Doze de outubro é Dia das Crianças. Mesmo negando, no maior tempo da vida, continuamos sendo crianças – no que pensamos, agimos, vivemos, existimos.
Não quero me deter em instantes corriqueiros, quando admitimos que estamos sendo crianças. Não. Não vou falar sobre as brincadeiras infantis que fazemos com nossos filhos, sobrinhos, netos, bisnetos, tataranetos, afilhados, etc e tal. Nem sobre o tratamento mutuo entre os apaixonados: “bebezinho”, “benhê”, “baby”... Não quero tratar sobre infantilidades, nem sobre a velhice, que tanto se manifesta em forma de infancia.
Quero ousar escrever sobre sermos crianças sempre. Você lê, se quiser – por sua conta e risco. Depois, não adianta sapatear, espernear, nem fazer caretas – ultimo aviso.
Penso que somos crianças, nos relacionamentos. Quando nos ofendemos com alguma coisa, ou alguém, quando o outro (seja quem for) não corresponde à nossa expectativa, simplesmente falamos, em atitudes: Não brinco mais. Às vezes, até escondidos, brincamos descalços na chuva, rapamos o prato de doce, com os dedos, choramos no escuro, abraçados no travesseiro. Até brincamos “de casinha”, depois que casamos. Vamos além, quando substituímos nossas bonecas, pelos filhos que parimos. E ainda nos mascaramos de super herois, querendo ignorar que os nossos filhos nem sempre serão ingenuos. Gelamos as mãos, até gaguejamos, quando estamos numa entrevista de emprego – mas raramente admitimos o nosso medo.
E seguimos crianças, a vida inteira. Por todo planeta, acionamos armas, detonamos bombas, na justificativa de combatermos o mal, como fazíamos, quando pequenos, em brincadeiras de policia e bandido. Crianças, vamos mais longe, quando aprimoramos nosso trabalho, para sermos reconhecidos, com a tão sonhada promoção, semelhante ao doce que ganhávamos, por comermos todos os legumes do prato. Numa disputa – seja na mesa de truco, na briga de rua, na Olimpiada -, queremos ser os melhores, e até choramos (de raiva), quando somos vencidos. Se já não ambicionamos a bicicleta recém lançada, desejamos, adultos que somos, o carro do ano. Para sermos aceitos, nos tantos diferentes grupos sociais, feito crianças, mudamos nosso jeito – de vestir, de falar, de agir.
E ainda queremos ser exemplos às crianças. Quanta ironia!... Exemplos de que mesmo?... Exemplos de personas que não se reconhecem frágeis, com medo de (quase) tudo, principalmente, da morte, que chega, na companhia inseparável do tempo...
O que nos resta fazer?... Eu acho que nos reconhecermos, e sermos, ainda mais, crianças. Deixarmos as babaquices de lado – orgulho, ressentimento, ambição desmedida, vaidade, discriminação, inveja, vingança, ciúme, e essa porcaria toda que afasta a humanidade. Criança esquece o mal-entendido com outra criança. Criança não tem pré-conceitos, nem conceitos e preconceitos. Criança arranja sempre um jeito de brincar, sem ferir, nem se ferir. Criança se extasia, vendo um inseto camuflado numa folha. Criança desenha bichinhos e brinquedos, nas nuvens. Criança procura e conta estrelas, na noite escura. Criança pergunta sempre o que não compreende, e quer compreender. Criança limpa as mãos, com sorvete de chocolate, na camiseta. Criança adormece sem querer, e acorda criando um novo dia. Mais importante: criança continua sonhando, e nos fazendo (ainda) acreditar nos sonhos, nos instigando a sonhar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário