Só às vezes, pra variar:
Para sermos aceitos, dizemos sim, com a vontade (engasgada) de dizermos não.
Para sermos aceitos, mostramos sorrisos amarelos, e chamamos todos de queridos amigos.
Para sermos aceitos, vestimos roupas apertadas, de tamanho menor que nosso corpo.
Para sermos aceitos, fazemos programas de finais de semana (que nem queremos) com a turma.
Para sermos aceitos, comemos escargots de Bourgogne, e vomitamos no banheiro.
Para sermos aceitos, pagamos mais caro por um produto, na loja famosa, frequentada por gente rica.
Para sermos aceitos, matriculamos nossos filhos em escolas particulares, por que os vizinhos fazem isso.
Para sermos aceitos, caricaturamos uma segurança inimaginável, escamoteando o medo de que somos feitos.
Para sermos aceitos, vendemos a geladeira que ganhamos de presente, para pagarmos uma prestação do carro zero, exibido, na garagem, como trofeu.
Para sermos aceitos, vomitamos a feijoada do almoço, no campo de futebol improvisado.
Para sermos aceitos, colecionamos cartões de credito, perdendo a noção de limite.
Para sermos aceitos, encomendamos, a amigos viajantes, lembrancinhas de alguma cidade distante, para comprovarmos nossas mentiras sobre as ferias recentes.
Para sermos aceitos, sacrificamos nossos sonhos, ideais, projetos de vida.
Para sermos aceitos, sofremos cirurgias plasticas, e ainda dizemos que não dói.
Para sermos aceitos, buscamos tantas igrejas, tantos cultos, e até desembolsamos dizímos, e, por isso, até deixamos de pagar o aluguel da casa onde moramos.
Para sermos aceitos, nos calamos, nos omitimos, diante da injustiça, da humilhação.
Para sermos aceitos, lemos sinopses de filmes, resumos de livros, e encenamos nosso pseudo-conhecimento.
Para sermos aceitos, exageramos nas bebidas, nos remedios, por que a maioria faz isso.
Para sermos aceitos, vamos a todos os shows, e até participamos do fã clube de alguma banda barulhenta, que nem gostamos.
Para sermos aceitos, aceitamos o que nos é imposto, sem questionarmos.
Para sermos aceitos, só usamos roupas com rosa pink, verde limão, só por que estão na moda.
Para sermos aceitos, casamos, temos o numero de filhos estabelecido pelo grupo com quem convivemos.
Para sermos aceitos, comungamos a fé em um “deus” criado pelos homens – às vezes, um “deus” liberal e misericordioso; outras, um “deus” autoritario e punidor.
Para sermos aceitos pelos outros, esquecemos de nós – nós que, quando deixamos de ser aceitos pelos outros, também somos esquecidos.
Infelizmente diz aqui grandes verdades. Os sapos que temos de engolir, as máscaras que temos de usar para sermos aceites, ou para vivermos com alguma paz com os outros. Esta aventura da vida não é nada fácil, não!
ResponderExcluirNa minha opinião, ainda é mais difícil as pessoas serem elas próprias nas sociedades com costumes, tradições e dogmas muito enraizados e, claro, também depende da importância que se dá ao que os outros pensam de nós.
Há que encontrar o nosso equilíbrio e saber o que pesa mais na balança. Se for o de libertarmos o "eu" de máscaras, tentarmos fazê-lo nos momentos certos e nos lugares oportunos...como é o caso aqui, neste seu magnífico blog ;)
Bjos
FN