Sós – todos somos. Até os gemeos xifopagos - que, permanentemente, não estão desacompanhados - são sozinhos. Estar só – ou não - é escolha de cada um. Não vou fundo, nessa questão – prefiro me manter nas beiradas (que são tantas). Ser só é uma coisa. Estar só é outra coisa. E ainda tem mais uma coisa: se sentir só. Escolho escrever sobre a coisa que fica entre uma coisa e outra coisa: o estar só.
Todo mundo sente vontade de estar só, uma vez na vida, ou ‘zilhões’ de vezes, ou até a maior parte da vida. Diante disso, há muita gente que enxerga obstaculos intransponíveis, e não se vê capaz de transpô-los, para, quando necessario, assumir uma separação, um divorcio. Alguns justificam que não conseguiriam manter o suficiente à familia e à propria (nova) vida. Outros dizem que se sentiriam “monstros”, sem perdão, se cometessem “abandono familiar”. Quanto a mim, continuo pensando que tudo o que fazemos, ou deixamos de fazer, faz parte do ‘kit’ das nossas escolhas, de mais ninguém. As consequencias disso, também.
Tenho um amigo que, depois de morar com colegas de trabalho, resolveu, como ele mesmo diz, “montar o proprio acampamento”. Para esse meu amigo, “você percebe estar só, quando não precisa brigar pelo controle remoto, nem bater na porta do banheiro, e gritar, quando quer tomar banho, muito menos tentar adivinhar quem roubou as latinhas de cerveja da geladeira”. Com tremendo bom humor, meu amigo parece estar comemorando estar só. Há vinte anos, principalmente, muitos brasileiros estão fazendo o mesmo. Hoje, já são quase sete milhões de pessoas morando sozinhas, no Brasil (dados do Censo do IBGE/2010). São homens e mulheres que, pelo visto, fizeram essa escolha, e não querem ser considerados “pobres coitados solitarios” (estigma derrubado há tanto tempo).
Ouvindo sempre muita gente falar a respeito disso, lembro, aqui, a maior vantagem citada, para quem mora sozinho: fazer o que quer. Todo mundo gosta de só fazer o que quer, né?... Estar só – pelo menos, onde mora – pode garantir a grande ‘graça’. Mas, pra muita gente, estar só pode trazer a desgraça de voltar pra casa, não encontrar um olhar amigo, um aconchego, alguém à espera, dizendo que conseguiu o filme tão sonhado, ou com outra surpresa repousante. Entre os “pós e as contas” (como diz outro amigo), a escolha é sempre de cada um.
Dentro da previsibilidade de vida humana, muitos sentem-se felizes, morando sozinhos; outros, infelizes, morando acompanhados; e há gente que se sente infeliz, morando sozinha, e, outra gente, feliz, morando na companhia de outras gentes. Nem todos, certamente - por morarem, ou não, sós - afirmam estar sozinhos. O sentimento de solidão parece desatrelado do estar – ou não – só. Ainda bem, por que, assim, não estamos predestinados a coisa alguma, e o destino de cada um continua sendo unico, resultado das escolhas intransferíveis que fazemos, a cada instante. É só o que penso – por enquanto.
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