Sabemos que podíamos estar “roubando, matando,
estuprando”. Mas não. Escrevo. E, enquanto escrevo, penso que você
pode até me ler – ou não. Sabemos, também, que, em países do
“primeiro mundo”, as crianças falam, fluentemente, o inglês –
and I no speak english today, and tomorrow, too. Oh, god!...
Tudo, tudo mesmo, é imagem, representação. Não
enxergamos – tão somente imaginamos enxergar o que vemos. Imagem,
imagem – nada além do que imagens. A vida pode ser resumida nisso:
imagem, ou a imagem da imagem. Por que, além da representação, há
o imaginário, que permeia lugares inimagináveis.
Tudo começa – penso eu, que penso demais, mas não
chego a tanto – quando passamos a construir uma imagem de nós
mesmos. Depois, nos detemos na 'feitura' da imagem do(s) outro(s),
com quem convivemos. Mas a historinha vai além (sempre tem mais):
cada outro faz uma imagem da gente. Pior que isso é que, quase
sempre, desapontamos e nos desapontamos com as imagens criadas por
nós e pelos outros. Acho mesmo que o maior desapontamento é nosso,
em relação a nós mesmos. Depois, vem o desapontamento em relação
à imagem que construímos do outro, à revelia da imagem que o outro
tenha conseguido fazer dele mesmo.
Mas precisamos reconhecer, também, que há muita imagem
nossa melhor do que somos, ou, pelo menos, de quem imaginamos que
somos. Pode observar, tem sempre alguém retocando a nossa imagem da
imagem nossa: ou nós mesmos, ou os outros. Para melhor. Para pior.
Tudo depende do olhar do momento - banido, sempre, pelo próximo
instante, pelo outro olhar.
Ser humano vai sempre além. Por isso, criamos mitos –
desde sempre. Por não querermos mais só idolatrar os mitos gregos e
romanos – que prevalecem nos livros de história da humanidade -,
mitificamos personagens contemporâneos, vestidos pelas imagens
criadas por nós. É por isso que hoje temos tantos mitos estampados
por todo o lugar. Bons ou maus, os mitos são criados, conforme a
necessidade do público, que quer vaiar, ou aplaudir.
Com isso tudo acontecendo, proliferam-se os conhecidos
“paparazzi”, que ganham dinheiro, fotografando e vendendo imagens
de mitos populares – saindo de banheiro público, comendo com a
boca aberta, ou simplesmente andando de bicicleta, em algum calçadão.
As imagens fascinam, por que, para os idólatras, situações comuns
de todos nós são inimagináveis, quando os protagonistas são os
mitos adorados, com imagens cada vez mais distanciadas da realidade
humana.
Tem gente que diz que necessitamos mitificar, para
mantermos os parâmetros de bem e mal, bondade e maldade, etc e tal,
destacando exemplos humanos a serem seguidos, ou não. Na minha
opiniãozinha sem importância alguma, não penso que necessitamos
disso – até por que muitos de nós (eu também) nos esforçamos
para não alimentar as imagens dos mitos. Já dizia a tataravó da
minha bisavó: quanto mais alto o pedestal, maior o tombo.
Claro que somos todos diferentes – idólatras e
idolatrados -, mas nem tanto. Sonhos, desejos, projetos, medos –
temos muito em comum. Se a mitificação decorre da frustração em
relação a nós mesmos, acho que, em vez de despejarmos no outro
(mito), expectativas além do além, o mais simples seria lidar
(mudar) com a própria realidade – a nossa realidade. Sem
mitificação.
A Vida é um sonho.
ResponderExcluirÓTIMO "TEXTICULO"
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