segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Transbordamento


Do jeito que a ‘coisa’ tá indo, daqui a pouco (não demora mesmo), nós vamos estar alfabetizando, sem lapis, nem caneta, muito menos papel. Nada mais de giz, quadro negro (ou verde), nem lousa. Sem essa de “desenhar letrinhas”. A alfabetização não será mais escrita, mas sim, digitalizada. Depois disso, olharemos os papéis escritos, guardados nos museus, ou em alguma gaveta esquecida no tempo, feito os arqueologos, que ainda pesquisam hieroglifos, na tentativa de, senão traduzi-los, interpretá-los. Poderemos sentir nostalgia – o tempo já passou.
Aos poucos, vamos participando de “conferencias on line”, “aulas on line”, “relacionamentos on line”, “trabalhos on line”. Sem essa de pedir demissão, ou avisar, pessoalmente, a desistencia de um curso – basta desconectar. Pronto. Até divorcio pode ser via internet (por que não?).
Mas tem mais mudanças humanas – imperceptíveis, ou desconsideráveis (por isso, desconsideradas), pela maioria. Como se não bastasse, ainda exigimos dos outros o que nós não praticamos. Por isso, tem tanta gente, indignada, denunciando as consequencias do que essa mesma gente causou.
Acho que se engana, quem pensa que vivemos a “era da informação”. Ao contrario, estamos na era da desinformação. São tantas informações, que acabamos não mais retendo coisa alguma, sabendo, de antemão, que podemos acessar, a qualquer momento, o deposito informativo da internet. Isso resulta, obviamente, no que chamo ‘engessamento mental’. Habituamos não pensar, por que já temos informações – que consideramos – suficientes, sempre à mão. Lamentável.
Depois dos periodos de romantismo, modernismo, vivemos tempos de individualismo. Ainda fico tentando imaginar o que escreverá o nosso futuro, a esse respeito... E o individualismo nos traz outro ‘ismo’: o imediatismo. Ninguém faz planos a longo prazo – tudo precisa ser “pra ontem”. Por isso, estão na moda as “festas miojo” – três minutos depois, todo mundo já pode começar “comer” todo mundo (expressão que, no romantismo, não era sinonimo de fazer sexo – com, ou sem amor). Poucos, se comparados à maioria, investem em relacionamentos. Não há mais esperanças. Nem sonhos.
A palavra construção, que, há algum tempo atrás, representava constancia, está desaparecendo. A maioria já não pensa em construir – se constrói, é em tempo minimo, com pré-moldado, só utilizando o que necessita para simples encaixe.

Volto a perguntar: Eu é que sou ironica?...

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