Sakineh Mohammadi Ashtiani,
Não escrevo com a intenção de julgar, muito menos condenar teus atos. Esta é uma carta sem pedra. Escrevo de mulher para mulher – mulher que sente, não só os sofrimentos de outra mulher, mas tenta compreender o ser humano (tentar não é conseguir, mas insistir). Sei que você está condenada à morte por apedrejamento, e só isso já me motiva a escrever para você, mulher iraniana, que sobrevive numa realidade que desconheço, por que nunca vivi – nem pretendo-, mas isso não faz eu me omitir.
Confesso que o Código Penal de um país que (ainda) prevê tamanha barbárie (morte por apedrejamento, ou enforcamento – a pena de morte, enfim,) afasta qualquer interesse, de minha parte, em conhecer tal cultura. Sei pouco do Irã – e o pouco que sei está manchado de sangue, fanatismo, homens e mulheres-bombas, crianças, velhos, adultos dizimados. Miséria absoluta – sem qualquer esperança. É só.
Você, Ashtiani, me fez voltar o olhar (amedrontado) para o teu país. De você, Ashtiani, não restará mais que isso: a notícia que “(mais) uma mulher iraniana, 43 anos, encara a morte, após ser torturada por um suposto adultério. Em 2006, a viúva Ashtiani foi condenada, por que teria mantido ‘relações ilícitas’ com dois homens, tendo recebido, na época, 99 chibatadas. Desde então, ela está na prisão, onde se retratou da confissão feita, sob a coerção das chicotadas. Só recentemente é que Ashtiani foi levada ao tribunal, em outro julgamento. Foi novamente condenada, e, desta vez, apesar de já ter sofrido uma punição, foi sentenciada à morte por apedrejamento. Essa prática desumana envolve enrolar firmemente a mulher, da cabeça aos pés, com lençóis brancos, enterrá-la na areia até os ombros, e golpeá-la à morte, com pedras grandes”.
Não tem como eu não pensar nos teus filhos, Sakine Mohammadie Ashtiani - Fasride e Sajjad Mohammadie Ashtiani. Você morrerá, e eles morrerão contigo – na crucificação do medo e do desamparo. E, mais uma vez, previsivelmente, a história iraniana será marcada de sangue e crueldade, em nome de uma crença que, sem conhecer, abomino, com o simples direito de mulher mãe cidadã.
Já fiquei sabendo que você, mulher encarcerada, torturada e ameaçada diariamente, no sofrimento da ausência dos filhos e de alguém que, neste campo minado, ainda seja capaz de sentir amor e compaixão, é apenas mais uma vítima – não a única. Segundo ativistas dos direitos humanos pelo mundo, o teu país, Ashtiani, mantém, além de você, outras 24 pessoas, entre mulheres e homossexuais, no corredor da morte, a serem apedrejados até a morte. Por favor, se sabe, não se console com isso – chore por todos eles (as centenas humanas apedrejadas, e as próximas 24).
Não sei se você tem fé, Ashtiani – se tem, nem imagino teu ‘deus’ (Maomé, ou tenha o nome humano que tiver). Nem pediria pra você continuar acreditando, orando, com resignação. Se você me perguntasse por que o ‘teu deus’ (ainda) permite tamanha tirania, eu silenciaria, Ashtiani, por que nasci num Brasil, que, mesmo durante a ditadura, teve a maioria cantando amores e sonhos, em prantos que ninguém até hoje esqueceu. Esta é a nossa fé, Ashtiani, que você vai morrer, sem conhecer, simplesmente por que você nasceu numa terra onde brotam leis que desconheço, e bombas que matam amores e sonhos. Até abrigo no Brasil te foi negado, alma milhões de vezes apedrejada por seres humanos, como você, que falam o teu idioma, e colocam fim ao teu destino.
Não escrevo com a intenção de julgar, muito menos condenar teus atos. Esta é uma carta sem pedra. Escrevo de mulher para mulher – mulher que sente, não só os sofrimentos de outra mulher, mas tenta compreender o ser humano (tentar não é conseguir, mas insistir). Sei que você está condenada à morte por apedrejamento, e só isso já me motiva a escrever para você, mulher iraniana, que sobrevive numa realidade que desconheço, por que nunca vivi – nem pretendo-, mas isso não faz eu me omitir.
Confesso que o Código Penal de um país que (ainda) prevê tamanha barbárie (morte por apedrejamento, ou enforcamento – a pena de morte, enfim,) afasta qualquer interesse, de minha parte, em conhecer tal cultura. Sei pouco do Irã – e o pouco que sei está manchado de sangue, fanatismo, homens e mulheres-bombas, crianças, velhos, adultos dizimados. Miséria absoluta – sem qualquer esperança. É só.
Você, Ashtiani, me fez voltar o olhar (amedrontado) para o teu país. De você, Ashtiani, não restará mais que isso: a notícia que “(mais) uma mulher iraniana, 43 anos, encara a morte, após ser torturada por um suposto adultério. Em 2006, a viúva Ashtiani foi condenada, por que teria mantido ‘relações ilícitas’ com dois homens, tendo recebido, na época, 99 chibatadas. Desde então, ela está na prisão, onde se retratou da confissão feita, sob a coerção das chicotadas. Só recentemente é que Ashtiani foi levada ao tribunal, em outro julgamento. Foi novamente condenada, e, desta vez, apesar de já ter sofrido uma punição, foi sentenciada à morte por apedrejamento. Essa prática desumana envolve enrolar firmemente a mulher, da cabeça aos pés, com lençóis brancos, enterrá-la na areia até os ombros, e golpeá-la à morte, com pedras grandes”.
Não tem como eu não pensar nos teus filhos, Sakine Mohammadie Ashtiani - Fasride e Sajjad Mohammadie Ashtiani. Você morrerá, e eles morrerão contigo – na crucificação do medo e do desamparo. E, mais uma vez, previsivelmente, a história iraniana será marcada de sangue e crueldade, em nome de uma crença que, sem conhecer, abomino, com o simples direito de mulher mãe cidadã.
Já fiquei sabendo que você, mulher encarcerada, torturada e ameaçada diariamente, no sofrimento da ausência dos filhos e de alguém que, neste campo minado, ainda seja capaz de sentir amor e compaixão, é apenas mais uma vítima – não a única. Segundo ativistas dos direitos humanos pelo mundo, o teu país, Ashtiani, mantém, além de você, outras 24 pessoas, entre mulheres e homossexuais, no corredor da morte, a serem apedrejados até a morte. Por favor, se sabe, não se console com isso – chore por todos eles (as centenas humanas apedrejadas, e as próximas 24).
Não sei se você tem fé, Ashtiani – se tem, nem imagino teu ‘deus’ (Maomé, ou tenha o nome humano que tiver). Nem pediria pra você continuar acreditando, orando, com resignação. Se você me perguntasse por que o ‘teu deus’ (ainda) permite tamanha tirania, eu silenciaria, Ashtiani, por que nasci num Brasil, que, mesmo durante a ditadura, teve a maioria cantando amores e sonhos, em prantos que ninguém até hoje esqueceu. Esta é a nossa fé, Ashtiani, que você vai morrer, sem conhecer, simplesmente por que você nasceu numa terra onde brotam leis que desconheço, e bombas que matam amores e sonhos. Até abrigo no Brasil te foi negado, alma milhões de vezes apedrejada por seres humanos, como você, que falam o teu idioma, e colocam fim ao teu destino.
Acabei de saber que você não será mais assassinada por apedrejamento. Você será enforcada, Ashtiani. Isso muda tanto, né?... muda tudo (quanta ironia!)... o único detalhe é que a sentença continua a mesma: você será morta (em nome de quê mesmo?)...
Nara não tem muito que falar porque me emocionei. Gostei da carta, ela me tocou como mulher também; como já disse antes, você da vida ao que escreve e ao mesmo tempo, é muito dura e isso mexe com a nossa sensibilidade
ResponderExcluirBjs,
Iara