domingo, 20 de setembro de 2009

Joguinhos imortais


Enquanto as telonas e as telinhas exibem “Jogos Mortais” I, II, III, IV, V, VI (“ad infinitum”), eu fico pensando nos joguinhos imortais que nós, seres humanos, usamos e abusamos cotidianamente. Sei lá quem nos ensinou, mas aprendemos, durante a vida, muito mais a insinuarmos, na tentativa, consciente ou não, de que o outro assuma também por nós, fazendo o que esperamos dele.
Por exemplo (exemplo é uma palavrinha que não rima comigo), quando queremos aumento salarial, ou promoção no ambiente de trabalho, nos esforçamos à perfeição. Há ainda aqueles, mais exagerados, que começam servir cafezinho para o chefe, às oito da matina, e só param, depois de “baterem o ponto”, no início da noite, quando já “se mataram” em horas extras esquecidas pelo Departamento de RH. Poucos mesmo ousam chegar diretamente ao chefe (que não é “guru adivinhatório”), verbalizando o que desejam. Somente uma minoria é que marca reunião, ou aproveita um momento propício, para expor que tem trabalhado, se esforçado bastante, e considera justo e viável o reconhecimento, por parte do patrão, com aumento na folha de pagamento, ou algum cargo de ascensão.
Mas os joguinhos imortais não param por aí... Aliás, não param jamais, por que os autores dos joguinhos morrem, mas os joguinhos permanecem – imortais...
Acredite se quiser, há muitas mulheres, jovens inclusive, que estão, neste momento talvez, “se produzindo”, na esperança de receberem convite de casamento de um namorado, ou “ficante”, incauto, que não adivinha tal sonho, nem pensa em casar. Eu não compreendo essa linguagem, e até imagino que tudo isso dê muito mais trabalho do que se a criatura for direta e franca.
Se você ainda não sabe, eu sempre questiono tudo o que observo. Sei que também devo participar, ou promover, zilhões de joguinhos imortais. O que não compreendo é por que, quando temos a clareza do que queremos, não ousamos expor, manifestar. Será medo?... Mas não há medo em criar esses constantes joguinhos cansativos?... Se o medo é de receber um “não”, os joguinhos também podem nos levar, junto com a vaca, “pro brejo”. Gente, é muita perda de tempo! – estou dizendo isso pra mim também, que sou parte dessa humanidade que cultua joguinhos mais intrínsecos que os enredos cinematográficos contemporâneos.
Por questionar demais tudo isso, sempre busco ouvir pessoas a respeito. Já ouvi gente que cria esses joguinhos imortais, como também outra gente que, consciente de que está fazendo parte do joguinho, continua alimentando. O que percebi, na minha visão estrábica, é que quem cria, conscientemente, esses joguinhos sente insegurança em assumir, e conduz o outro à ação tão desejada. Quem alimenta, com consciência, os joguinhos é por que, acho, prefere ser seduzido (a), e pra isso dá toda corda (mas só corda mesmo).
Teve gente que me confessou esperar que chamassem pra se candidatar, e “deu com os burros n’água”, pois outras pessoas colocaram seus nomes à disposição, abertamente, e concorreram, na eleição. Os joguinhos imortais – é o que penso – podem atrasar a vida, pois, enquanto alguns somente se insinuam, outros dão a cartada definitiva, através da franqueza: Quero! Não quero!
Eu mesma não sou “chegada” em jogos, até por que sou péssima jogadora. Confesso que, no futebol, não torço nem pra Seleção Brasileira. Sempre digo que não presto nem pra isso: torcer por aqueles que vivem de desafios competitivos. Até assisto alguns jogos de televisão, ou playstation, mas não por causa do jogo - mais e tão-somente pela companhia. Também, não gosto de me enxergar alvo de joguinhos, e, quando percebo que estou criando ou alimentando algum (joguinho), mudo o rumo pra lugar nenhum. Às vezes, demora “pra cair a ficha”, mas cai. Quando ‘saco’ que sou eu a criar o dito joguinho imortal, fico p. da vida comigo mesma. Mais do que simplesmente baixar a cortina, pra não dar continuidade à cena, eu busco reavaliar, em mim, como posso ser franca. Tenho dificuldades, reconheço, em ser direta, objetiva, mas o caminho da franqueza me é sabido. Quando consigo suspender o joguinho, com o exercício da franqueza, me admiro pra caramba. É o que estou tentando fazer agora. (Por favor, não pense você, que eu nem imagino quem seja, que estou fazendo, aqui, algum desses joguinhos. Se você me conhece, deve saber que eu não usaria este meu “chão” pra enviar “torpedo” a uma pessoa – seria exclusividade demais, e eu não faria isso por aqui. Neste espaço, eu paro pra pensar, repensar, ‘despensar’. Só “viagem” – mesmo.)
Admito que faço parte deste filme: joguinhos imortais. Às vezes, protagonista; outras, coadjuvante. Sei também que os joguinhos não vão acabar, até por que servem de instrumento a todos nós, que, numa circunstância inesperada, nos sentimos inseguros, com medo. Queremos ascender, do jeito que for, mas não queremos assumir o risco – o outro representa a aprovação (externa) que desejamos. Que o outro arrisque, ouse, tome a iniciativa, trazendo nossa medalhinha de “honra ao mérito”.
Não foi à toa que o ser humano criou aquela figura instigante: o labirinto... né?...

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