Quando a gente menos espera, tem
outra gente promovendo a falência múltipla dos nossos sonhos, pelo
mundo. Querem decidir por nós, humanidade, quando vão às ruas,
quebram tudo, ou realizam linchamento, execução mesmo, maquiando
isso como “justiça pelas próprias mãos”. Estamos sendo
assaltados, com nossos sonhos mais secretos usurpados, na maioria do
tempo, sem nos apercebermos disso, ou nem queremos mesmo saber,
pensar a respeito.
O patrão nos paga pouco,
retirando, de nós, o direito de sonharmos, organizarmos projetos. A
cada final de mês, recebemos o pagamento, em forma de pesadelo, que
nos trará insônia, nos impedirá de sonharmos, até dormindo. Sem o
patrão, temos o sonho desempregado, quando sonhos e projetos são
levados pela enxurrada de desesperos e desesperanças.
Os (ir)responsáveis pelos
canais de televisão querem nos roubar os sonhos, quando jorram
sangue, pela nossa sala, diante do nosso olhar cansado e passivo,
para, no final da carnificina, nos desejarem “boa noite”. Mas
sempre tem mais - é quando chega o horário das novelas, com
protagonistas jovens, sarados, marombados, sem cravos e espinhas, com
muito botox e maquiagem, a grande maioria branca, no máximo,
bronzeada. Neste assalto diário, consentido silenciosamente, as
novelas nos fazem abandonar nossos próprios sonhos, para embarcarmos
numa viagem que oscila sempre entre o surrealismo e o terrorismo,
durante meses de catatonia dos telespectadores. Definitivamente, não
há espaço para sonhar, diante da televisão. E ainda falam que as
novelas estão próximas da realidade - pode até ser alguma
realidade causada por elementos estranhos à vida humana, que luta
para sobreviver, muito mais que por um pedaço de pão dormido, ou
por uma fantasia de carnaval.
O tempo inteiro, estão querendo
roubar nossos sonhos, sem que eu ouse tratar, aqui, dos problemas e
traumas particulares de cada um. Somos bombardeados, em massa, por
comerciais que querem nos impor o que comermos, bebermos, vestirmos,
calçarmos, chegando ao cúmulo de nos disputarem, nas inimagináveis
ofertas de medicamentos, livros de autoajuda, revistas de fofocas, e
até produtos milagrosos de emagrecimento. Distraídos que vivemos
(?), ou reprimindo o que sonhamos, acabamos nos rendendo: sonhos e
projetos ao lixo, lixo na mesa, lixo nas ruas e praças, lixo na
cama, lixo nas escolas e universidades, lixo nos relacionamentos,
lixo no trabalho, lixo na vida, lixo por todo lugar onde passamos,
ficamos, fingimos viver.
Diante de tudo isso, ainda fico
imaginando que, logo, logo, antes mesmo de percebermos, fazermos
pesquisas, estudos e relatórios, haverá novo diagnóstico, nos
atestados médicos ininteligíveis - causa mortis: falência múltipla
dos sonhos. Oxalá, hajam lápides: Aqui jazem sonhos que não foram
domados, nem controlados. Voem em paz.
Caraca, é incrível como você consegue se expressar por meio das palavras.
ResponderExcluirTalvez um dos melhores textos seus! Falência múltipla dos sonhos,,, muitos já morreram desta causa mortis e ainda não sabem!
ResponderExcluir