segunda-feira, 21 de junho de 2010

Burburinhos cotidianos

Enquanto a bola rola (nem tão solta) na África, a outra bola (cadinho maior) – o planeta – continua rodando, e fazendo as coisas acontecerem, ou serem acontecidas. Na minha vidinha, tenho presenciado, como toda gente, tantos burburinhos cotidianos, que, pra mim, representam vida, quase sempre desapercebida, que passa... No meio (ou começo, ou fim) de tudo, registro alguns fatos:

De olho na televisão ligada na vitrine da loja de produtos importados, o morador de rua comemora sozinho um gol da seleção brasileira, na Copa 2010. Depois, se afasta, cabisbaixo, olhando pra trás...

Diante do semáforo com sinal vermelho, o motorista resolve parar o carro justamente em cima da faixa de segurança, longe de qualquer olhar policial. No exato momento, o pedestre ‘escala’ o dito carro, atravessando a rua, respeitando a faixa de segurança debaixo do veículo.

O garoto foi esquecido, na sala de aula. No final do turno, a professora trancou a porta, e saiu com os demais alunos, deixando-o lá dentro. O menino sentiu medo, gritou, fez todo barulho que pôde, e acabou mijando na lixeira. Envergonhado e vencido, saltou pela janela do segundo andar da escola.

No meio do caminho, tinha um corpo de passarinho – corpo esquecido, esmagado, comprimido no asfalto...

Um velho maltrapilho remexe na grande lixeira, de onde retira um saco preto rasgado. Escondendo-se entre as poucas árvores do canteiro, o velho lambe as embalagens abertas com voracidade.

Da calçada, pela porta da igreja aberta, pode-se ouvir o pastor: “Aleluia, irmãos! Que importância tem o dinheiro, se podemos ter o reino dos céus?... Doem seus dízimos!”...

A criança chora na calçada, enquanto os pais gritam mais alto: “pare de chorar!”... Na esquina, a criança interrompe o choro, ao enxergar outra criança rindo à direção de um saco plástico vadio que voa com o vento, na avenida em movimento.

No bar da esquina, jogando cartas, um velho diz para o outro: “Isso aí que você contou não aconteceu no nosso tempo”. “O meu tempo é agora!” – responde o outro.

Um cachorro de rua espirra – na rua, claro -, e o corpo dele estremece...

Na estrada:
- Quer carona?...
- Não, obrigado.
- Você nem pediu pra onde vamos.
- Também não sei pra onde vou, mas não quero ir com vocês...

Uma velhinha cruza a calçada, cantarolando Pixinguinha e João de Barro: “...o muito, muito que te quero, e como é sincero o meu amor...”

... e a vida ainda pulsa...

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