“Nada será como antes” - canta o poeta Milton Nascimento. Tudo é modificado, a cada instante, e, por isso, impermanente. Dizem que tudo evolui (não acredito muito nisso, nem pouco). A realidade é que estamos sempre descobrindo novos brinquedinhos – na ciência, na tecnologia, em todos os setores. É claro que, diante de um mundo evoluído (?), as aulas precisam ser modernizadas. Quem não vai à escola, tem a oportunidade de instruir-se (?), através da televisão. Acompanhando o ritmo da moda acelerada, os conhecidos telecursos já não são mais os mesmos – nem os interessados nos conteúdos. Hoje, temos aulas, pela televisão, 24 horas por dia, sem precisar de TV a cabo. A televisão pública dá conta de despejar cursos intensivos, práticos e baratinhos (só o custo da energia elétrica), nas horas que temos disponíveis – refeições, cochilo no sofá, insônia no quarto, ou até de pijama, no domingo.É tanta informação sendo recebida, ao mesmo tempo, que, às vezes, os canais (cerebrais mesmo, não os da televisão) se confundem, são confundidos. E ainda tem o maldito (bendito) controle remoto – que faz confundir mais ainda. Não são só os intervalos que estão cheios de propagandas – os programas também querem vender, e, nessa competição, não há regras, nem limites. São tantas frases (bem) feitas, apontando o caminho do sucesso, do dinheiro fácil, da mordomia, dos sonhos realizados. Tantos comerciais que se repetem, de canal em canal, lavando e enxaguando cérebros cansados de trabalho, rotina, miséria, frustrações, mesmices – todas essas coisas que, também, fazem parte da vida humana.
Por outro lado, se comparados aos programas televisivos, os comerciais representam apenas a entrada do prato principal, com saladas diversas. Os programas, sim, são certeiros. Se os comerciais fazem o telespectador se sentir um fracassado, que pode ter sucesso – se vestir tal marca, comprar tal carro, beber tal cerveja, etc e tal -, os programas são incisivos: não dão escapatória, nem direito ao raciocínio. Os programas televisivos, a qualquer hora do dia, da noite, despejam telecursos modernos, de cômoda aprendizagem – até o cérebro, desabituado de pensar, absorve. Acho que é por isso mesmo que tem tanta gente (eu já vi) fazendo piadas com as aulas (formais), via televisão. Os telecursos modernos são muito mais interessantes, e aplicáveis, de imediato, à vida prática.
Nem vou perder tempo, aqui, comentando sobre os noticiários vampíricos, na televisão (vampiro tá na moda, né?) - sangue pra todo lado. Talvez, você pense que não são divulgadas só notícias de assassinatos. Claro que não. Há reportagens ensinando, passo a passo, como sequestrar, arrombar casas, veículos, e até caixas eletrônicos. O diploma do telecurso moderno é o produto (prêmio) do roubo. Mas as aulas não param por aí, não. Ainda, tem as novelas, que, há alguns anos atrás, serviam somente para entorpecer as desilusões e frustrações humanas. Hoje, não – hoje, as novelas tem função maior: ensinam práticas que a maioria das teorias condena, com direito a reprises, em todos os capítulos. E tem pior (sempre tem pior): os ditos filmes “apresentados, pela primeira vez, na televisão brasileira”. Esses, sim, são de matar, morrer. Nem precisa mostrar tiroteio. E os cujos ditos são anunciados, com imponência, como se fossem grande coisa. Toda vez que vejo esse desrespeito, na televisão, penso: os diretores subestimam o cérebro do telespectador, o qual, provavelmente, sabe que tem um cérebro (com as funções: pensar, escolher).
Diante desse constante ataque televisivo - o que fazer?... Talvez, arriscar parar, por um momento qualquer, na frente de uma televisão (ligada), e pensar sobre o que você vê – cometa essa atitude, rara, muito rara, na vida da maioria dos telespectadores. Tenha a (inimaginável) experiência de enxergar você mesmo (a), na frente da televisão. Depois, me conta – ou não.
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