sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A imagem da imagem

Sabemos que podíamos estar “roubando, matando, estuprando”. Mas não. Escrevo. E, enquanto escrevo, penso que você pode até me ler – ou não. Sabemos, também, que, em países do “primeiro mundo”, as crianças falam, fluentemente, o inglês – and I no speak english today, and tomorrow, too. Oh, god!...
Tudo, tudo mesmo, é imagem, representação. Não enxergamos – tão somente imaginamos enxergar o que vemos. Imagem, imagem – nada além do que imagens. A vida pode ser resumida nisso: imagem, ou a imagem da imagem. Por que, além da representação, há o imaginário, que permeia lugares inimagináveis.
Tudo começa – penso eu, que penso demais, mas não chego a tanto – quando passamos a construir uma imagem de nós mesmos. Depois, nos detemos na 'feitura' da imagem do(s) outro(s), com quem convivemos. Mas a historinha vai além (sempre tem mais): cada outro faz uma imagem da gente. Pior que isso é que, quase sempre, desapontamos e nos desapontamos com as imagens criadas por nós e pelos outros. Acho mesmo que o maior desapontamento é nosso, em relação a nós mesmos. Depois, vem o desapontamento em relação à imagem que construímos do outro, à revelia da imagem que o outro tenha conseguido fazer dele mesmo.
Mas precisamos reconhecer, também, que há muita imagem nossa melhor do que somos, ou, pelo menos, de quem imaginamos que somos. Pode observar, tem sempre alguém retocando a nossa imagem da imagem nossa: ou nós mesmos, ou os outros. Para melhor. Para pior. Tudo depende do olhar do momento - banido, sempre, pelo próximo instante, pelo outro olhar.
Ser humano vai sempre além. Por isso, criamos mitos – desde sempre. Por não querermos mais só idolatrar os mitos gregos e romanos – que prevalecem nos livros de história da humanidade -, mitificamos personagens contemporâneos, vestidos pelas imagens criadas por nós. É por isso que hoje temos tantos mitos estampados por todo o lugar. Bons ou maus, os mitos são criados, conforme a necessidade do público, que quer vaiar, ou aplaudir.
Com isso tudo acontecendo, proliferam-se os conhecidos “paparazzi”, que ganham dinheiro, fotografando e vendendo imagens de mitos populares – saindo de banheiro público, comendo com a boca aberta, ou simplesmente andando de bicicleta, em algum calçadão. As imagens fascinam, por que, para os idólatras, situações comuns de todos nós são inimagináveis, quando os protagonistas são os mitos adorados, com imagens cada vez mais distanciadas da realidade humana.
Tem gente que diz que necessitamos mitificar, para mantermos os parâmetros de bem e mal, bondade e maldade, etc e tal, destacando exemplos humanos a serem seguidos, ou não. Na minha opiniãozinha sem importância alguma, não penso que necessitamos disso – até por que muitos de nós (eu também) nos esforçamos para não alimentar as imagens dos mitos. Já dizia a tataravó da minha bisavó: quanto mais alto o pedestal, maior o tombo.
Claro que somos todos diferentes – idólatras e idolatrados -, mas nem tanto. Sonhos, desejos, projetos, medos – temos muito em comum. Se a mitificação decorre da frustração em relação a nós mesmos, acho que, em vez de despejarmos no outro (mito), expectativas além do além, o mais simples seria lidar (mudar) com a própria realidade – a nossa realidade. Sem mitificação.

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