“A
roupa nova do rei”, de autoria do dinamarquês Hans Christian Andersen, nunca
foi tão contemporâneo como nos dias atuais. Saindo da classificação de conto de
fadas, a obra, escrita para crianças, encaixa em atitudes que deveriam ser consideradas
adultas, principalmente, aquela cena reveladora(inesquecível): “Um menino, que
estava na multidão, achou aquilo tudo muito estranho, e gritou: - O rei está nu!”
Recentemente,
o jornalista Sidney Rezende foi demitido pela direção da rede globo, que
afirmou, em nota, que só tem “elogios à conduta profissional de Sidney, um
jornalista completo''. Foi justamente isso que fez com que alguns colegas de
Sidney Rezende, que também pensam, questionassem o fato: Se é tão bom, por que
demitir?... Admitir e demitir até rimam, mas são verbos contraditórios.
O
jornalista demitido mantém blog e página em rede social, onde se acha no
direito de escrever e publicar o que pensa – direito real, obviamente. Mas,
entre as aparições de Sidney, na televisão, e a liberdade expressa nos textos
que assina, houve um distanciamento imensurável(abismal) e insustentável(como
tinha de ser). Desde janeiro, o jornalista, nos intervalos das apresentações na
tevê, escrevia(demais) sobre o que pensava, para qualquer um ler. Até que, no
dia 12 de novembro, Sidney Rezende resolveu “pegar pesado”, e publicou, no blog
dele e em rede social, (quase)tudo o que pensava sobre o que já sabemos: “Há
uma má vontade dos colegas que se especializaram em política e economia. A
obsessão em ver no Governo o demônio, a materialização do mal, ou o porto da incompetência,
está sufocando a sociedade e engessando o setor produtivo. (...) É hora de
mudar. O povo já percebeu que esta ‘nossa vibe’ é só nossa e das forças que
ganham dinheiro e querem mais poder no Brasil”. Foi a última gota, para romper
a barragem globista, que mandou ver o clássico “pé na bunda”, mais uma vez,
como tem feito com todos os ‘globais’ que resolvem manifestar o que pensam(“o
rei está nu!”).
O
fato, que podia ser mais um, na areia movediça televisiva, me fez pensar(mais).
Como nunca trabalhei na globo(nem pretendo, esconjuro!), meu direito de
manifestar o que penso não foi amordaçado, nem entorpecido. Caro Sidney
Rezende, lembro que, quando foquei meus sonhos e ideais na profissão, o
jornalismo me recebeu com alguns profissionais exemplares e inesquecíveis,
hoje, cada vez mais raros. O meu primeiro estranhamento foi justamente a
importância que esses jornalistas especiais davam aos processos judiciais em que
eram os protagonistas. Quando levei meu primeiro processo judicial, compreendi
o valor do meu trabalho, e a recompensa que vinha, por eu não me omitir, não
aceitar o passaporte de viajar na primeira classe, com o conforto e a proteção
da boiada, que segue obedecendo o que nem sabe. A partir dali, sempre que nos
reuníamos, em algum momento, surgia a pergunta inevitável: Quantos?... Cada um
sabia que se tratava do número de processos ajuizados, a partir do trabalho
sério e compromissado com a realidade, já que a verdade se dobra e se desdobra,
a cada depoimento sobre o mesmo fato.
Por conhecer alguns porões abarrotados de
ratazanas, Sidney, reconheço a dimensão da sua atitude, ao manifestar que
pensa, e o que pensa. A escolha é dolorida(e solitária) – o adversário se acha
um globo(‘não é pouca bosta’). Mas o salto – você já deve saber – não é
impossível. Impossível mesmo é acreditar que todos os funcionários globais não
pensam. Oxalá, em algum momento, como tem sido, mais um profissional, aparentemente inofensivo,
servil(e mudo), escolhe gritar: “O rei está nu!”
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