro, tranquilo...
Na realidade brasileira, tem lei que assegura ao
cidadão, a partir dos 65 anos, como prêmio (por ter sobrevivido),
direitos preferenciais, em todos os setores - aqueles mesmos de
campanha política: saúde, educação, segurança e transporte. Não
recebendo os devidos cuidados, cada velhinho pode denunciar aos
órgãos competentes (delegacia, Procon, Ministério Público, ou aos
vizinhos). Com a criação do Estatuto do Idoso, os velhinhos podem
usufruir dos ônibus – urbanos, interurbanos e suburbanos -, sem
pagamento de passagem. E ainda pagam meia entrada, como nos velhos
tempos de escola, em eventos sociais – cinema, teatro, futebol,
comício na praça (a cobrança é outra).
O Censo 2010, do IBGE (para quem não sabe, Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil já tem
aproximadamente 20 milhões de idosos (quantos com botox? a pesquisa
não registrou), cerca de 10% da população. Enquanto isso, gurus da
Organização das Nações Unidas (ONU) preveem, sem bola de cristal,
que, em 2050, o Brasil terá 22,5% da população com mais de 65 anos
(fatalidade). Depois dessa, lá vai minha sugestão aos 'colegas' de
geração: Comecemos organizar, a partir de agora, campeonatos
nacionais de dominó e tricô, para entretenimento futuro!...
Neste momento, como diria John – o Lennon -, imagine:
daqui a pouco, eu, você, e outros milhões de brasileiros, estaremos
velhos – até porque ninguém deseja a outra opção que resta.
Antes do “descanse em paz” - é o que penso, distanciada dos
sonhos e do romantismo -, a paz pode ser tão-somente palavrinha
decorativa, usada e abusada em frases de efeito, livros anestesiados
pelo tempo, discursos oportunistas, comerciais de margarina...
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