Não
conheço você (não conheço nem a mim mesma), mas sei, antes de tudo e de mais
nada, que a sua história de vida daria um livro. Ou mais que um livro – uma
biblioteca, talvez. Por que sei isso? Por que toda vida humana é única, e - por
isso e apesar de - especial. Milhões de pessoas podem ser atingidas pelo mesmo tsunami, mas nem duas terão e guardarão
a mesma visão da catástrofe. Cada qual lembrará um tsunami único, que modificará, ou não, a vida que será vivida, a
partir de.
Não
me refiro, aqui, a genoma. Vou além, ou aquém, disso. Existem peculiaridades,
em cada personalidade, que surpreendem até a genética. Como escreveu Sartre, eu
sou o resultado do que escolhi fazer com o que sabia ser de mim. Por isso, o
tataravô do meu bisavô, e os demais familiares, pouco têm a ver com o que me
torno, a cada dia, por escolha minha.
Também,
discordo de quem diz que cada dia de vida é uma página em branco, à espera do
que desejamos escrever. Na minha visão estrábica, não há como você apagar quem
já foi, o que fez, vida bem, ou mal, escrita, simplesmente virando a página. A
gente é quem é, sempre a partir do que foi, e escolheu ser. Mesmo que houvesse
essa virada (radical) de página, a história de vida jamais seria mesmo um
recomeço, pois que somos resultado do que fizemos com o que já fomos. Tem gente
que escolhe ser melhor do que já foi, e outros, piores. É escolha de vida,
independe de condição social, ou de qualquer outra imagem que se queira manter.
À
revelia das postagens nas redes sociais, existe uma história de vida (única)
que daria um livro, sem plágio. Depois (quem sabe?), algum cineasta, tomando
conhecimento do livro, ousasse fazer um filme, que levaria milhões às salas de
cinema, e, aí, sim, causasse comentários nas redes sociais. Não há novidade
nisso, pois muitos fizeram, fazem e farão o mesmo, com sucesso garantido. Às
vezes, o livro e o filme são tão realistas, que poucos acreditam tratar-se de
biografia mesmo. Talvez, a vida real seja insuportavelmente nua, enquanto a imagem
dela exiba as cores e flores da moda. E ainda há a singularidade de cada olhar.
Por isso, o melhor mesmo é a autobiografia – como o próprio protagonista se vê,
já que a mãe dele enxerga-o diferente.
Por
mais que alguém tente igualar-se àqueles que considera semelhantes, ainda
assim, prevalecerão singularidades. O olhar de cada um é sempre diferente do
outro, que processa o que enxerga, a partir das vivências (íntimas) que já
teve. Não há como igualar, ou igualar-se. No máximo, nos assemelhamos, por gostos,
ou desgostos, características de caráter, personalidade, etc. Nada além disso.
Mas, mesmo assim, continuamos sendo diferentes dos demais.
Se
não somos iguais, podemos até seguir a moda, vestir o uniforme da maioria, seguir
a boiada que nada questiona, mas a nossa história de vida continuará sendo
única. Por outro lado, podemos economizar energias, já que não precisamos nos
esforçar para sermos diferentes. Como também não poderia ser diferente,
teremos, cada um, a morte única, especial. Jamais existiu, ou existirá, alguém
igualzinho a cada um de nós. E cada livro, dessa biblioteca infindável chamada
vida, será único. A história que cada um conta, de um jeito, ou de outro, e
deixa (bem ou mal) registrada, depende de cada escolha que faz, por toda a
vida, que ninguém sabe quando acaba, se acaba mesmo.
Em tempo: São essas histórias de vida que eu
tento traduzir à minha compreensão, a cada instante em que escrevo a história da
minha própria vida – também única, especial. Sem qualquer ironia.
Sim, somos resultado das nossas escolhas. Mas ainda assim, sempre haverá uma coisa que precede à escolha: as opções de escolha. Essas opções sim, são resultados das escolhas de nossos ancestrais e… Voilá! De volta ao palco: os tataravós, bisavós, avós, pais…. Sim somos resultados de nossas escolhas mas daquelas escolhas que a vida nos apresentou. E, até mesmo, quando "criamos" uma nova escolha, além dessas, ainda assim, nossa capacidade criativa é fruto das ferramentas que dispomos deixadas, como cicatrizes na alma, pelas escolhas de nossos ancestrais. Quem dera pudéssemos escolher de forma isenta…
ResponderExcluirPor isso fica difícil reduzir tão engendrado contexto, a um simples baile de "mea culpa"...
O Sorveteiro: - Que sabor que você quer?… A criança: - Tem de que?
Creio que sejamos os roteiristas daquilo que "deu pra ser". Roteiro esse que pode (ou não) ser a gênese do "Livro do que Sobrou"