Em meio a brinquedos atrativos e barulhentos, presentes
variados, pacotes brilhantes e laços coloridos, fico eu pensando nas
crianças. Meus filhos cresceram – tempo célere. Não tenho
(ainda) netos, tataranetos, bisnetos. Mas continuo fascinada pela
infância – toda infância humana, e a minha infância, também.
Lembro do meu espanto, quando percebi que, sem planejar,
sem maquiavelismo algum, eduquei meus filhos. Até então, eu ainda
imaginava que educar fosse aquilo que me impingiram, quando eu era
criança: educação rimava com obrigação. E eu nunca levei jeito
pra impor, obrigar, ou até mesmo brigar. Do meu jeito sem jeito,
eduquei, e, até hoje, meus filhos lembram nossas aventuras, na
infância deles, que também foi minha, e continua sendo, por que
continuamos brincando, nos aventurando, compartilhando vida.
Enquanto a maioria, que tem crianças por perto, se
preocupa em comprar e dar presentes, nesse dia, eu fico pensando no
que pode ser nosso presente para o futuro. Até por que, acho eu, de
nada adiantaria superlotarmos as crianças de brinquedos e doces,
esquecendo que o que fica mesmo é o exemplo de ser humano. A minha
preocupação maior, no que se refere à infância, reside justamente
aí: e se esquecermos que, todo o tempo da vida inteira, somos
exemplos, principalmente às crianças?...
É certo que, entre 8 e 80, há outras 72
possibilidades. Por isso, o ato de cercear completamente, ou liberar
geral, gera desequilíbrios inimagináveis. Isso, a gente (chamada
adulta) sabe, por que vivencia. Mas cadê balança, régua, pra
precisarem como cuidar de uma criança?... Por favor, não me venham
com manuais que determinam como educar crianças!... Só mesmo no
'olhômetro' do sentimento – penso eu, que penso tanto, sem nada
concluir. Se são nossos filhos, torna-se mais simples, o ato de
observar, conhecer, respeitar, por que existe o amor genuíno –
ainda acredito nisso. Se não são nossos filhos, existe vínculo –
ou por que somos babás, ou por que damos aulas, enfim, convivemos.
Mas ainda nos deparamos com outras crianças – os filhos de
ninguém, rostos invisíveis pedindo “um trocado, tia”. São
todas crianças – sonhos e desejos semelhantes.
Sei que estou 'viajando', enquanto escrevo. Mas é isso
que quero, por que, quando se trata de crianças, viajo mesmo, me
permito a isso, e o passaporte é a minha preocupação: qual será
nosso presente para o futuro?... Hoje, Dia das Crianças (de Nossa
Senhora Aparecida, e de Oxum, também), qualquer presente faz brilhar
o olhar infantil – e no futuro?... Presente é bom – todo mundo
(até adulto) gosta. Mas há presente que estraga, quebra, enferruja,
desmancha, desgasta, fere, até mata, e não tem mais conserto.
Em qualquer tempo da humanidade, família sempre
representa convivência de conflitos, por que todo mundo é diferente
(ainda bem). Aos pais, dizem que cabe prover, através do trabalho –
dentro e fora do lar, nem sempre doce -, as condições de
subsistência, sobrevivência e existência dos filhos. Sabemos que
nem sempre é assim. Há notícias de que tem muitos pais esquecendo
os filhos dentro de veículos trancados, jogando os filhos na
lixeira, ou pela sacada, espancando os filhos, e outros pais que
estupram os filhos. Nem me interessam as justificativas. Mas cuidado
e proteção aos filhos continuam sendo lei.
Na correria em que os pais vivem hoje, tendo condições
financeiras, contratam empregada doméstica, para cuidar da
manutenção do lar e dos filhos. Com mais dinheiro disponível
(traduzindo: trabalhando mais, com menos tempo em família), os pais
pagam os serviços de uma babá, para cuidar dos filhos. No Brasil,
isso é mais comum que na maioria dos países, principalmente, na
europa, onde os serviços domésticos estão sempre em alta cotação,
pelo que estou informada. Pois bem. Na maioria das famílias com
melhores condições financeiras, os filhos estão sendo educados por
empregadas, que, às vezes, foram alfabetizadas e deixaram os
estudos, para começarem trabalhar cedo, depois tiveram filhos, e não
retornaram à escola. Eis outra palavra salvadora: escola. É notório
que muitas famílias são dependentes da escola dos filhos, “local
seguro” (hoje, nem tanto), onde as crianças ficam, por algumas
horas. Para compensarem a ausência, os pais enchem os filhos, com
presentes atrativos. Se os filhos vão mal na escola, trocam de
escola. Pronto. Tudo resolvido. Resolvido?... sei não.
Do lado de fora da família estruturada(?), crescem as
crianças que nem sempre vão à escola, nem sempre conhecem pai e
mãe, nem sempre tem café da manhã, jantar, almoço, lanche,
roupas, calçados, brinquedos. Ignoradas ou não, as crianças
continuam lá – nas ruas, nas periferias -, à espreita, crescendo.
Mas a correria dos pais é tanta, que essas crianças tornam-se
invisíveis, até que cometem um delito, dois delitos, ou vinte
delitos, como assisti, dia desses, numa reportagem, quando um garoto
de doze anos foi apreendido pela polícia (20ª vez). Já não são
mais invisíveis, nem crianças – aos olhares humanos(?),
marginais. Mas, no fundo, continuam crianças – bem além de uma
certidão de nascimento, embalada num saco plástico retirado do
lixo.
Alguém pode perguntar (perguntam sempre): “O que eu
tenho a ver com isso?”... Gosto de responder com outra pergunta: O
que nós todos não temos a ver com isso?...
Ah, já ia esquecendo (imagina!): tenha um feriado
feliz!...
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