Se existe uma hora que é marcada com sangue é justamente na televisão, um dos produtos mais consumidos, em todo o Brasil. Afora o gasto com energia elétrica, tudo mais é ‘digrátis’. Cá entre nós, com exceção das novelas (brasileiras, mexicanas, venezuelanas, todas com “mocinhos”, “bandidos” e “pobres garotas indefesas”), o que mais prende o brasileiro, na frente de um aparelho de televisão? O futebol - está certo, mas só nas quartas-feiras e nos finais de semana, com algumas restrições ainda, pois o “time do coração” precisa estar em campo.
Diariamente, o que ‘pega’ a atenção dos telespectadores brasileiros é o sangue que jorra das tragédias mundiais (que planeta pra causar e sofrer violência, meu Deus!). Os ‘profissionais de televisão’, obviamente, servem o que chamam “filé”, em apresentações especiais. De um lado, é o Datena que grita, esbraveja, enquanto, de outro, o Ratinho (ele voltou!) chuta mesas e cadeiras, no palco. Sem falar nos “seguidores” deles, que não são poucos.
Dificilmente, eu fico diante da televisão, nesta hora marcada pelo sangue. Quando posso, observo os comentários a respeito, no dia seguinte. O que percebo é que a tragédia maior é o efeito que ‘programas de desgraça’ surtem em todos nós, cidadãos comuns. Principalmente, as mulheres relatam, emocionadas, as “notícias do dia”. Algumas se emocionam tanto, que chegam a chorar (chorar mesmo), enquanto outras roem as unhas. (O ‘sr. Ibope se agiganta.)
Fico imaginando uma família comum, brasileira – poucos recursos financeiros, culturais, nem um sonho. Início de noite, o ‘pai de família’ retorna, cansado, do trabalho. A mulher já encaminhou os filhos para o banho, depois da escola, e as duas crianças estudam, no chão da sala. No centro da estante, está a ‘poderosa’, a ‘imbatível’, a ‘sempre surpreendente’ televisão ligada – claro.
O homem chega à sala, e a mulher já avisa: “Você perdeu dois estupros e um acidente de carro com três mortes”. Ele lamenta, e silencia diante de mais tragédias. Os olhos do casal brilham, com tanto sangue. Quando o apresentador grita, as crianças correm para assistir. Pai e mãe estão ‘concentrados’ na desgraça alheia. A opinião emitida pelo apresentador é completamente absorvida pela família telespectadora, tanto, que os quatro chegam a repetir, sem se aperceberem disso.
Quando o programa acaba (finalmente!), a morte paira na família. Os quatro ficam, no primeiro momento, sem saber o que fazer. A mãe é que toma a iniciativa: troca de canal, obviamente, na tentativa de encontrar mais e mais desgraça. Às vezes, o pai é que tenta um ‘outro canal com noticiário’, sabendo que o que quer mesmo é mais sangue na ‘tela’. Os filhos permanecem na ‘torcida’, e sabem que, depois, podem guardar o material escolar, até o dia seguinte. Todos os dias é a mesma coisa.
Após algum tempo de insistência na troca dos (poucos) canais, num muxoxo, a mulher diz que “daqui a pouco, tem aquela novela da bonitona, que está grávida do bonitão casado, e depois tem um filme policial”. Os quatro saem da sala, mas retornam, pouco tempo depois, com seus pratos de comida. Agora, quatro bocas abertas, cheias de comida, se extasiam com a tragédia “inventada, que poderia ser real” – uma realidade que não é a deles, nem nossa.
O que cada telespectador vai pensar (ou não) a respeito do que assiste, as consequências disso tudo são inimagináveis. Nem quero me meter nisso, pois resultaria numa quilometragem filosófica, sem faixa de chegada.
O que teimo em pensar é que ‘profissionais sérios’ cuidam de tudo o que é exibido, em cada canal de televisão, no mundo inteiro. Parece que eles têm um alvo, que é justamente a família personagem da minha ‘estória’ ali de cima - a maioria das famílias brasileiras, infelizmente. Até os programas que não são sérios – também esses – são produzidos por ‘caras sérios’. Acredite. Sei que, às vezes, fica difícil crer, mas é sério.
O destino de cada “telespectador padrão” é mapeado, às vezes até com dias, semanas de antecedência. Os ‘caras sérios’ sabem quando o trabalhador assalariado volta para casa, a que horas a mulher chama as vizinhas para uma (ou várias) fofoca (s), na frente da televisão ligada, e o que mais atrai as crianças, os adolescentes. Os ‘caras sérios’ sabem tudo. Sabe por quê? Por que somos previsíveis e limitados, dentro de uma vidinha medíocre, e mais repetitiva do que imaginamos. Nem pensamos sobre isso.
A partir daí, qualquer lance é gol na certa. Os ‘caras sérios’ enchem a televisão de imagens que chocam profundamente (talvez, no intuito de mostrar que a vida dele (telespectador) é uma beleza, diante da desgraça alheia). E tem gente que até se detém, na frente da TV, em pesar e medir essas informações com a própria vida, senão consciente, inconscientemente. Ora bolas, não há miséria, ou desgraça, ou até felicidade que possa ser comparada. Cada um de nós sente e age diferentemente, diante de quaisquer circunstâncias.
E ainda tem apresentador, ao vivo (ainda vivo), que pergunta à pobre vítima: “Como você está se sentindo?” Se fosse eu a responder, diria: “Estou me sentindo uma fraude, como se estivesse mentindo sobre a minha própria desgraça, e vocês nem vão me pagar pelos pontos com o Sr. Ibope”.
Provavelmente, os ‘caras sérios da televisão’ apelariam ao “comercial, por favor”.
Diariamente, o que ‘pega’ a atenção dos telespectadores brasileiros é o sangue que jorra das tragédias mundiais (que planeta pra causar e sofrer violência, meu Deus!). Os ‘profissionais de televisão’, obviamente, servem o que chamam “filé”, em apresentações especiais. De um lado, é o Datena que grita, esbraveja, enquanto, de outro, o Ratinho (ele voltou!) chuta mesas e cadeiras, no palco. Sem falar nos “seguidores” deles, que não são poucos.
Dificilmente, eu fico diante da televisão, nesta hora marcada pelo sangue. Quando posso, observo os comentários a respeito, no dia seguinte. O que percebo é que a tragédia maior é o efeito que ‘programas de desgraça’ surtem em todos nós, cidadãos comuns. Principalmente, as mulheres relatam, emocionadas, as “notícias do dia”. Algumas se emocionam tanto, que chegam a chorar (chorar mesmo), enquanto outras roem as unhas. (O ‘sr. Ibope se agiganta.)
Fico imaginando uma família comum, brasileira – poucos recursos financeiros, culturais, nem um sonho. Início de noite, o ‘pai de família’ retorna, cansado, do trabalho. A mulher já encaminhou os filhos para o banho, depois da escola, e as duas crianças estudam, no chão da sala. No centro da estante, está a ‘poderosa’, a ‘imbatível’, a ‘sempre surpreendente’ televisão ligada – claro.
O homem chega à sala, e a mulher já avisa: “Você perdeu dois estupros e um acidente de carro com três mortes”. Ele lamenta, e silencia diante de mais tragédias. Os olhos do casal brilham, com tanto sangue. Quando o apresentador grita, as crianças correm para assistir. Pai e mãe estão ‘concentrados’ na desgraça alheia. A opinião emitida pelo apresentador é completamente absorvida pela família telespectadora, tanto, que os quatro chegam a repetir, sem se aperceberem disso.
Quando o programa acaba (finalmente!), a morte paira na família. Os quatro ficam, no primeiro momento, sem saber o que fazer. A mãe é que toma a iniciativa: troca de canal, obviamente, na tentativa de encontrar mais e mais desgraça. Às vezes, o pai é que tenta um ‘outro canal com noticiário’, sabendo que o que quer mesmo é mais sangue na ‘tela’. Os filhos permanecem na ‘torcida’, e sabem que, depois, podem guardar o material escolar, até o dia seguinte. Todos os dias é a mesma coisa.
Após algum tempo de insistência na troca dos (poucos) canais, num muxoxo, a mulher diz que “daqui a pouco, tem aquela novela da bonitona, que está grávida do bonitão casado, e depois tem um filme policial”. Os quatro saem da sala, mas retornam, pouco tempo depois, com seus pratos de comida. Agora, quatro bocas abertas, cheias de comida, se extasiam com a tragédia “inventada, que poderia ser real” – uma realidade que não é a deles, nem nossa.
O que cada telespectador vai pensar (ou não) a respeito do que assiste, as consequências disso tudo são inimagináveis. Nem quero me meter nisso, pois resultaria numa quilometragem filosófica, sem faixa de chegada.
O que teimo em pensar é que ‘profissionais sérios’ cuidam de tudo o que é exibido, em cada canal de televisão, no mundo inteiro. Parece que eles têm um alvo, que é justamente a família personagem da minha ‘estória’ ali de cima - a maioria das famílias brasileiras, infelizmente. Até os programas que não são sérios – também esses – são produzidos por ‘caras sérios’. Acredite. Sei que, às vezes, fica difícil crer, mas é sério.
O destino de cada “telespectador padrão” é mapeado, às vezes até com dias, semanas de antecedência. Os ‘caras sérios’ sabem quando o trabalhador assalariado volta para casa, a que horas a mulher chama as vizinhas para uma (ou várias) fofoca (s), na frente da televisão ligada, e o que mais atrai as crianças, os adolescentes. Os ‘caras sérios’ sabem tudo. Sabe por quê? Por que somos previsíveis e limitados, dentro de uma vidinha medíocre, e mais repetitiva do que imaginamos. Nem pensamos sobre isso.
A partir daí, qualquer lance é gol na certa. Os ‘caras sérios’ enchem a televisão de imagens que chocam profundamente (talvez, no intuito de mostrar que a vida dele (telespectador) é uma beleza, diante da desgraça alheia). E tem gente que até se detém, na frente da TV, em pesar e medir essas informações com a própria vida, senão consciente, inconscientemente. Ora bolas, não há miséria, ou desgraça, ou até felicidade que possa ser comparada. Cada um de nós sente e age diferentemente, diante de quaisquer circunstâncias.
E ainda tem apresentador, ao vivo (ainda vivo), que pergunta à pobre vítima: “Como você está se sentindo?” Se fosse eu a responder, diria: “Estou me sentindo uma fraude, como se estivesse mentindo sobre a minha própria desgraça, e vocês nem vão me pagar pelos pontos com o Sr. Ibope”.
Provavelmente, os ‘caras sérios da televisão’ apelariam ao “comercial, por favor”.
'A TV só existe pra te entreter, que é pra você não ver que o programado é você', como diria, Gabriel, o pensador.
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