terça-feira, 17 de novembro de 2015

“O rei está nu!”

“A roupa nova do rei”, de autoria do dinamarquês Hans Christian Andersen, nunca foi tão contemporâneo como nos dias atuais. Saindo da classificação de conto de fadas, a obra, escrita para crianças, encaixa em atitudes que deveriam ser consideradas adultas, principalmente, aquela cena reveladora(inesquecível): “Um menino, que estava na multidão, achou aquilo tudo muito estranho, e gritou: - O rei está nu!”
Recentemente, o jornalista Sidney Rezende foi demitido pela direção da rede globo, que afirmou, em nota, que só tem “elogios à conduta profissional de Sidney, um jornalista completo''. Foi justamente isso que fez com que alguns colegas de Sidney Rezende, que também pensam, questionassem o fato: Se é tão bom, por que demitir?... Admitir e demitir até rimam, mas são verbos contraditórios.
O jornalista demitido mantém blog e página em rede social, onde se acha no direito de escrever e publicar o que pensa – direito real, obviamente. Mas, entre as aparições de Sidney, na televisão, e a liberdade expressa nos textos que assina, houve um distanciamento imensurável(abismal) e insustentável(como tinha de ser). Desde janeiro, o jornalista, nos intervalos das apresentações na tevê, escrevia(demais) sobre o que pensava, para qualquer um ler. Até que, no dia 12 de novembro, Sidney Rezende resolveu “pegar pesado”, e publicou, no blog dele e em rede social, (quase)tudo o que pensava sobre o que já sabemos: “Há uma má vontade dos colegas que se especializaram em política e economia. A obsessão em ver no Governo o demônio, a materialização do mal, ou o porto da incompetência, está sufocando a sociedade e engessando o setor produtivo. (...) É hora de mudar. O povo já percebeu que esta ‘nossa vibe’ é só nossa e das forças que ganham dinheiro e querem mais poder no Brasil”. Foi a última gota, para romper a barragem globista, que mandou ver o clássico “pé na bunda”, mais uma vez, como tem feito com todos os ‘globais’ que resolvem manifestar o que pensam(“o rei está nu!”).
O fato, que podia ser mais um, na areia movediça televisiva, me fez pensar(mais). Como nunca trabalhei na globo(nem pretendo, esconjuro!), meu direito de manifestar o que penso não foi amordaçado, nem entorpecido. Caro Sidney Rezende, lembro que, quando foquei meus sonhos e ideais na profissão, o jornalismo me recebeu com alguns profissionais exemplares e inesquecíveis, hoje, cada vez mais raros. O meu primeiro estranhamento foi justamente a importância que esses jornalistas especiais davam aos processos judiciais em que eram os protagonistas. Quando levei meu primeiro processo judicial, compreendi o valor do meu trabalho, e a recompensa que vinha, por eu não me omitir, não aceitar o passaporte de viajar na primeira classe, com o conforto e a proteção da boiada, que segue obedecendo o que nem sabe. A partir dali, sempre que nos reuníamos, em algum momento, surgia a pergunta inevitável: Quantos?... Cada um sabia que se tratava do número de processos ajuizados, a partir do trabalho sério e compromissado com a realidade, já que a verdade se dobra e se desdobra, a cada depoimento sobre o mesmo fato.
Por conhecer alguns porões abarrotados de ratazanas, Sidney, reconheço a dimensão da sua atitude, ao manifestar que pensa, e o que pensa. A escolha é dolorida(e solitária) – o adversário se acha um globo(‘não é pouca bosta’). Mas o salto – você já deve saber – não é impossível. Impossível mesmo é acreditar que todos os funcionários globais não pensam. Oxalá, em algum momento, como tem sido, mais um profissional, aparentemente inofensivo, servil(e mudo), escolhe gritar: “O rei está nu!”

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