quarta-feira, 22 de julho de 2009

Bom Francisco


“Meu nome é Francisco. Procuro moça, de 19 a 30 anos,
temente a Deus, para casamento. Celular número...”


(Eu li seu recado, bom Francisco – estava lá, num dos tantos telefones públicos de Aparecida de Goiânia...)

Bom Francisco, perdão pela demora em escrever, mas, tenha certeza, não esqueci seu pedido perdido naquele telefone público, no interior de Goiás. Talvez, a demora, bom Francisco, decorra do fato de eu não ter mais 19, nem 30 anos. Nem é minha intenção aqui convencer-lhe a ‘flexibilizar’ o ‘prazo de validade’ do pedido às suas pretendentes.
Bom Francisco, seu pedido emocionou minha alma descrente – não sou temente a Deus, pois não O conheço. Temo o que me é conhecido. Mas você, bom Francisco, deixou transparecer não temer o olhar alheio, e ousou registrar, em letras trêmulas, seu maior desejo, ao público transeunte. Só por isso, bom Francisco, sem conhecê-lo (nem imaginá-lo), sei do seu bom coração – coração que se destaca, em meio a tantos outros, por (ainda) crer na existência de uma moça “casadoira”, “temente a Deus”. Com isso, bom Francisco, você deixou, a quem, como eu, se debruçasse ao seu pedido, a pista de alguém que acredita em tantos valores, hoje meio abandonados, esquecidos.
Mas não quero desanimar-lhe o espírito, bom Francisco. Acredite, acredite sempre no amor, nas boas intenções – acredite principalmente no que você sente. E tudo, nesta vida de nadas, terá valido a pena, bom Francisco. A mim também, que, ao lembrar do seu ‘anúncio’, carregado das melhores intenções, faz voltar, à janela da minha visão estrábica, a minha alma menina.
Permita que eu fique, aqui no sul do País, a imaginar o bom Francisco casando com a sonhada – e tão procurada - “moça temente a Deus”, educando seus filhos, transmitindo-lhes, através do exemplo cotidiano, os valores do coração. Permita que eu sonhe, bom Francisco, que, em algum lugar, além de Aparecida de Goiânia, também outros bons Franciscos ousam expor seus desejos, na tentativa, talvez inocente, de escrever o sentido à própria existência.
Obrigado por existir, bom Francisco. Obrigado pelo pedido deixado naquele telefone público. Obrigado por não esquecê-lo jamais.

Um comentário:

  1. meu deuuuss!!! eu nem lembrava mais desse causo! uhAuhUA

    e parece historia dessas inventadas né?

    =**

    ResponderExcluir