Honduras?
El Salvador? Costa do Marfim? Afeganistão? Que nada! Esses, até que são países
com altos índices de violência, mas falta estímulo, motivação mesmo. Nesse
ranking, o Brasil fica em 19º colocação. Mas a desumanidade brasileira, ao que parece,
até aceita o 3º lugar, nos Jogos Pan-americanos (ninguém bateu panelas, nas
vias públicas), mas não se conforma com o 19º, na violência, e quer maior
destaque mundial, neste quesito. Nada de esperar prisão, julgamento. A
desumanidade nacional – a mesma que quer, de qualquer jeito, redução da idade
penal e pena de morte – faz “justiça com as próprias mãos”, à espera de um
minuto e meio de fama, na mídia, nas redes sociais. E acaba recebendo aplausos
dos fãs, cada vez mais fervorosos.
Os
noticiários já nem mais divulgam, nas manchetes, que a violência se multiplica,
por todo o Brasil. Banal demais. Para animar os estádios, volta e meia, a
desumanidade apronta a maior quebradeira, só para dar uma treinadinha nos
músculos, exercitando socos, chutes e pontapés, ou até assassinato de algum
torcedor incauto. E ainda tem linchamento e aprisionamento em postes, que se assemelham
aos tempos de escravatura, onde, amarrado no tronco, o escravo levava
chibatadas, como exemplo para outros que tivessem a mesma intenção de burlar as
leis dos “senhores”. Mas, daí, veio a Princesa Isabel, e estragou a festa branca
do ‘pode tudo’.
Depois
de tanto tempo sem Princesa Isabel, o passatempo, agora, é sair espancando mulheres,
ladrões, assaltantes, afrodescendentes, pessoas em condição de rua e homossexuais.
A moda é queimar ônibus, quebrar vitrines, saquear estabelecimentos comerciais
e cargas de caminhões, nada diferente das explosões de caixas eletrônicos, nas
agências bancárias. Alguns policiais militares são chamados, para atendimento
dessas ocorrências, mas não podem ir, pois estão muito ocupados em alvejar, com
‘balas perdidas’, crianças e adolescentes negros favelados, e recolhendo
propinas, ou, então, espancando professores, e brincando com ‘bombas de efeito
(i)moral’, em praça pública. Enquanto tudo isso acontece, a desumanidade segue,
pelas ruas, com faixas e cartazes exigindo a volta da ditadura (como exigir a
volta do que nunca deixou de existir?).
Com
cada vez mais força (bruta), a desumanidade é exemplo para os estudantes, que
se engalfinham, se arrebentam, dentro e fora das escolas. E a desumanidade toma
conta das redes sociais, onde escracha racismo, homofobia e tantos outros inimagináveis
preconceitos. Às vezes, quase sempre, a mesma desumanidade violenta, que
espanca, tortura e mata, em vias públicas, é aquela que também falsifica
gasolina e/ou leite, compra produtos pirateados, ou de receptação. Às vezes,
também, sem questionar, a desumanidade julga ser verdade absoluta, qualquer
boato criado e compartilhado em rede social. E isso basta para a desumanidade
ir à forra, e matar, a pontapés e pauladas, o/a protagonista do dito boato.
Nesse caso, não há tempo para sequer pensar em processo judicial – a
desumanidade parte logo à aplicação da pena de morte.
Ironicamente,
grande parte dessa desumanidade toda sai em defesa dos animais, pela mídia, e
até em denúncias formais, em delegacias policiais. Parece que a desumanidade
enxerga esses locais (no caso em questão, as delegacias policiais), para
atender só denúncias de violência contra animais mesmo. E ainda tem
desumanidade que vende e desumanidade que compra atestados médicos e documentos
falsos, até animais roubados. Tudo acontece nas vias públicas – nada de fazer
escondido (e isso, dizem, é liberdade, democracia).
Diante
de tanta carnificina, causada pela desumanidade, o que não pode faltar?... A
presença de urubus, claro. Aí, entram os “apresentadores” de programas de
televisão. Todo final de tarde é a mesma coisa: sangue, de todos os tipos,
contaminados por ódio e vingança, escorre pelas salas da desumanidade, que
reclama da violência, e tem orgasmos múltiplos, seduzida pela ‘lábia’ dos
apresentadores desses ditos programas policialescos. Quanto a isso, fiquei
sabendo de uma pesquisa da ANDI (Agência de Notícias dos Direitos da Infância),
por todo o País, que registra a empolgação desses ‘senhores da mídia’, que incitam
os telespectadores à violência, e apoio à pena de morte. O objetivo será
denunciar ao Poder Judiciário, para posteriores julgamentos e condenações – sem
linchamento.
...E
assim caminha a desumanidade – talvez, para trás, ou em voo livre ao abismo.
Mas isso não é problema, nem chega ser motivo de preocupação. Qualquer coisa, o
presidente (mimado) da Câmara dos Deputados ressuscita a Lei Áurea, e a coloca
em votação, “a toque de caixa”, para que seja extinta, de uma vez por todas –
se perder, na primeira votação, continua reenviando a proposta, até conseguir
vitória. De “lambuja”, o dito extingue logo a Lei do Ventre Livre, também, para
garantir o branco mais branco de ‘coxinhas’, que fazem parte da decoração mais
requintada do fascismo contemporâneo. Depois disso, só falta a redução da
maioridade penal, com mais manobras na votação da Câmara, em agosto. Não demora
muito, e a pena de morte também chega à votação, no Congresso – a galope, obviamente,
para muito bem representar, nos cascos, seus defensores.
A realidade é que, apesar de muitos linchadores e
simpatizantes desejarem mais e mais violência, definitivamente, a lei da força
não vai sobrepor à força da lei. Que só pareça repetição do óbvio – é nisso que
acredito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário