Comprei e mantenho na minha velha mesa de trabalho, em casa, um palhacinho toscamente acabado, que parece ter fugido de mãos artisticamente distraídas. Lembra mais um “pierrot” – palhacinho sem graça, que me faz pensar no grande picadeiro da vida (comédias e tragédias).
Encontrei o palhacinho, por acaso, numa papelaria. Ele estava caído, timidamente sorridente, numa prateleira, em meio a tantos outros palhacinhos que se mantinham, alegres e sorridentes, em pé. Quando peguei o palhacinho deitado, percebi que até o nariz dele já não tinha tanto vermelho (tantos tombos!). A figura remendada cativou-me, e já não havia outro jeito, senão levar a companhia dele pra casa.
A presença do palhacinho, diante de mim, me faz lembrar que nem sempre se ri com vontade, e muitas vezes se chora de tanto rir. Feito minha alma torta, o palhacinho é equilibrado com dificuldade (que se pode fazer, né?). E me mostra que, se há tristezas, há também a mascara. O palhacinho é feito de panos vagabundos e louça quebravel. Também minha alma é vagabunda – se quebra facil (tantos tombos!).
Tem vezes que, quando sento à minha mesa, o palhacinho me sorri, num sorriso ironico, mesmo timido, olhar estrabico. Outras, nem o enxergo, em meio a tantos papéis. Só depois o revejo – caído, deitado, torto. Feito minha alma (também torta), o desajeitado palhacinho fica – entregue – nas minhas mãos desajeitadas para equilibrá-lo, enquanto olho o olhar que não me vê.
... e o palhacinho continua ali, como se estivesse me cuidando, de longe, com aquele sorriso sem graça, entristecido – feito espelho...
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