quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Versão “mal amada”


Não há quem não conheça a expressão: “Ela é mal amada”. Pode observar, dificilmente se diz: “Ele é mal amado”. O estigma recai, mais uma vez, de novo, novamente, sobre as mulheres. Cá entre nós, se são as mulheres que manifestam maior grau de mau humor, nem chega ser discriminação de gênero. E mais: acho que não é crítica acusatória, não, por que mau humor é mesmo uma ‘merda’, pra todo mundo, em qualquer lugar.
A “questã” (como diz um amigo meu, que defende que, se fosse pra ser questão, seria “o questão”) é que “mal amada” está associada à “mal humorada”. Como é terrível conviver com gente de mau humor constante. Até quando os humores oscilam, fica mais fácil a gente suportar – até na gente mesma. Né não?...
Agora, cá muito entre nós, tente imaginar essa criatura “mal amada” convivendo com ela mesma, todo o tempo, o tempo todo... Meus pêsames à ela!...
Nem vou citar aqui as piadas que fazem com as ‘malas mal amadas’, por que seria acionar o ‘repeteco’ que todo mundo conhece. (Escrevendo essas poucas linhas, muitas “mal amadas” aterrissam na minha memória.) Talvez, a maioria de nós nem pense sobre a versão “mal amada”. Se temos humor suficiente, com preparo físico, corremos o necessário, pra fugir das criaturas “mal amadas”.
Tenta imaginar comigo. Se ninguém suporta o mau humor persistente da criatura – nem cachorro, nem gato, nem pai, nem mãe, nem filho, nem o espírito mais santo -, só pode acabar sendo mal amada mesmo, por todos. Mas a primeira da fila deve ser ela mesma, a ‘mala mal amada’, constante companhia de caminhada mal humorada.
Acho que bom humor é essencial à vida. E não me refiro aqui a quem costuma usar de bom humor, pra tratar as pessoas como debéis mentais. Rir da cara dos outros, fazê-los de bobos, pode até parecer engraçadinho, mas isso não é bom humor. Bom humor mesmo chega ser pueril, e o outro entra como participante da brincadeira, que não lesa as pessoas. É o que penso.
Se tem alguma gota de verdade o que muita gente diz, que “despejamos nos outros, o que temos aos borbotões dentro de nós”, a “mal amada” deve viver se afogando em mau humor crescente. Azar de quem estiver por perto, quando as comportas se rebelarem, em conjunto, arrebentando todas as barreiras, até então represadas.
Tá certo que não é todo dia que a gente amanhece dando bom dia ao sol, à chuva, ao calor, ao frio. Claro que não precisamos agradecer aos céus pelas enchentes, que estão causando tantos transtornos no planeta. Não precisamos exagerar. Afinal, Pollyana é apenas personagem de livros (ou não?).
Quem tá habituado a soltar palavrões, não precisa usá-los com mau humor. Palavrão pode ser utilizado com muito bom humor, sim senhor. E tem mais: não há justificativa pra mau humor, não. O mau humor, na minha visão estrábica, é o jeito que a criatura enxerga a vida, jeito (diferente, claro) que também tem o bem humorado.
Oxalá, chegará o dia em que o mal humorado, sem que ninguém perceba, estará tão fora de si, que, ao olhar-se no espelho (imaginário), não vai ‘guentar’ tanta sisudez, e vai despencar na gargalhada... Nesse dia (inesquecível), todo mundo vai se alegrar – bem e mal humorados vão sorrir à toa, e Pollyana saltará das páginas dos livros, gritando: “Eu não disse que, um dia, todo mundo iria sorrir, transbordando gentilezas?”...

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