Incontestavelmente, ouvir é um exercicio de sabedoria – e arte. Mas não pretendo ‘baixar’, aqui, a moral que nunca tive. Estou pensando em algo mais simples, que se refere, também, à sabedoria do ouvir.
Os canais de televisão estão exibindo, cada vez mais, programas de entrevistas, o que, na minha opinião desimportante, é um jeito de fazer pensar. O problema (que eu enxergo) reside nos entrevistadores, já que a maioria deles acaba falando mais que os entrevistados. Ainda que alguns (cada vez mais raros) entrevistadores tenham algo a dizer, por conhecimento e boa articulação verbal, quem assiste uma entrevista quer saber a opinião do entrevistado (que não é o entrevistador).
Não vou perder (o meu e o seu) tempo, aqui, fazendo a listinha dos entrevistadores que falam mais que os entrevistados. Não vale a pena. Até porque isso eu e você já sabemos, reconhecemos, principalmente, nos “talk shows” diarios televisivos. Também, prefiro destacar quem, na minha opiniãozinha, é melhor, às vezes até, sem saber disso – reconhecer é uma das coisas que eu procuro fazer sempre, na vida.
Acho que exemplo de ouvir com sabedoria é a jornalista Leda Nagle, “ancora” do Programa Sem Censura, na TV Brasil. Os demais entrevistadores, a meu ver, que estou sempre buscando programas de entrevistas, (ainda) não sabem ouvir o outro, no caso, o entrevistado, e acabam ‘rodopiando’ no proprio umbigo. Às vezes, a diferença de opinião – entre entrevistado e entrevistador – torna-se tão gritante, que o entrevistador (ou entrevistadora) chega manifestar-se enfaticamente, com imponencia mesmo, deixando o entrevistado (ou entrevistada), visivelmente, constrangido (a).
Gente, o microfone, semelhante a uma caneta, uma camera, ou (hoje) um computador, é uma ‘arma’. Seja no meio de comunicação que for – os tradicionais jornal, radio e televisão, ou blogs e todas as redes sociais -, ouvir é sabedoria e arte. Jornalista, eu sei o quanto a gente pode direcionar a entrevista, e fazer o entrevistado falar o que queremos ouvir. Mas, se cometemos a parcialidade, já não precisamos mais do outro, por que estamos falando sozinhos. Isso não é entrevista, muito menos dialogo.
“Operaria das letras” que sou, acho que uma das primeiras lições que tive, lá no “be-a-bá” da minha pratica jornalistica, foi buscar, ao maximo, a imparcialidade, ainda que seja utopia. Por isso, um dos caminhos, pra gente se aproximar dessa (tão cantada em prosa) imparcialidade, é deixar falar, e saber ouvir. Acredito mesmo que, na vida cotidiana, acontece igualzinho: a sabedoria do ouvir pode nos levar à compreensão. Não me refiro a quem deixa o outro falar, sem o ouvir, sem pensar sobre o que escuta. Absolutamente. Saber ouvir, pra mim, é despojar-se, pelo menos, por alguns instantes, das opiniões e certezas proprias, e permitir-se pensar sobre o que o outro fala, manifesta. Melhor ainda, quando nos detemos menos nas palavras, e mais no sentido delas – o que o outro sente/pensa. É o que penso – eu, que prefiro observar, ouvir, e não concluir coisa alguma. Nem queira me ouvir.
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