Se
houve alguma época em que dava para acumular sujeiras, debaixo do tapete, já
foi, já era - hoje, já não dá mais. Sujeiras continuam procriando, mas não
existe tanto tapete, para cobri-las. Apesar do esforço, ninguém mais consegue
colocar problemas sociais, debaixo de tapete, simplesmente. Pior é que a
sujeira mesmo está nas mãos de quem ainda tenta varrer para debaixo do tapete.
A
humanidade inteira descamba para o capitalismo, e não quer assumir as
conquências disso. Por exemplo, assistimos, diariamente, pelo Brasil, índigenas
exigindo direito à terra. Eles - os índios - justificam a reivindicação,
recontando a história do Brasil, que aprendemos nos primeiros anos de escola.
Os quilombolas, também, estão sempre exigindo direito à terra. Lá atrás, muita
gente cometeu erros, os quais, até hoje, regurgitam consequências, que deveriam
ter sido previstas. Não foram. Varreram tudo para debaixo do tapete, deixando,
às gerações futuras, o sofrimento das conquências. E ainda há os agricultores
sem terra, que querem terra para plantar, produzir. O desastre maior é que,
enquanto não houver solução para isso tudo, mais consequências serão geradas -
isso é óbvio demais. Lastimável.
Existe
uma frase - “toda ação gera uma reação” -, que, apesar de ser antiguinha, e tão
repetida, ou justamente por causa disso, não é levada a sério. Se, há séculos
atrás, ainda dava para ingrupir incautos, presenteando-lhes com espelhos, ou
qualquer outro badulaque, hoje, não temos mais condições de varrer mais
sujeiras para debaixo do tapete. O tapete rasgou - as sujeiras aumentaram.
Citei
o capitalismo, por considerá-lo o deus-motor da sociedade atual. Hoje, sem
dinheiro, você não come, não mora, não vive, sem contar que, sem dinheiro, você
não recebe o que chamam “respeito” (o que restou da palavrinha). Isso tudo
acontece, com a nossa anuência, a permissão e a escolha de cada um de nós. No
Brasil, especificamente, onde nasci, onde vivo, onde posso pensar a respeito,
até o coronelismo faz qualquer coisa, para se manter. Por isso, enxergamos
tanta gente, ainda, escravizando outras gentes, que se permitem a isso. A
chibata, o tronco, a palmatória ainda existem, além dos museus - tudo maquiado,
modernizado, mas com idênticas funções. Consequentemente, o dito poder fica nas
mãos de quem tem dinheiro, e paga para ter prestígio, fama, amedrontando os morros
de favelas e as mansões, os apartamentos de cobertura, e até os nossos três
poderes soberanos. Como tudo isso aconteceria, sem consequências?... Estamos
recebendo o troco, pelo que pagamos, quando permitimos que tudo isso
continuasse acontecendo. Pior que isso: continuamos permitindo.
Não
há efeito sem causa. Indígenas, quilombolas e sem terras querem o direito à
propriedade. Empresários querem o direito de pagar menos impostos. Famílias sem
teto querem o direito à moradia. Trabalhadores querem o direito à participação nos
lucros das empresas. Cidadãos do mundo querem o direito de ir e vir, em todos
os países. Desempregados querem o direito ao trabalho digno e justo. Mães
querem o direito a creches e escolas, para os filhos. Todo mundo quer ter o
direito de - até mesmo aqueles que têm o dever de. Direito e dever caminham
sempre juntos - onde existe desequilíbrio, pode ser que aquele que tem o dever
de esteja priorizando o próprio direito de, que também tem.
Diante
de tudo isso, ainda tem gente que consegue enxergar apenas as consequências, o
que sobrou, e se multiplica, acima do tapete, sem poder ser varrido para baixo.
Tem gente que ainda estuda a história do Brasil (a registrada em livros,
obviamente, por que a oculta continua bem ocultada), sem fazer qualquer
associação com a atualidade. A essa gente, só posso dizer: é isso mesmo, houve
massacre de etnias e classes sociais, neste grande País, mas, pelo visto, nós
não temos nada a ver com isso. Que cada um continue cuidando do seu - o que não
é meu, nem teu, que seja meu, ou teu. E viva o capitalismo!
O
problema é que não podemos fazer como os antepassados: varrer a sujeira para
debaixo do tapete. A sujeira atual resolveu se manifestar, impelida pelo
capitalismo, coisa que não fazia, antigamente, e começou a cometer barbaridades,
atacando a sociedade, que, atingida, sem ter como varrer para debaixo do
tapete, se vê obrigada a viver cercada por homens fortes e armados, câmeras,
veículos blindados, clamando e reclamando por segurança pública (para quem?).
E a história do Brasil continua (claro, com mais consequências)...
Nenhum comentário:
Postar um comentário