sábado, 1 de novembro de 2014

O incrível “livro de caras”

Na minha insignificante opinião, a atualidade dos tempos é marcada pelo incrível “livro de caras”, tradução literal de facebook. Tudo mais é crível - acredite -, além, ou aquém, desse "livro de caras", motivo de rebuliço na vida de zilhões de pessoas, pelo planeta inteiro. Além de cuidar da própria vida, cada 'facebookiano' (o termo saiu agorinha do forno dessa cabecinha medíocre aqui) se sente na obrigação de cuidar da vida dos incontáveis “amigos” (palavrinha que já teve, sim - acredite, não faz tanto tempo -, significado especial).
Confesso que tenho resistido bravamente, para não criar meu perfil no facebook. Nem sei relatar como eu vivo, sem ficar “curtindo” frases sem sentido, o dia inteiro, e fuçando fotos de gente que nem conheço. Reconheço, a minha maior tentação tem sido eu criar meu perfil, para postar fotos minhas comendo, bebendo, nem ligando. Isso tudo é irrestível, pra mim também, que sou humana mortal.
Sem perfil no “livro de caras”, fui obrigada mesmo a recorrer ao 'mestre google', pra bisbilhotar as postagens mais curtidas e compartilhadas. São tantas - emoções. Percebi, nesse trabalho sério e investigativo, que o que o povo gosta mesmo de curtir é luto - o que têm de curtidas e compartilhamentos, nos avisos fúnebres de familiares, colegas de trabalho e aula, e alguns amigos (amigos sem aspas)... Os 'facebookeanos' curtem bastante, também, tragédias, desastres e miséria de vida, ou morte - as curtidas e os compartilhamentos aumentam, quando a vítima é dona do perfil. Lendo tudo isso, enquanto vadiava nas ondas do meu tempo, que é só meu, cheguei pensar que eu não faria esse sucesso todo, no “livro de caras”. Afinal, minha vidinha é tão comum, sem grandes tragédias (gregas, ou venezuelanas), nada, nada mesmo, comparado ao que pude ver, pelo binóculo do google. Ainda assim, não perco a esperança de ter vítimas (sei lá de quê) ao meu redor, para, pelo menos, ter a sensação de quem posta no facebook: “meu pai acabou de falecer”, “fui assaltado, na rua, há pouco”, “meu noivo se suicidou hoje”, “levei tiro dentro de casa”, “fiquei preso na DP”, etc etc etc. Quanta emoção os 'facebookeanos' demonstram, quando, no “olho do furacão”, lembram justamente de conectar o perfil, para registrarem as maiores mazelas do mundo. A disputa parece acirrada. E - o mais incrível: - todo mundo curte, e até compartilha. Todo mundo mesmo, um montão de gentes - e eu (ainda) me incluo fora dessa lista.
Preciso admitir que meus dedos coçam, toda vez que me imagino sem precisar sequer escrever “bjs”, “tks”, ou 't+”. Eu poderia viver, até morrer, no facebook, só curtindo e compartilhando, compartilhando e curtindo, e até curtindo e compartilhando a mesma coisa, sem me preocupar com o que é, ou possa vir a ser. Depois de tudo isso, ainda ficar “famosa”, com zilhões de “amigos”, em todo esse trabalho de clicar curtir e compartilhar, sem precisar assistir qualquer viral, ou perder tempo com mensagens de autoajuda, no meio de incontáveis figuras brilhantes. Isso tudo realmente é irresistível, incrível.
Acabo me emocionando tanto, toda vez que tento imaginar o que estou perdendo de curtir no facebook, que esqueço o dobro da metade. Mas o que todo mundo lembra mesmo foi a incrível comoção nacional (e até internacional) da inveja, depois da postagem de uma selfie, senão histórica, pelo menos única - não tem como ser repetida. A fama, geradora de diversas piadas, ficou por conta da mulher que encarou a fila interminável, no velório de Eduardo Campos, para fazer selfie, com o caixão como pano de fundo. Não há limites - eu que continuo limitada, sem facebook.
Gente, o “livro de caras” é mesmo incrível, e eu continuo sem participar, por que meu celular é tão antigo, que só funciona com fita isolante, sem qualquer furo de câmera. Pra ter perfil no “face” (para os íntimos), eu queria mesmo um iPhone 5 Black Diamond Edition, da Apple, que custa a bagatela de um pouco mais de R$ 36 milhões. Aí, sim, eu iria até para o facebook, e colecionaria autógrafos dos funkeiros da ostentação, que criariam filas, pra fazerem selfie comigo...

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