Chega mais um mês de dezembro, quando a humanidade se
enche de humanidade. Tem muita gente já comprando e distribuindo
cestas básicas, balas, pirulitos, bolas e bonecas, por todo lugar –
por aí, por aqui. Nada contra, mas penso que esse excesso de bondade
poderia ser melhor distribuído, nos doze meses de cada ano.
Tem gente que só lembra de algum familiar, ou amigo, no
final do ano – entre o Natal e o reveillon. Nunca entendi muito bem
isso. Como também não entendo tanta coisa em mim, prefiro pensar
que, pelo menos, as pessoas recuperam alguma memória perdida –
coincidentemente, sempre no final de ano.
A realidade mesmo é que a maioria resolve ser boazinha,
por tempo limitado. O prazo de validade começa expirar, nas
primeiras semanas de dezembro, acabando de vez, na primeira semana de
janeiro. Isso é tão notório, que tem gente que sempre se aproveita
deste período, para chamar a atenção, fazendo pedidos
inimagináveis de presentes com preços inimagináveis.
Também nesta época, muita gente faz promessas –
possíveis e impossíveis. As promessas (claro!) sempre estão
embasadas nas frustrações do ano que termina. Os mais espertos, em
vez de prometerem o que, sabem, não vão cumprir, preferem fazer
simpatias, no fim do ano. E já ninguém dá mais bola para o
ridículo de contar e comer sementes de uva, ou vestir roupas
apertadas, ou fora de moda, com a “cor da sorte”.
Confesso que fico um tanto reticente, a cada final de
ano, diante de tantas caridades, solidariedades, bondades, e outras
“dades”. Em vez de pensar sobre isso, ainda prefiro acreditar
que, no próximo ano, seremos melhores – com a gente mesma e com os
outros -, antes mesmo de chegar dezembro.
Dia desses, fiquei sabendo, por um favelado, que dois
veículos estacionaram, junto aos barracos onde ele mora. Os dois
motoristas foram lá fazer doações – cestas básicas, brinquedos,
e todo resto vendido em liquidação de lojinhas de um real. “Até
aí, tudo bem, por que já estamos acostumados, todo fim de ano, ser
lembrados, mais uma vez” - disse o favelado. O pior da história,
ele deixou pro final: “A coisa ficou feia, quando os motoristas se
xingaram e brigaram, com socos e pontapés, por que queriam ser o
primeiro a fazer a doação. E primeiro é só um, né?”
Mas ainda tem algo mais gritante, em todos os fins de
anos: as propagandas do comércio, na televisão, nas rádios, nos
jornais, na internet. Toda vez, é a mesma coisa: eu quase me
convenço de que, comprando isso ou aquilo (especial = caro e
descartável), vou fazer alguém feliz (provavelmente, o vendedor do
produto).
Depois disso tudo, eu prefiro ignorar as campanhas –
publicitárias e de arrecadação de doações –, pelo
menos, no final de cada ano...
Até o Papai Noel já deve estar de saco cheio...
Nenhum comentário:
Postar um comentário