Não leia. Não leia coisa alguma – livros, revistas, jornais, gibis, até bula de medicamento. Não leia. O ato da leitura vicia, e você já não vai mais poder viver sem. Não leia.
Não leia. Não leia, principalmente, se você costuma frequentar escola. Se você começa ler sem parar, vai passar escrever “embriaguês” diferente (embriaguez), por exemplo – para os colegas, você se tornará “metido à besta”. Não leia.
Não leia. Não leia, por que a grande maioria da maioria grande não lê coisa alguma – nem contratos que assina. Não leia, por que, senão, em qualquer escritorio, ou balcão, você será interpretado como “chato”, por ler tudo o que consta no documento que pede a sua assinatura.
Não leia. Não leia, pra não descobrir que aquelas mensagens que você recebe por email não são de autoria do nome que consta nas mensagens que você recebe por email. Não leia, pra não saber que Clarice Lispector não escreveu “Não te amo mais. Estarei mentindo dizendo que ainda te quero como sempre quis. Tenho certeza que nada foi em vão”. Não leia, pra continuar pensando, como todo mundo, que foi Shakespeare quem deixou escrito que “um dia você aprende que” (blá blá blá blá blá).
Não leia. Não leia, senão você vai começar questionar tudo e todos – inclusive, e principalmente, você mesmo. Não leia, senão você vai se importar mais com as perguntas, que acomodar-se em respostas prontas. Mais confortável é – mesmo – não ler.
Não leia. Não leia, por que, lendo, você se sentirá sozinho – mais, muito mais só do que hoje, do que ontem. Não leia, por que a maioria das pessoas com quem você convive, ou pode conviver, não lê, e parece feliz (?) assim.
Não leia. Não leia, por que ler causa cefaleia, insonia, por que faz pensar. Às vezes, uma (aparente) inofensiva palavrinha pode desencadear um pensamento enorme (robusto), profundo demais, denso até.
Não leia. Não leia, por que você será mal interpretado. Não leia, por que vão imaginar que você isso, você aquilo – e não é nada disso, nem daquilo.
Não leia. Não leia, por que a leitura, sendo vicio, vai te instigar a ler, mais e mais, até quando você nem perceber. E, ainda por cima, como se não bastasse, livros e revistas custam caro. Pra muita gente, livro não é luxo – é lixo mesmo.
Não leia. Fuja das bibliotecas, guardadoras de palavras e pensamentos complicados. Se precisar apresentar algum trabalho que exija leitura, em sala de aula, recorra aos resumos prontos, disponibilizados pela internet. Arrisque Ctrl C – Ctrl V em textos por você desconhecidos. Melhor copiar, sem pensar, que ler, e pensar, questionar, elaborar, aprender, ensinar.
Não leia. Não leia coisa alguma, pra você se sentir fazendo parte – fazendo parte de quê?... Oras carambolas, não queira, agora, ler meus pensamentos... não vale a pena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário