sábado, 8 de dezembro de 2012

O saco cheio do Papai Noel

Chega mais um mês de dezembro, quando a humanidade se enche de humanidade. Tem muita gente já comprando e distribuindo cestas básicas, balas, pirulitos, bolas e bonecas, por todo lugar – por aí, por aqui. Nada contra, mas penso que esse excesso de bondade poderia ser melhor distribuído, nos doze meses de cada ano.
Tem gente que só lembra de algum familiar, ou amigo, no final do ano – entre o Natal e o reveillon. Nunca entendi muito bem isso. Como também não entendo tanta coisa em mim, prefiro pensar que, pelo menos, as pessoas recuperam alguma memória perdida – coincidentemente, sempre no final de ano.
A realidade mesmo é que a maioria resolve ser boazinha, por tempo limitado. O prazo de validade começa expirar, nas primeiras semanas de dezembro, acabando de vez, na primeira semana de janeiro. Isso é tão notório, que tem gente que sempre se aproveita deste período, para chamar a atenção, fazendo pedidos inimagináveis de presentes com preços inimagináveis.
Também nesta época, muita gente faz promessas – possíveis e impossíveis. As promessas (claro!) sempre estão embasadas nas frustrações do ano que termina. Os mais espertos, em vez de prometerem o que, sabem, não vão cumprir, preferem fazer simpatias, no fim do ano. E já ninguém dá mais bola para o ridículo de contar e comer sementes de uva, ou vestir roupas apertadas, ou fora de moda, com a “cor da sorte”.
Confesso que fico um tanto reticente, a cada final de ano, diante de tantas caridades, solidariedades, bondades, e outras “dades”. Em vez de pensar sobre isso, ainda prefiro acreditar que, no próximo ano, seremos melhores – com a gente mesma e com os outros -, antes mesmo de chegar dezembro.
Dia desses, fiquei sabendo, por um favelado, que dois veículos estacionaram, junto aos barracos onde ele mora. Os dois motoristas foram lá fazer doações – cestas básicas, brinquedos, e todo resto vendido em liquidação de lojinhas de um real. “Até aí, tudo bem, por que já estamos acostumados, todo fim de ano, ser lembrados, mais uma vez” - disse o favelado. O pior da história, ele deixou pro final: “A coisa ficou feia, quando os motoristas se xingaram e brigaram, com socos e pontapés, por que queriam ser o primeiro a fazer a doação. E primeiro é só um, né?”
Mas ainda tem algo mais gritante, em todos os fins de anos: as propagandas do comércio, na televisão, nas rádios, nos jornais, na internet. Toda vez, é a mesma coisa: eu quase me convenço de que, comprando isso ou aquilo (especial = caro e descartável), vou fazer alguém feliz (provavelmente, o vendedor do produto).
Depois disso tudo, eu prefiro ignorar as campanhas – publicitárias e de arrecadação de doações –, pelo menos, no final de cada ano...
Até o Papai Noel já deve estar de saco cheio...

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