segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Um quase mantra

Há algum tempo, meu fundo musical tem sido “Paciencia”, de Lenine, especialmente, com Olívia e Francis Hime. Pra mim, é um quase mantra, na minha infinita tentativa, na minha finita vida, de, senão manter, pelo menos, buscar (saber que existe) o equilibrio – o meu equilibrio, que não é de mais ninguém, pois cada qual tem (nem sempre) o proprio equilibrio.
Ouvindo meu quase mantra, fico pensando o quanto tornamos a vida ironica. Uma liçãozinha basica, que continuamos também aprendendo na escola, é a conhecida “lei do retorno”. Eu costumo dizer que cada escolha nossa é um bumerangue em voo: vai, e volta. A ironia está justamente aí: plantamos tamarindeiro, esperando colher rosas, ou, então, insistimos pedir bife, em farmacia.
Cada um de nós só pode dar, e dá, o que tem. Ainda assim, a escolha é nossa: se queremos receber, ou não. Mas teimamos, tantas vezes, para que o outro corresponda ao que pensamos necessitar. O outro, que não é a gente, devolve o bumerangue, carregadinho de expectativas dele, junto com tantas frustrações. Diante disso, o atrito se estabelece, e o que poderia ser convivencia harmoniosa torna-se “samba do crioulo doido”.
Na minha opinião insignificante, os dialogos estão cada vez mais raros, pois o que a maioria exercita são monologos infindáveis: eu falo, eu escuto, e só eu compreendo o que digo. Enquanto isso, o outro faz a mesma coisa: ele fala, ele escuta, e só ele compreende o que diz. Isso, quando não falam ao mesmo tempo – aí, ninguém se entende mesmo. Pra mim, que não sou exemplo nem a mim mesma, ouvir o outro significa silenciar o dentro da gente, na tentativa de absorver o que a gente escuta. Se, enquanto o outro fala, eu fico pensando, mais e mais, não há sintonia. Se o outro faz isso comigo, o bumerangue faz o mesmo trajeto: vai ignorando, volta ignorado.
Mas as pessoas (a maioria, me parece) não querem pensar essas coisas “chatinhas”. Até parece que preferem continuar se desgastando, fazendo força, para arremessar o bumerangue, cada vez mais longe, à espera de algum milagre. Quanta ironia!...
E, pior ainda (sempre tem pior), há os que agridem – com palavras e ações -, e, mais que esperar, exigem retorno de manifestações de afeto, respeito e admiração. Fica difícil. Até a Física diz isso: bumerangue vai, bumerangue volta. Detalhe: é o mesmo bumerangue que volta – ele não muda de cor, nem se transforma em outro. E ainda tem mais. Quando alguém sofre uma dor muito grande, podemos fazer dois julgamentos: se gostamos desse alguém, coitado dele; se não gostamos, está pagando pelos males que já cometeu. E isso é tudo – a única verdade é o sofrimento, que só o outro vivencia.
Sempre digo que gosto do “olho no olho” - mais que força de expressão, pra mim, isso (o “olho no olho”) representa a tentativa mutua de entendimento. Eu não consigo enxergar outro caminho – isso não quer dizer que não exista (o que não existe é visão minha). Fica difícil encarar, né?... Primeiro, tentamos racionalizar o que sentimos, buscando palavrinhas milagrosas que nos traduzam. Depois, precisamos verbalizar o resultado do que fizemos internamente, ao outro, que tem outra visão sobre a vida, em razão de ter vivenciado o que vivenciou, de outro jeito. Mas a ironia do tão sonhado dialogo não pára por aí. Enquanto verbalizamos, o outro pode escolher não querer nos ouvir, e nos interpretar, concluindo o que falamos, sem nos questionar. Também nós (cada um) agimos do mesmo jeito, quando o outro verbaliza, e ainda justificamos que precisamos nos proteger, que a vida nos fez assim, etc e tal. Quer ironia maior que essa?...
No final da historinha toda, dois egos, ou mais, afastam-se uns dos outros, fortalecendo o individualismo, e, às vezes, até levantando bandeiras e faixas em defesa da solidão. E todo mundo vai dar uma voltinha (comemorativa) – cada qual de braços dados com a sua propria razão... O amor (pelo proprio umbigo) é lindo!...

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