Se tem alguma coisa que não gosto mesmo, nem consigo compactuar, ser conivente, é o “disse-me-disse”, mesmo quando me chega, ao ouvido, com a famosa inicial: “Não é que eu queira falar (mal)”. Pode não soar como fofoca, e eu já estou correndo, fugindo leguas. Não me faz bem, mas tenho de aceitar que faça bem a muitas pessoas, pois percebo que é isso que (ainda) toma conta do mundo: o “disse-me-disse”.
Profissionalmente, desde sempre, quando eu era “foca de redação”, aprendi levar meu trabalho a sério, sem ir atrás do “disse-me-disse”. Claro, hoje, as coisas são diferentes, principalmente, no que chamam jornalismo. Aliás, nesta epoca de “realitys shows”, jornalistas de plantão recebem altos salarios, só pra fazerem manchetes sensacionalistas, com fofocas sobre gente, senão famosa, conhecida. Não compactuo com esse jornalismo irresponsável - que, primeiro, noticia, depois, vai buscar confirmação da noticia.
A fofoca realmente não me interessa. Não falo sequer da minha vidinha insignificante – nem imagino falar da vida dos outros, seja de quem for. O “disse-me-disse” chega me apavorar, por que é um terreno sem lei, sem limites. Qualquer pessoa pode disseminar qualquer fofoca. Quem lê, quem ouve, pode não querer questionar, e simplesmente acatar o “disse-me-disse”, concluindo a informação como verdade.
Pra você ter uma ideia do quanto sou chata, quando alguém me procura, pra falar, falando que não quer falar mal, eu já vou logo dizendo que não quero escutar, por que realmente não sirvo nem pra pombo correio. Mas tem muita gente que se compraz em ouvir, e acaba ‘espalhando’ a noticia, até de forma mais rapida que a propria internet, que torna tudo passado, no minuto seguinte.
Há pouco tempo, reencontrei um amigo, em um coquetel. Ele me contou uma historia, no minimo, inacreditável. Meu amigo faz parte de duas listas (femininas) dos melhores homens do planeta: é casado – e cabeleireiro. Em razão da profissão, meu amigo está sempre participando de eventos sociais.
Vou começar pelo fim. No coquetel, meu amigo me falou, ‘p. da vida’: “Você está conversando com um gay, em fase terminal de AIDS. Nem adianta arregalar os olhos, Narinha, por que é o que estão falando de mim”. E eu perguntei a ele: A troco de que essa ‘merda’ toda?... E ele me contou o estrago de um “disse-me-disse”.
Há poucas semanas, meu amigo tinha participado de um coquetel de politicos – o cardapio, nesse caso, é sempre “meia-boca”: os salgadinhos, docinhos e bebidas já caducaram o tempo de validade. Sabemos disso. No dia seguinte, meu amigo foi para o famoso Salão da cidade, do qual é proprietario. Passou o dia inteiro vomitando, e explicando (quem mandou ele explicar?): “Foi o coquetel de ontem. Que ‘merda’!” Entre um vomito e outro, meu amigo nem tinha tempo de relatar mais que isso: “Foi o coquetel!”
Na sexta-feira seguinte ao fato, a esposa e os dois filhos do meu amigo viajaram para o litoral. Meu amigo só pôde ir ao encontro da familia, no domingo à noite, depois de encerrar o exaustivo trabalho no Salão. No litoral, a familia ficou em ferias, durante vinte dias. Quando a familia retornou, o estrago estava feito: meu amigo era gay, e estava em fase terminal de AIDS. O “disse-me-disse” chegou até aí. Vai saber até onde teria chegado, se a familia demorasse mais tempo para retornar?...
Meu amigo cabeleireiro ficou sabendo da estorinha toda, quando voltou ao Salão, e recebeu abraços dos funcionarios, que repetiam, em coro: “Você tem nosso apoio, para o que precisar”. De inicio, ele não entendeu exatamente o que estavam dizendo, mas agradeceu. Começou questionar, quando viu a gerente do Salão chorando. Ele perguntou por que, e ela contou-lhe que uma vizinha do apartamento dele havia ido ao Salão, e dito: “O dono desse Salão é gay, e está em fase terminal de AIDS. Eu soube, por uma cliente do Salão, que ele estava vomitando muito, por causa do coquetel AZT, e depois a mulher e os filhos, que deveriam receber, para fingirem ser a familia dele, foram embora. Ele foi atrás, mas, pelo visto, não adiantou, por que, depois da viagem, a mulher sai de manhã, com os filhos, que voltam para o almoço, e todo mundo sai novamente. Um dia desses, eu até vi um rapaz (novinho e bonito) batendo à porta do apartamento dele, chamando-o, sem vergonha alguma. Observem como ele emagreceu. O que faz o estado terminal dessa doença de viados (!)”. O que mais chamou a atenção do meu amigo, segundo ele mesmo, foi o fato de ninguém questionar-lhe coisa alguma: “Todo mundo concluiu como verdade, ninguém me perguntou coisa alguma, o que, pra mim, é o pior, pois pude conhecer um pouco mais as pessoas com quem trabalho, convivo”.
Eu ouvi a historia toda, e, depois, soltei: Que ‘merda’!... E meu amigo (casado, e cabeleireiro) falou: “Eu vomitei, por causa das ‘drogas’ que comi e bebi, naquele coquetel de politicos, que você já conhece, e nem vai. Eu já havia planejado, com a minha esposa e os meus filhos, que eles iriam antes à nossa casa de praia, por que eu ainda teria de trabalhar no final de semana. Durante as ferias, eu e minha esposa revemos o projeto de ela retornar ao trabalho, já que estava decorando o novo consultorio dentario. Quando voltamos do descanso, ela também foi trabalhar, e os filhos retornaram à escola. O rapaz bonitinho, que me chamou, na porta do apartamento, é meu cunhado, irmão da minha esposa, que veio à cidade, e ficou alguns dias lá em casa”.
Depois de ouvir a historia do meu amigo, disse a ele que, por isso, corro do “disse-me-disse”, me recolho na minha insignificancia de ser quem acho que sou. Não sei conviver com isso. Não sei corresponder, ou “dar o troco”. Simplesmente, não sei, nem quero saber. Por isso, me recolho. E já não me interessa quem falou, ou quem quis ouvir. Prefiro ficar, sozinha, escutando a canção de Edson Menezes/Alberto Paz:
“Deixa que digam, que pensem, que falem...”
Profissionalmente, desde sempre, quando eu era “foca de redação”, aprendi levar meu trabalho a sério, sem ir atrás do “disse-me-disse”. Claro, hoje, as coisas são diferentes, principalmente, no que chamam jornalismo. Aliás, nesta epoca de “realitys shows”, jornalistas de plantão recebem altos salarios, só pra fazerem manchetes sensacionalistas, com fofocas sobre gente, senão famosa, conhecida. Não compactuo com esse jornalismo irresponsável - que, primeiro, noticia, depois, vai buscar confirmação da noticia.
A fofoca realmente não me interessa. Não falo sequer da minha vidinha insignificante – nem imagino falar da vida dos outros, seja de quem for. O “disse-me-disse” chega me apavorar, por que é um terreno sem lei, sem limites. Qualquer pessoa pode disseminar qualquer fofoca. Quem lê, quem ouve, pode não querer questionar, e simplesmente acatar o “disse-me-disse”, concluindo a informação como verdade.
Pra você ter uma ideia do quanto sou chata, quando alguém me procura, pra falar, falando que não quer falar mal, eu já vou logo dizendo que não quero escutar, por que realmente não sirvo nem pra pombo correio. Mas tem muita gente que se compraz em ouvir, e acaba ‘espalhando’ a noticia, até de forma mais rapida que a propria internet, que torna tudo passado, no minuto seguinte.
Há pouco tempo, reencontrei um amigo, em um coquetel. Ele me contou uma historia, no minimo, inacreditável. Meu amigo faz parte de duas listas (femininas) dos melhores homens do planeta: é casado – e cabeleireiro. Em razão da profissão, meu amigo está sempre participando de eventos sociais.
Vou começar pelo fim. No coquetel, meu amigo me falou, ‘p. da vida’: “Você está conversando com um gay, em fase terminal de AIDS. Nem adianta arregalar os olhos, Narinha, por que é o que estão falando de mim”. E eu perguntei a ele: A troco de que essa ‘merda’ toda?... E ele me contou o estrago de um “disse-me-disse”.
Há poucas semanas, meu amigo tinha participado de um coquetel de politicos – o cardapio, nesse caso, é sempre “meia-boca”: os salgadinhos, docinhos e bebidas já caducaram o tempo de validade. Sabemos disso. No dia seguinte, meu amigo foi para o famoso Salão da cidade, do qual é proprietario. Passou o dia inteiro vomitando, e explicando (quem mandou ele explicar?): “Foi o coquetel de ontem. Que ‘merda’!” Entre um vomito e outro, meu amigo nem tinha tempo de relatar mais que isso: “Foi o coquetel!”
Na sexta-feira seguinte ao fato, a esposa e os dois filhos do meu amigo viajaram para o litoral. Meu amigo só pôde ir ao encontro da familia, no domingo à noite, depois de encerrar o exaustivo trabalho no Salão. No litoral, a familia ficou em ferias, durante vinte dias. Quando a familia retornou, o estrago estava feito: meu amigo era gay, e estava em fase terminal de AIDS. O “disse-me-disse” chegou até aí. Vai saber até onde teria chegado, se a familia demorasse mais tempo para retornar?...
Meu amigo cabeleireiro ficou sabendo da estorinha toda, quando voltou ao Salão, e recebeu abraços dos funcionarios, que repetiam, em coro: “Você tem nosso apoio, para o que precisar”. De inicio, ele não entendeu exatamente o que estavam dizendo, mas agradeceu. Começou questionar, quando viu a gerente do Salão chorando. Ele perguntou por que, e ela contou-lhe que uma vizinha do apartamento dele havia ido ao Salão, e dito: “O dono desse Salão é gay, e está em fase terminal de AIDS. Eu soube, por uma cliente do Salão, que ele estava vomitando muito, por causa do coquetel AZT, e depois a mulher e os filhos, que deveriam receber, para fingirem ser a familia dele, foram embora. Ele foi atrás, mas, pelo visto, não adiantou, por que, depois da viagem, a mulher sai de manhã, com os filhos, que voltam para o almoço, e todo mundo sai novamente. Um dia desses, eu até vi um rapaz (novinho e bonito) batendo à porta do apartamento dele, chamando-o, sem vergonha alguma. Observem como ele emagreceu. O que faz o estado terminal dessa doença de viados (!)”. O que mais chamou a atenção do meu amigo, segundo ele mesmo, foi o fato de ninguém questionar-lhe coisa alguma: “Todo mundo concluiu como verdade, ninguém me perguntou coisa alguma, o que, pra mim, é o pior, pois pude conhecer um pouco mais as pessoas com quem trabalho, convivo”.
Eu ouvi a historia toda, e, depois, soltei: Que ‘merda’!... E meu amigo (casado, e cabeleireiro) falou: “Eu vomitei, por causa das ‘drogas’ que comi e bebi, naquele coquetel de politicos, que você já conhece, e nem vai. Eu já havia planejado, com a minha esposa e os meus filhos, que eles iriam antes à nossa casa de praia, por que eu ainda teria de trabalhar no final de semana. Durante as ferias, eu e minha esposa revemos o projeto de ela retornar ao trabalho, já que estava decorando o novo consultorio dentario. Quando voltamos do descanso, ela também foi trabalhar, e os filhos retornaram à escola. O rapaz bonitinho, que me chamou, na porta do apartamento, é meu cunhado, irmão da minha esposa, que veio à cidade, e ficou alguns dias lá em casa”.
Depois de ouvir a historia do meu amigo, disse a ele que, por isso, corro do “disse-me-disse”, me recolho na minha insignificancia de ser quem acho que sou. Não sei conviver com isso. Não sei corresponder, ou “dar o troco”. Simplesmente, não sei, nem quero saber. Por isso, me recolho. E já não me interessa quem falou, ou quem quis ouvir. Prefiro ficar, sozinha, escutando a canção de Edson Menezes/Alberto Paz:
“Deixa que digam, que pensem, que falem...”
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