Eu caminhava num deserto vazio. A areia afundava meus passos, que não deixavam marcas pelo caminho. Eu não sabia para onde estava indo, nem para onde voltar.
Aos poucos, foram surgindo, às minhas vistas fatigadas, saliências de ossos, por toda a extensão desértica. Desenterrando-as, com os dedos ávidos, pude comprovar que eram ossos humanos, que, entre si, faziam-se corpos sem vísceras.
O mais estranho é que, a cada esqueleto que minhas mãos revolviam, eu reconhecia a alma que um dia ali permanecera. Eram ossos no deserto frio. Se, algum dia, houve alma em cada esqueleto daqueles, também esta já não havia mais.
Eu era uma alma só a vagar no deserto do meu passado longínquo.
Minuciosamente, eu observava a ossada, como a farejar um sopro de vida. Nada. A cada esqueleto a que eu me debruçava, reconhecia, naquele corpo sem corpo, sem alma, a criatura que fizera a história – a minha história -, junto comigo. Foram tantas lembranças – mais, muito mais que os ossos todos que eu ainda poderia encontrar, naquele deserto escuro.
As memórias vieram de longe, transbordantes de vozes, gestos, risos, olhares, toques, cheiros, sabores, lágrimas. E eu a dar passos insossos, titubeantes, na vida que (ainda) era minha.
Pudera eu, naquele instante só, rever, em cada um deles, não os dentes, mas o sorriso. Não os olhos - o olhar. Não as mãos - as veias grossas e firmes. Não os braços - o abraço aconchegante. Não a boca - as palavras confiantes. Não as pernas e os pés - os passos calmos em minha direção. Não o corpo - a alma.
Não havia alma, naquele deserto sem calor. Uma alma só, diante de tantos restos de moradia sem alma. Esqueletos silenciosos segredavam marcas de um passado, que jazia esquecido, em coma, numa unidade de terapia desaparelhada.
De repente, deparo-me com uma imagem emocionada e emocionante. Dois esqueletos abraçados, igualzinho a foto que vi na internet. O abraço parecia tão vivo, tão certo, que ajoelhei diante da imagem próxima. Haveria, no mundo, alguém que morreria abraçado a mim?... Haveria alma que, abraçada à minha alma, se libertasse da moradia, e saísse comigo a voar, voar, longe daquele deserto morto?...
Chorando, acordei. Era um sonho. Um pesadelo. Eu não sei.
Aos poucos, foram surgindo, às minhas vistas fatigadas, saliências de ossos, por toda a extensão desértica. Desenterrando-as, com os dedos ávidos, pude comprovar que eram ossos humanos, que, entre si, faziam-se corpos sem vísceras.
O mais estranho é que, a cada esqueleto que minhas mãos revolviam, eu reconhecia a alma que um dia ali permanecera. Eram ossos no deserto frio. Se, algum dia, houve alma em cada esqueleto daqueles, também esta já não havia mais.
Eu era uma alma só a vagar no deserto do meu passado longínquo.
Minuciosamente, eu observava a ossada, como a farejar um sopro de vida. Nada. A cada esqueleto a que eu me debruçava, reconhecia, naquele corpo sem corpo, sem alma, a criatura que fizera a história – a minha história -, junto comigo. Foram tantas lembranças – mais, muito mais que os ossos todos que eu ainda poderia encontrar, naquele deserto escuro.
As memórias vieram de longe, transbordantes de vozes, gestos, risos, olhares, toques, cheiros, sabores, lágrimas. E eu a dar passos insossos, titubeantes, na vida que (ainda) era minha.
Pudera eu, naquele instante só, rever, em cada um deles, não os dentes, mas o sorriso. Não os olhos - o olhar. Não as mãos - as veias grossas e firmes. Não os braços - o abraço aconchegante. Não a boca - as palavras confiantes. Não as pernas e os pés - os passos calmos em minha direção. Não o corpo - a alma.
Não havia alma, naquele deserto sem calor. Uma alma só, diante de tantos restos de moradia sem alma. Esqueletos silenciosos segredavam marcas de um passado, que jazia esquecido, em coma, numa unidade de terapia desaparelhada.
De repente, deparo-me com uma imagem emocionada e emocionante. Dois esqueletos abraçados, igualzinho a foto que vi na internet. O abraço parecia tão vivo, tão certo, que ajoelhei diante da imagem próxima. Haveria, no mundo, alguém que morreria abraçado a mim?... Haveria alma que, abraçada à minha alma, se libertasse da moradia, e saísse comigo a voar, voar, longe daquele deserto morto?...
Chorando, acordei. Era um sonho. Um pesadelo. Eu não sei.
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