quarta-feira, 8 de junho de 2011

“Mea culpa”

Depois que assisti o Luís Fernando Veríssimo assumindo, fiquei pensando: Se ele assume, por que também eu não assumo?... A revelação de Veríssimo surgiu numa entrevista, na televisão – não lembro o horario, nem o dia, muito menos o canal de tv. Mas Luís Fernando Veríssimo confessou. E eu também quero confessar: “Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa”.
‘Tá” certo, não sou filha do criador de um certo Capitão Rodrigo, não toco sax em banda de jazz, muito menos sou timidamente ousada, para criar personagens tão incríveis e inesquecíveis, como o analista de Bagé, ou o Ed Mort. Mas, cá entre nós, eu preciso aproveitar a carona do Luís Fernando, e também me confessar: “Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa”.
Na entrevista, Veríssimo pareceu tão natural, ao relatar a confissão dele. Parecia estar em paz, e já não mais carregar o peso da culpa que (ainda) eu carrego. No meio de tantos assuntos, até pareceu que o escritor, cronista e musico resolveu, como eu agora, aproveitar a oportunidade, para revelar intimo segredo dele.
Pelo que percebi, a confissão de Luís Fernando Veríssimo não havia sido planejada. No começo da revelação, ele pareceu, como sempre, timido, mas, logo depois, conforme relatava, ia ficando mais relaxado, confortável até, e já não mais aparentava “mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa”.
Observando o sorriso envergonhado de Veríssimo, pensei imediatamente: Eu também cometi essa falta, e pouca gente ficou sabendo. Se ele pode revelar, por que não eu?... Até aí, tudo bem, mas, com o tempo, a confissão de Veríssimo ficou ‘martelando’ a minha cabeça: “Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa”.
Nesta ousadia timida, sinto que não deve ter sido fácil para Luís Fernando Veríssimo confessar a “culpa”. Deve ter havido intensos debates entre ‘tico e teco’. A entrevista não era ao vivo. Por isso, penso que, depois da confissão, sentindo-se aliviado, ele nem pensou em pedir corte na edição. Eu também quero confessar, sem corte: “Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa”.
Semelhante a Luís Fernando Veríssimo (talvez, ajude a comparação), também eu, nos meus tempos de “foca de redação”, no início de trabalho em jornal, tive de escrever horoscopos diarios. Sim. Fui o que o chefe de redação me chamava, na epoca: “horoscopista”. Pronto. Confesso: “Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa”.
Nem fiquei sabendo exatamente o que aconteceu com o astrologo do jornal, que já não podia mais entregar ‘pacotes’ mensais contendo as previsões astrologicas. O que lembro é que o pessoal da oficina do jornal pretendia republicar os horoscopos antigos. Presenciando a discussão com o chefe de redação, eu já me sentia conivente com aquela ‘tramoia’. Na epoca, eu (ainda) manifestava o que pensava, não mantinha o silencio que tenho hoje. De imediato, falei, sem ninguém ter me perguntado, que republicar horoscopo era desonesto, por que poderia haver leitores que colecionassem previsões astrologicas. As pessoas levavam horoscopo mais a sério que hoje.
Quem mandou eu me meter na ‘cumbuca' dos outros?... Sobrou pra mim, obviamente. Sei que isso não justifica, mas foi o que pensei, nos meses seguintes. Ali mesmo, diante dos funcionarios da oficina, após meu breve e timido discurso sobre lealdade profissional (coisas de “foca” idealista), o chefe de redação me incumbiu a missão: “Então, você será, a partir desta edição, a nossa horoscopista, por que não há tempo para estudar astrologia agora”. Eu não podia, não queria, fugir do desafio. Aceitei – sem saber o que estava aceitando. “Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa”.
Confesso que eu não era muito ‘chegada’ em horoscopo, previsões astrologicas, etc e tal. Depois daquela experiencia, então, até leio sobre o assunto, com muita reserva, questionando bastante. Mas encarei o desafio – durante meses, todos os dias.
Você pode estar perguntando o que eu escrevia, no horoscopo diario do jornal. Uma das coisas que mais lembro (não podia faltar) era previsão otimista, positiva. Afinal, pelo menos uma coisa boa nos acontece, todos os dias, né?... É preciso estarmos atentos aos ‘sinais’ (ainda hoje, penso assim). Acho que eu, literalmente, pisciana que sou, “viajava na maionese”, e (quem sabe?) até animasse os leitores mais suscetíveis.
A carreira horoscopista, como qualquer desvio momentaneo, acabou, meses depois. Não lembro se o astrologo titular retornou, ou se contrataram outro. Por isso – que fique bem esclarecido -, não há a menor possibilidade de ser minha alguma previsão astrologica, por mais ‘certeira’ que seja. “Joguei a toalha” – isso faz tempo.
Agradeço ao Luís Fernando Veríssimo, que me permitiu a lembrança - e a confissão: “Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa”.

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