segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A liberdade que escraviza

Que liberdade é essa, cantada aos quatro ventos?... Falamos tanto em liberdade, que, acho, nem chegamos notar que o que chamamos liberdade nos escraviza. Somos movidos, na maior parte do (nosso) tempo, a condicionamentos, por que, assim, não precisamos pensar – e pensar sobre tudo é muito chato, cansativo. Se convivemos com gente que decide o cardápio do almoço, o restaurante que vamos jantar, o vinho que tomamos, a roupa que nos ‘cai bem’ – melhor ainda, não precisamos tomar iniciativa alguma de decisão.
Nem quero escrever sobre as ‘jaulas’ em que vivemos, na aparente proteção contra a violência da rua, do bairro, da cidade, do Estado, do País, do planeta. Pra mim, são grades que nos remetem à nossa condição (original) de animais que ainda somos – racionais, humanos, mas sempre animais, com inteligência e instinto, nem sempre bem dosados. Animais com medo dos outros animais, que rondam e vociferam, lá fora, querendo ter a vida que imaginam termos.
Acho que liberdade oferece sempre bônus e ônus. É preciso estar atento, por que nem sempre a liberdade que ousamos vem com etiqueta indicando o preço que temos de pagar por ela. No que toca à liberdade humana, a cobrança é sempre alta, inimaginável até, pra quem desafia o desconhecido. Talvez, o preço mais alto que pagamos seja justamente por querermos ser quem achamos que somos, ou podemos ser. Enquanto deliramos estar sendo honestos (conosco mesmos), desafiamos a liberdade de ousar manifestarmos o que sentimos e pensamos. A cobrança, depois de tamanha liberdade, chega em seguida, em valor que nos avilta até a alma. Se tivemos a liberdade de manifestarmo-nos, diante do outro, também o outro ousa, como nós, ter a liberdade de sequer questionar as certezas dele, na tentativa de nos compreender. Certezas são implacáveis: não há liberdade que as liberte.
Alguém já viu por aí, em qualquer lugar, placas indicando:
- Para atravessar em sinal verde, corra!
- Xingue o balconista, por que cliente sempre tem razão!
- Pise na grama, mas não pise na florzinha!
- Depois de passar pelo balcão de recepção, pode tirar a camisa!
- Proibida a entrada de cachorros que não estiverem escondidos em bolsas, malas, ou pacotes!
- Se ninguém reclamar, pode furar a fila!
- Não aperte a descarga, por que todo mundo faz igual!
Pra liberdade, não há placas de aviso – os deveres ocupam todas as placas. E nós, pobres mortais seres humanos, acatamos (quase) todas as placas, sem sequer questionarmos. Assim agimos em relação à lei, esquecendo que também existem leis que nos garantem direitos à liberdade – liberdade que vai além, muito além das máscaras que nos enjaulam, nos afastam, e nos fazem esquecer a sensação de vento ventando na nossa cara limpa...

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